Capítulo 14

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Heitor


O tempo em que passei com as meninas foi incrível, ver  a alegria voltando para a face da minha pequena princesa foi o mais reconfortante. Eu não queria que Liz ficasse com aquilo na cabeça e acho que deu certo, pois a danada brincou tanto que dormiu a volta toda, e por outro lado havia Mari, tão jovem e ao mesmo tempo tão guerreira. Ela era realmente a melhor base que Liz poderia ter ao seu lado. Cheguei ao prédio delas em pouco tempo, o trajeto da sorveteria até aqui era algo que tomava menos de dez minutos.

- Obrigada pelo passeio, pela carona e tudo. – Mari foi logo agradecendo, algo que não precisava.

- Quer ajuda aí? – perguntei, Mari iria ter dificuldade, mas eu sabia o quanto era orgulhosa e não iria aceitar ajuda assim, de bom grado. – Bom, quero dizer... Dessa vez não vou nem perguntar. Irei te ajudar. – falei e desliguei o carro.

- Não precisa Heitor. – como eu disse.

- Não tem discussão, Mari. – disse já saindo do carro e me encaminhando para a porta de trás para pegar Liz.
- Ainda acho sem necessidade.
- Aceitar ajuda não é sinônimo de fraqueza, Mari. 
- Ok, já entendi que você não vai desistir, só não repara a bagunça. – sorri e a segui para entrarmos no prédio. – Não temos elevador, mas a gente mora no segundo andar, se você quiser me passar a Liz... – ela disse e já estávamos no começo da escada.
- Eu não sou tão fraco assim, se você consegue carregar a Liz, eu também consigo, dona Mariana. – ela suspirou.
- Tudo bem vamos lá então. – subimos rápido, eu não era um cara sedentário e o que eram duas lances de escada para um cara do meu tamanho. – É aqui. – Mari abriu a porta do apartamento e entrei logo atrás dela.

- Onde coloco a Liz? – perguntei.
- Pode me passar ela que eu levo. – tentou pega-la e desviei.

- É só me dizer onde, Mari. – a menina era teimosa. A segui por um pequeno corredor, que dava para uma porta que eu imaginei ser o quarto.
- Pode colocar ela ai, ela dorme no meio da cama. – disse meio tímida. O que eu achei incrível, Mari com vergonha, não é nem de longe a menina que conheci há alguns dias atrás. Deixei a pequena em sua cama, que obviamente ela dividia com a irmã, e lhe dei um beijo na testa, logo em seguida lhe desejando uma boa noite.
- Boa noite príncipe Thor. – a pequena travessa disse bem baixinho que somente eu, que estava bem perto consegui escutar. Sorri, ela era verdadeiramente uma peça rara e esperta demais.

Mari estava na porta do quarto nos observando. Não quero nem imaginar se ela descobrir que a pequena travessa da sua irmã fingiu o tempo todo  o sono, ela ficaria uma fera, era melhor eu ir embora logo.

- Obrigada novamente, Heitor.  Te demos trabalho o suficiente por hoje.
- Não foi trabalho, eu me senti muito bem com vocês hoje e queria tirar o que aconteceu do foco da Liz. – assentiu e começou a caminhar de volta para sua sala. O apartamento era pequeno, mas bonito e bem arrumado, com coisas simples, mas ali parecia mais uma casa de família do que a mansão dos meus pais, ele continha amor de verdade.
- A Liz é forte, amanhã ela não vai dar tanta importância para isso, ainda mais agora que a vaca da Helen não vai mais estar lá. – ri quando ela falou com desdém da Helen.
- Eu espero que sim, Mari. Mas eu preciso falar uma coisa, que eu não consegui falar com a Liz hoje. – disse e vi sua testa enrugar.
- Diga.
- Eu terei que diminuir as minhas idas a ONG, o meu chefe me escalou para mais dias, e eu realmente não queria ficar longe dela. 
- Ah, poxa, Heitor. Que pena, eu imagino o quanto será difícil se afastar das crianças, a Liz vai ficar com saudades de você. Eu vou conversar com ela para que entenda que você precisa trabalhar. – cruzou os braços e me olhou com pesar. Confesso que me senti mal em mentir para ela, mas tecnicamente não era mentira, eu iria mesmo trabalhar mais, a empresa ia precisar que eu estivesse lá para implantar o que estava planejando para  os novos talentos.
- Eu não queria ficar longe dela, sabe? – respirei fundo. Talvez ela me ache louco pela idéia que tive agora, mas não custava nada tentar. – Eu queria poder vir jantar com ela a noite, algumas vezes.
- Jantar? – a senti meio incrédula.
- Sim, eu sei que parece meio louco, mas, eu realmente não vou poder me dedicar muito a ONG, e a Liz já está acostumada comigo tanto quanto estou com ela... – Mari levantou a mão e me calei para que ela falasse também.
- Eu realmente não sei Heitor. Talvez seja muito louco você vir jantar aqui sempre, eu preciso pensar ok? Sempre foi somente eu e a Liz, desde que ficamos sozinhas, então é meio difícil dividi-la assim, sendo sincera Heitor. 
- Pelo menos você vai pensar, não negou logo. – dei meio sorriso.
- É um começo.
- Sim, eu vou deixar o meu numero com você e então você me diz, tudo bem? – ela assentiu. – Bom, acho que está na minha hora, me leva até a porta? 
- Sim, claro. – ela se adiantou e abriu a porta para que eu saísse. – Minha mão dizia que quando a gente abre a porta para outra sair, é por que desejamos que ela volte sempre. – ela deu um pequeno sorriso e eu me perdi nessa Mari mais aberta e menos agressiva.
- Bom, eu estou tentando, só falta a dona da casa deixar. – sorri para uma Mari de bochechas avermelhadas. – Eu vou nessa, qualquer coisa você me liga. – lembrei que não havia dado o meu número a ela, e lhe entreguei o meu celular. – Grave o seu numero ai, por favor, Mari. – ela pegou o aparelho meio relutante, mas colocou o numero rapidamente e me entregou.
- Está ai! 
- Obrigada, tchau Mari, e obrigada pelos momentos com a Liz. – me inclinei para lhe dar um beijo no rosto, mas ela virou ao mesmo tempo, o que resultou em um beijo na trave, bem no canto de sua boca. Esse pequeno toque me deixou incrivelmente arrepiado.
-Tchau, Heitor. – sussurrou. – Até logo. – correndo, eu diria, ela entrou e trancou a porta do apartamento.

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