Borders of Love

Capítulo Nove: Velhos tempos

Quando Sook apareceu em minha porta na manhã seguinte ordenando que eu a seguisse não fiz menção de ir contra sua vontade, havia tido tempo o bastante para pensar e perceber que criar pequenos conflitos não me levaria há uma vitória, muito pelo contrario, apensa me atrasaria ainda mais em conseguir encontrar meu irmão e fugir das muralhas de Dung-Sun.

Desde meu encontro com V no jardins eu não havia voltado a ver ninguém, mesmo estando a maior parte do tempo confinada em meu quarto, eu havia estranhado a pequena trégua que se assentava sob a superfície.

Caminhando pelos extensos corredores do castelo os últimos encontros que havia vivido ali ganhavam forma e traziam-me ânsia pelo que ainda me esperava, por mais estúpido que fosse, eu gostava de pensar que em algum lugar daquele imenso mausoléu meu irmão ainda estava com vida apenas a minha espera, porém suas palavras ainda causavam-me completa confusão.

Quem estaria a minha procura? E porque eu não poderia confiar nele? Além do mais, quem era ele?

Tantas perguntas para tão pouco tempo e respostas. O surgimento de Jung, que agora havia voltado a ser apenas Jungkook, havia reaberto velhas memórias que ainda ardiam em meu peito como o fogo de seis anos atrás que havia destruído tudo e todos. Seu sorriso gelado nunca havia feito tanta falta quanto agora, qualquer sinal do antigo homem que ele era seria melhor do que esse imenso nada que ele aparentava ser agora.

Em meio a tudo isso, tentar encontrar uma forma de sair das muralhas e encontrar o endereço que minha mãe, de forma ardilosa havia enfiado em minha orelha tinha se transformado em minha ultima tarefa. Eu já havia abandonado Jimin e todos os demais uma vez, não podia dar-me ao luxo de repetir tal erro, não agora que eu tinha consciência de meus erros e falhas com aqueles que mais haviam me amado.

- Que silêncio, não sei se acho tão confortável quanto seu humor horrível – diz Sook olhando-me de soslaio. Mantenho minha postura rígida e reviro os olhos, como forma de apaziguar a situação.

A ultima coisa que eu poderia deixar acontecer era demonstrar a eles o quanto tudo me afetava, isso seria apenas o começo da minha ruína.

- Bem, não é como se você não estivesse prestes a ter tudo que sempre quis, ou melhor, sempre esteve destinada a ter – diz sorrindo de lado. Franzo o cenho e abro a boca para questioná-la, porém paro no instante em que a vejo abrindo as portas duplas de madeira que dá acesso à sala de treinamento.

Sook me da passagem para que eu entre primeiro e apenas a ideia de voltar a pisar na sala causa-me ansiedade, no entanto procuro manter minha expressão neutra enquanto passo pela mesma. Um passo de cada vez, digo a mim mesma enquanto encaro as longas janelas de vidro, as diversas cordas presas ao teto, os montantes de armas espalhadas por todos os cantos.

Paro em meio à sala sob o chão firme e manchado de sangue, respiro fundo e reconheço o cheiro de madeira e couro, tanto tempo havia passado, mas tão pouco havia mudado ali.

- Percebo que ainda se lembra de não usar os sapatos sob o acolchoado.

Não me viro para saber de quem se trata, pois os leves passos de Chul Mi há muito o haviam denunciado, contudo, sei que esse era o seu plano desde o principio, ele era um dos melhores soldados de meu pai, haviam se formado juntos na academia e eram melhores amigos, ao menos era isso que aqueles tempos dourados nos contava.

- Já faz algum tempo – digo, virando-me para o mesmo, ele mantém suas mãos cruzadas por detrás de seu corpo forte, seus olhos franzidos avaliam-me sem nunca deixar meu rosto, mas sei que ele é capaz de notar qualquer movimento que eu faça – mas eu jamais me esqueceria dos bons modos.

Ele sorri de lado, um dos tantos sorrisos frios que nunca chegam até seus olhos, e da alguns passos em minha direção, calculista e frio, eram os dois adjetivos que marcavam a existência de Chul Mi, pai de Jin.