"Corra, corra, corra. Estava alcançando a velocidade máxima que meu corpo podia aguentar, havia algo em minha procura dentro de um densa floresta úmida. Meus pés por pouco não tropeçavam entre si, meus pulmões se tornavam bexigas maiores e maiores a cada segundo.
- Ajuda, por favor!
Ninguém me ouvia, é como minha voz não existisse: eu estava muda e assustada. Quando olhei para trás para ver se a sombra preta permanecia em minha busca comecei a sentir como se não houvesse mais chão. Estranhamente tudo havia sumido, porém, uma dor insuportável tomava conta das minhas costas. Elas sangravam."
- E foi isso?
Papai vestia um roupão branco já amarelado de tanto uso, caminhava da bancada da cozinha até a mesa mexendo em sua agenda. Ele normalmente gosta de ouvir os meus sonhos e pesadelos, eu admiro tal ato, mas acho peculiarmente estranho. É como se fosse uma checagem do que se passa em minha cabeça.
- Sim. Apenas isso. Apenas isso e sempre isso.
No que suspiro angustiada, mamãe já me aparece com suas roupas esportivas para se exercitar logo às 9 horas da manhã. Como ela consegue?
- Apenas o que meu bem?
- Os mesmos sonhos, mamãe.
Ela me abraça e me embala bruscamente soltando um gemido de pena:
- Bom, vou dar a minha corrida matinal, talvez hoje não passe na frente da casa dos Brown, da última vez descobri uma nova rota.
Ela sorri empolgada e se encaminha até papai para se despedir e depois me da um abraço, enquanto ia para a porta suas chaves de casa iam fazendo barulho. Me escoro de costas na ilha da cozinha e coloco as mãos em sua borda, momentaneamente fico encarando o cenário de outono que havia no exterior da casa. Papai sentado em uma cadeira olha para mim mas sem mover sua cabeça, a qual apontava para sua agenda.
- Planos para hoje?
- Não sei.
- Estava pensando em dar uma passada no centro da cidade, preciso comprar algumas coisas pra casa, talvez um espelho para o banheiro. Quer ir junto?
Percebi que havia nada interessante para se fazer então afirmei sorrindo fracamente:
- Por que não?
Odiava os domingos, ainda mais numa estação como o outono, sensação era de que tudo se arrastava e o tempo não passava. De qualquer modo, subi as escadas lentamente e fui para meu quarto tirar o pijama. Me olhei no espelho do armário e cheguei a uma única conclusão, nunca se virá um ser mais feio que eu. Cara de quem ta sempre insatisfeita com tudo e cansada, eu só queria que tudo mudasse, inclusive meu corpo físico. Pensei comigo mesma "Amzta! Ninguém se importa com a tua aparência, para que se importa tanto?". Concordei com a minha "eu" interior e fui escovar os dentes. Quando estava chegando ao banheiro comecei a sentir uma pressão interior intensa, logo, em questão de segundo me encontrava ajoelhada no chão: uma dor insuportável martelava minhas costas e esmagava meus pulmões. Era a mesma maldita dor do sonho, e como consequência me abracei o mais forte possível para ver se aliviava, mas era muito forte, eu contraía meus dentes uns contra os outros. Meu pai ouviu do andar inferior e gritou o que estava acontecendo, um silêncio de 5 segundos tomou conta do ar, mas logo tudo voltou ao normal e respondi:
-Nada! Eu tropecei, foi apenas um tropeço.
Mesmo sem receber uma resposta consegui sentir a metros de distância a desconfiança de meu pai. Segui em frente e sentei no vaso para respirar, tudo ainda girava.
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ANGELIC
FantasyAmzta tem sonhos repetitivos todas as noites, seus pais parecem saber do que se trata. Existe algum segredo guardado?