Taehyung encara-me por longos minutos, o silêncio se torna ensurdecedor, sinto meus olhos arderem quando me lembro de Jimin, tão pequeno e feroz, correndo por todo o palácio sempre com V em seu encalço, bons tempos.
- Não achei que ainda estivesse aqui – digo, contrariando meus pensamentos de manter-me calada. V sorri com escárnio e se afasta de minha cama caminhando em direção as grandes persianas que trazem luz ao ambiente.
- Talvez eu não devesse lhe dizer isso, mas todos nós ainda estamos aqui – diz, parado de costas para mim. Em um salto impensado ponho-me de pé. Sinto as dores em meu abdômen e cabeça, mas as ignoro indo em direção a Taehyung, toco em seu braço o puxando e sou surpreendida ao sentir o mesmo jogando-me de encontro à parede.
Sinto sua perna entre as minhas e seu corpo colado no meu, minha cabeça volta a doer e sinto-me em um interminável ciclo onde todos me jogam de encontro a algo. V mantém uma de suas mãos segurando com força meu punho quase chegando a torcer o mesmo, enquanto a outra mantém minha cabeça presa contra a parede.
- O que quer dizer com todos? – indago-o, ignorando as dores musculares, afinal, elas não são nem a ponta do iceberg.
- Não volte a encostar-se a mim, você e sua mãe desgraçaram a todos nós, fomos todos sentenciados a uma vida que jamais escolheríamos – diz, soltando-me em seguida.
- Adoraria que pudesse parar de falar em códigos e me desse respostas de verdade – digo, virando-me para o mesmo. Seguro meu punho com delicadeza e faço movimentos circulares com o mesmo. V encara-me com o olhar perdido.
- Apenas saiba que se tivesse ficado e lutado suas próprias batalhas, todos teríamos uma vida melhor agora – diz seco.
- E eu estaria morta, assim como Jimin – digo, com a voz embargada.
Taehyun olha para o chão por alguns instantes, mantenho meu olhar firme sob o mesmo e assusto-me com o vazio que encontro em seus olhos quando o mesmo volta a encarar-me.
- Seria mais honrado que voltar como uma traidora. Jimin teria vergonha de você.
Engulo em seco e o vejo se virar caminhado até a saída, ele estende a mão para abrir a porta e torço para que o faça com rapidez, pois vê-lo apenas havia aberto velhas feridas.
- Saiba que todos já sabem da sua volta, assim como sabem em quais circunstâncias você partiu – diz olhando-me de relance – Ficaria surpresa ao descobrir que Nam-Joo não é o único com sede de vingança.
V sai deixando-me sozinha. Volto no tempo lembrando-me da minha ultima noite no castelo. Jeon havia drogado todos os guardas da ale Leste para que pudéssemos enfim ter uma noite tranquila, sem medo de sermos descobertos, apenas eu e ele, havíamos sido tolos e imaturos, mas quando estávamos juntos era assim que agíamos.
Com 15 anos não se espera muito, mas em se tratando de nos dois, filhos honrados que herdariam um imenso legado, qualquer suspiro errado já era o bastante para castigos e surras nunca antes vistas pelos olhos de meros civis.
Sabíamos as conseqüências caso fossemos achados, mas por ser quem éramos tínhamos uma dose extra de confiança. No mundo normal traições são vistas como algo normal, apesar de ninguém esperar, quando de fato ocorre nem sempre há tanto choque, no nosso mundo, traição era o caminho para a morte, não havia desculpas suficientes que poderia lhe manter vivo. Sabíamos disso, sabíamos de tudo, mas o desejo pelo perigo era maior, a adrenalina aumentava o tesão e tornava tudo tão mais interessante.
A principio pensei que não passava de loucuras de minha cabeça, eu estava treinando por horas, quase não dormia e havia mudado minha alimentação, eram raros os momentos em que eu era vista na biblioteca descansando, o centro de lutas havia se tornando minha primeira e ultima casa, mas nenhuma dessas e outras infinitas desculpas blindava meu cérebro de ver através das lentes de Jeon.
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Borders of Love
FanfictionSeis anos haviam se passado, e por breves instantes de loucura e insanidade completa eu havia pensado que nossos anos de fuga iriam se encerrar, porém o que dizem sobre uma única noite ter o poder de mudar toda sua vida é a mais pura verdade. Não es...