Aquele da primeira vista

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13 de dezembro de 2082, Costa Rica, 3:40 pm

Abá não sabia se já tinha se sentido tão aliviada por ouvir alguém chorar em sua vida, mas assim que o médico ergueu aquele serzinho sujo e confuso ao mundo, ela relaxou todos os músculos de seu corpo de imediato. Toda a dor de horas e horas de esforço, e o suor, e as lágrimas, tudo desapareceu num instante. No momento do choro dela. Agora, era só o que importava.

- Parabéns, mamãe! - a médica se aproxima da mulher com aquele bebê ainda gritando em mãos, coberto de sangue e tudo mais, mas era a coisa mais linda aos olhos de Abá - Uma menininha saudável e chorona.

Ela nem conseguiu falar nada, ainda em êxtase e arfando de cansaço, mas pegou a menina nos braços com ajuda da médica. Só então reparou que ainda esmagava a mão do marido, então a soltou também, para o alívio deste. Mas o homem nem parecia ligar, sorrindo de orelha a orelha ao olhar a filha também.

- Acabou, amor, acabou. - Guilherme a garantia acariciando seu rosto com afeto, seus olhos castanhos e molhados ainda estavam meio desesperados, mas não deixavam de trazer paz à mulher.

Abá apenas conseguiu assentir com a cabeça, ainda olhando o pequeno milagre em seu colo.

- Ei, Jéssica, meu bem. Bem vinda... - a mulher sussurra segurando aquela mãozinha que tinha a mesma marca de nascença que ela no topo.

A menina foi se acalmando lentamente com seu toque e enquanto se acostumava a respirar o novo ar. Os olhares dos pais não podiam sequer ser gravados em câmeras de tanta felicidade que havia ali.
Então, a pequena e confusa Jéssica passa a mãozinha livre pelo rosto sem muito cuidado e tenta abrir os olhos pela primeira vez. Porém, assim que o faz, algo claramente a incomoda, pois a bebê volta a chorar alto.

- O-o que está havendo? - Guilherme olha para os médicos, aterrorizado de repente.

- Com licença, senhora. - a médica chega perto com clara pressa e pega a menina novamente, uma expressão confusa que não ajudou a acalmar os pais.

- Doutora, ela está bem, ela chorou, certo? - Abá disse em tom de questionamento, mas era mais uma afirmação desesperada por confirmação.

Uma coisa sobre médicos que todo pai odeia: eles não dizem o que está acontecendo. Por não saberem, por não terem certeza, para não preocupar... Não importa o motivo, não ameniza o bolo na garganta de uma família preocupada.

- Um segundo, pais. - a mulher de jaleco simplesmente estava focada demais na menina para olhar os dois e vai para uma outra sala rapidamente com a bebê ainda chorando.

- Não, doutora! - dessa vez, Abá praticamente gritou e se apoiou em ambos os braços para se sentar na cama.

- Abá, ela está cuidando del... - Guilherme tenta acalmar a mulher apesar de seu próprio medo.

- Não, eu quero saber o que está acontecendo! - ela insiste e começa a fazer menção de se levantar.

- Amor, você acabou de...

- Eu posso ir lá, não sou uma inválida! Se não vão me dizer nada...

- Senhora, você tem que descansar. - um dos enfermeiros tenta impedi-la, tocando seu ombro. Mas mexer com uma mãe irritada não é a melhor ideia que se pode ter.

- Descanso quando estiver morta, agora saia. - ela exige o empurrando com um pouco mais de força que o necessário e então seu marido resolve intervir.

- Abá, chega disso, eles logo estão voltando com a Jes, ok? - Guilherme vai ao seu lado e coloca uma mão carinhosa em sua cintura, a voltando para cama com dificuldade - Vamos confiar neles.

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