Erick criança.
Oito anos atras...
Meu pai estava se arrumando lá no quarto de cima para ir numa tal festa, minha mãe assistia novela na televisão da sala, enquanto eu desenhava e pintava em um caderno sentado numa escrivaninha no meu quarto,era um desenho com linhas tortas que eu tentava representar nós três como uma linda família, todos juntos e felizes, mas fora do papel a realidade era bem diferente e piorou muito depois que papai perdeu quase todo seu dinheiro. Desci até a sala com o meu desenho e mostrei o caderno pra minha mãe.
-Olha mamãe, o que eu fiz. -Digo muito entusiasmado para ela.
-Que lindo filho, porque não mostra pro seu pai. -Ela diz com um sorriso.
-Olha pai, mamãe disse que meu desenho tá bonito, você acha que ele tá bonito também? -Digo mostrando o caderno para ele, aproveitando que o encontrei descendo as escadas.
-Mas o que é isso? -Ele falou alto e bravo.
-Somos nós papai. -Digo a ele.
-Não estou falando disso. -Ele diz pegando o caderno da minha mão e jogando sobre uma mesinha. -Estou falando de porque vocês ainda não estão prontos. -Ele continuou.
-Por que a gente não vai nessa festa. -Minha mamãe afirma.
-Como assim a gente não vai a essa festa? Pois tratem de se arrumarem em 20 minutos.
-Você não percebeu que estamos falidos, não pertencemos mais ao mundo dessa gente.
-Vamos sim juntos como uma linda e feliz família, vão se arrumar agora, devemos manter as aparências sempre.
Minha mãe não respondeu mais nada a ele só por alguns segundos, me pegou pela mão me levando para cima.
-Vamos filho, ficar lindos para fingir que ainda temos alguns tostões no bolso. -Ela disse sem olhar pra meu pai.
Nos arrumamos e nós entramos no carro, seguindo em silêncio pelo caminho todo, ninguém pronunciava nenhuma palavra, chegando lá havia muita gente, umas senhoras que usavam muita maquiagem e colares grandes, algumas mulheres com idade parecida como da minha mãe, uns homens que só sabiam falar de dinheiro e números, nenhuma criança da minha idade para conversar, e umas comidas estranhas que acho que ninguém gosta de verdade, acho que eles só comem porque alguém lhe disse que é chique, as primeiras horas foram um tédio, uma festa daquela sem nada legal pra fazer, sem ninguém realmente interessante pra brincar, até que bem lá no fundo do salão, eu vi alguém com minha idade, ela tinha cara de metidinha filha de madame, mas voltei na minha ideia, quando vi ela fazendo careta quando um garçom lhe oferecia algo da bandeja, essa é das minhas, pensei, vou me aproximar, ela gostava de cachorro quente como eu, sim, sim, ela é das minhas, ah não, minha mãe me chamou pra ir embora, agora que ia ficar legal a festa,nem consegui falar com ela direito, nem perguntei o nome dela.
-Cade o pai, ele não vai embora também? -Perguntei, vendo que somente nós estávamos no carro.
-Não meu filho, seu pai depois vai de táxi, sei-lá. -Ela diz passando os dedos sobre os olhos limpando o borrado.
-Tudo bem mamãe? -Perguntei pra ela que estava com cara de choro.
-Sim filho,oh droga...a chave, Erick por favor vai pegar a chave com o seu pai pra mim. -Ela me pediu.
Então desci do carro, e fui procurar onde meu pai estava, mas não o achei, eu só vi a menininha do cachorro quente, ela estava diferente agora com uma tinta vermelha na boca e uns colares de bolinha branca no pescoço, ela parecia pedir algo pra mãe dela, mas a mãe dela estava ignorando, ela parecia muito triste, as duas saíram de onde estavam e entraram por uma porta e fui atrás delas bem de mansinho sem elas perceberem, a mãe dela dizia coisas feias pra ela, e deu um tapa na cara da garotinha, que passou com tanta pressa e chorando pelo corredor que nem percebeu que estava espionando na porta, eu queria ter batido na mãe dela por isso, como ela pode fazer isso com a própria filhinha? Mas acho que alguém já ia fazer isso, pois um garotinho, acho que era o irmão dela, não tenho certeza, lhe deu um bom empurrão, bem feito, mas acho que ela ia castigar ele pois o puxou pro fim do corredor e aproveitando a distração entrei por uma porta aberta que fica de frente de onde eu estava, era isso ou meu pai me pegar no fraga, espionando a briga dos outros, pois o vi chegando perto, quando entrei, parecia um escritório com uma mesa de madeira, livros, muitos livros, mas o mais importante um armário que me caberia pra eu poder me esconder,sim, alguém mexia na maçaneta, essa não, eu seria pego.
-Tem certeza de que seu marido não vai nos descobrir aqui?-Ouvi a voz do meu pai.
-Ele ta ocupado demais, até se despedir de todos na festa, da tempo de ir ao inferno e voltar. -Ouvi a voz daquela mulher que bateu na filha.
Eu abri bem pouquinho a porta do armário, pra que não me vissem, não entendo porque meu pai estava beijando o pescoço daquela moça, e com a mãos no seios dela, ele não fazia isso com a mamãe, pelo menos eu nunca vi, porque ela tava tirando as roupas, porque ele ta abaixando as calças dele, ele a colocou em cima da mesa, ela parecia que estava sentido muita dor, será que meu pai tava machucando a moça? Eles ficaram fazendo isso bastante tempo, até que colocaram a roupa e vi meu pai saindo, primeiro alguns minutos depois a mulher saiu e eu ia sair também, minha mãe estava me esperando com a chave, daqui a pouco ela ia vim atras de mim, mas parei quando percebi que ela estava perto da porta ainda e ouvi a voz de um homem, mas agora não era do meu pai.
-Ei o que esta fazendo no meu escritório?-Ele perguntou.
- Pegando um livro que esqueci aqui outro dia.-Ouvi a moça dizer.
- Livro agora?Para quê? -O homem pergunta.
-Nada demais amor, ah...e você precisa dar um castigo a seu filho.
-Porquê? O que ele fez?
-Ele foi muito mal educado e me deu um empurrão.
-Ah é? Pois ele vai aprender uma lição agora.
Era minha oportunidade de sair dali, quando vi que os dois estavam indo pra o fundo do corredor, eu ia saindo, mas vi uma mulher de uniforme vindo e corri para o outro quarto que ficava uma duas porta depois da onde eu estava, abri bem devagar, estava escuro, mas pela luz que entrava pela janela vi que havia alguém na cama virado de costa em baixo da coberta, ela chorava muito, acho que era a garotinha que apanhou da mãe, e agora? Ela não podia me ver, mas eu também não podia sair, então me agachei e entrei debaixo da cama, ainda bem que era alta.
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O edifício
Misteri / ThrillerLira Symons e seu irmão Lorenzo são filhos de pais extremamente ricos, mas como dinheiro não traz felicidade, nem tudo é mar de rosas nessa família, e quando eles crescem não fica muito diferente de quando eram crianças. Um acidente faz com que su...