!

24 0 0
                                    

Um mar de sombriedade me alcança, mas nem por isso, deixei de brilhar.

Em um dia qualquer, tudo pode se transformar ou apenas deixar levar, e será que há alguém de se importar?

Palavras depois de escritas não podem ser apagadas, mas podem ficar trancadas. 

Nesse exato momento algo poderia entrar por essa porta e me tirar desse estado alucinógeno, da própria imaginação. 

Eu não posso estar louca, será que eu estou mesmo escrevendo isso? 

No final da noite, não se sabe ao certo se acordei ou foi apenas um sonho. Tudo estava escuro e isso não significa que não enxergava nada. Eu vejo! As paredes escuras, que expressam uma alma censurada, os detalhes que tornam tudo um pouco mais meu. 

Começa a clarear, a luz está invasiva, mas mostra-me cada detalhe da escuridão, será que era o que eu enxergava antes? E se eu não quiser enxergar?

As palavras continuam trancadas. A porta não pode libertá-las. 

Mais uma noite chega, e nada muda, tudo está exatamente como a noite anterior. Deveria mudar algo. A parede continua ali, guardando sonhos. 

Pode até ser um pequeno espaço, mas não se compara a imensidão do que está guardado. 

Todo dia, é o mesmo sentimento monótono. A parede continua lá, e sempre vai continuar. 

Hoje ela me traz algo novo, uma nova perspectiva, ou uma nova esperança. 

Seria justo deixá-la agora? 

Este me trás segurança, conforto, mas eu não gostaria de estar aqui. É como se tudo o que acontecesse, ficasse preso em alguma parte de mim, não consigo me libertar, estou com falta de ar, nem ela pode me ajudar. 

Sentimentos passam a todo momento, a cada segundo é uma novidade, talvez devesse aproveitá-los. Mas isso não conforta o vazio que está aqui dentro.

Quando estou presa nessas paredes, eu vejo! Vejo o que mais me dá medo, a vida. 

Não deveria temê-la, deveria ser sua amiga. É bom estar vivo, mas já não me lembro como é sentir o viver. 

Há algum tempo, tudo parou de acontecer, ver e sentir. Mas se existe algo que eu possa mudar, quero que seja isto.

Não vale de nada, trazer belas palavras para quê nunca sejam lidas. E se for para trazer, quero que sejam sentidas. 

O vazio não pode ser preenchido, ainda. 

Deveria ir além das paredes. Buscar algo bom, que possa ser visto. 

Os sonhos sempre serão sonhos ambiciosos, podem ou não serem realizados, mas isso não cabe a mim. 

O sentimento não é o mesmo, cada vez está tudo mais distante, e eu não quero ir atrás. 

Eu morri. Sim. Há muito tempo. Foi em um dia chuvoso, estava tudo escuro assim como as paredes, mas dessa vez não teve nenhuma luz, nem expressão. Como eu morri. Não via mais nada, tudo que havia dentro de mim, se apagou. E eu não queria sentir, não mesmo. 

Do que adiantava sentir, sabendo que não valia de nada. Não me arrependo de morrer, foi uma escolha, deixei o que o vazio me consumisse. 

Antes de eu morrer, eu era como uma estrela, brilhava no céu, mesmo que estivesse nublado. Eu adorava. Mas logo começou o meu vício, a solidão. Decidi que não seria mais a mesma pessoa, decidi que buscava racionalizar cada momento seguinte. Logo, virei um cometa. Mas não por sua subestimação, mas sim, por quase não aparecer. Passavam meses, e não havia brilho. Duas ou três vezes, o brilho voltava, mas nunca foi duradouro. 

E foi assim que eu morri. Me entreguei a solidão, deixei o vazio me consumir, não impede que nada disso acontecesse, apenas sobrevivi.  Até que uma luz, bem fraca, quase insignificante apareceu na longa parede negra. Não sei o porque ela dela estar lá, mas foi bom vê-la. 

Ela me fez sentir, não sei o que, mas senti. Mesmo que fosse por um curto período de tempo. Mas senti. 

Em seguida, ela desapareceu, mas dessa vez, pelo menos dessa vez, fui procurá-la. Inútil. Ela simplesmente desapareceu. 

Eu desisti, mais uma vez. Só que agora, eu fiz amizade com a solidão. A solidão também pode trazer sentimentos. 

Não serão os mesmos, nem terão a mesma intensidade, mas poder sentir de novo, é incrível. 

Hoje, renasci. Abri a porta, a porta que trancava as palavras. Que mantinha os sentimentos avulsos na imensidão do vazio.

~Gerald.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 24, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Palavras que nunca foram ditas.Onde histórias criam vida. Descubra agora