um universo no seus olhos

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Claro que vivi um amor, com a garota mais simpática e aleatória da roda de amigos, a filha
que ajudava a todos e com toda certeza a mulher mais linda e inteligente que eu vi na vida.
Nós conhecemos na faculdade, eu era um tanto tímida, quase não falava com as pessoas,
já ela tinha alguns amigos bem próximos.
Estava em um canto da biblioteca lendo um livro sobre mitologia, quando ela se aproximou
e perguntou:
“Desculpe o incômodo, mas eu queria saber o título do livro?”
“Se chama Heróis do Olimpo” respondi fitando suas sardas que a deixavam com um ar fofo.
Ela me direcionou um lindo sorriso e se sentou ao meu lado,pois de acordo com ela, aquela
série de livros eram um dos seus amores.
Ficamos horas conversando sobre o livro, sobre outras coisas e aquela conversa foi a
primeira de incontáveis horas fazendo coisas juntas.
O tempo passou,e quando notei aquelas sardas se tornaram um céu estrelado, aquelas
covinhas a mais pura fofura, e aqueles olhos castanhos quase preto, o ponto central do meu
universo.
Tomei coragem em uma de nossas noites de sábado maratona do séries e roubei um beijo,
mesmo que depois tenha me enfurnado no quarto por conta da vergonha.
Ela simplesmente esperou, e quando saiu me deu um dos melhores beijos da minha vida,
sorriu e simplesmente perguntou “por que você fugiu sem ao menos saber se eu queria
aquilo?”
Aquela resposta não foi dada, pois nem eu sabia o motivo de ter corrido.
O tempo passou, ela me pediu em namoro em uma terça, me levou a livraria e entre um
livro que ela havia me entregado estava um belo par de alianças, fiquei muito nervosa, mas
aceitei, dali para a frente muita coisa ia mudar.
Os anos passaram, com eles viagens, hobbies, felicidade, mas também houve brigas,
incertezas, medo.
E foram nessas diferenças que eu descobri que não conseguiria ficar muito tempo sem ter
aquela garota ao meu lado definitivamente.
A levei a praia, e sobre a luz da lua a pedi em casamento, que foi respondido com “se você
não tivesse pedido eu iria fazer isso” com olhos lacrimejados e uma noite esplêndida com a
trilha sonora das ondas.
Os preparos foram feitos, os vestidos foram comprados separadamente, os convidados, as
flores, a casa, definitivamente tudo aquilo era maravilhoso.
No dia eu estava muito nervosa, era começo da primavera, passei o dia sem vê-la, pois
segundo minha mãe, dá azar.
Estava em um vestido branco com renda e detalhes em um azul tão claro que se camuflava
entre o branco.
Ao chegar no local, esperei.
Esperei.
Esperei mais um pouco.
E ela não veio.
Me senti no inferno, mas se eu achava ruim, de uma hora para outra piorou.
O irmão dela, que estava com ela apareceu todo ensanguentado dizendo:
-minha maninha, a gente estava vindo, o carro foi fechado, atiraram na maninha- repetia em
prantos.
Definitivamente meu mundo caiu, sai correndo não me importando se estava de salto ou
vestido longo, precisava vê-la, precisava do meu amor vivo.
Encontrei o carro todo perfurado por balas, os policiais tinham acabado de chegar, olhei no
banco traseiro e ali me perdi de mim mesma.
Ela estava linda, definitivamente a noiva mais radiante, mas seu vestido agora estava
coberto de vermelho, os olhos que eram meu universo estavam vazios, meu amor estava
morto.
Chorei, como nunca havia chorado antes, não consegui comer, perdi a capacidade de
dormir por meses, e mesmo depois deles,eu ainda estava perdida.
Não havia caminho de volta, não havia outra escolha.
Em uma sexta de inverno, subi até o último andar do edifício onde iríamos morar, nada mais
importava.
Me sentei na beirada, aquela que sempre ouvi para ficar longe ou eu poderia me
desequilibrar e pulei.
Pulei com a certeza de que eu iria encontrar ela, que mesmo depois de brigar comigo por
fazer isso, me perdoaria e continuaria a me amar.
-eu te amo- essas foram as últimas palavras de disse antes de fechar os olhos e sentir o
impacto no chão.

amorOnde histórias criam vida. Descubra agora