7 - Fabiana

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– Tá, então me conta qual é a do seu cunhado. – Teresa falou com a cara fechada.

– Ah, sei lá, ele estava me provocando, acho que ele estava pensando que o meu relacionamento com o Danilo não era sério.

– Que bobagem, qualquer idiota que ver vocês dois juntos, vai perceber que é eterno amor.

– Bom, agora ele sabe.

– Mas você chegou a comentar alguma coisa com o Danilo?

– Claro que não. Desnecessário, pois só criaria um clima estranho e eu não quero ser a cunhada causadora de problemas, prefiro ser a nora querida, não a que causa discórdia.

– Mas o cara beijar seu ombro foi atrevimento demais.

– Já passou, Teresa. Agora está tudo bem e os dois a essa hora devem estar pra lá de bêbados.

Era bom estar em casa com os meus, embora eu sentisse muita saudade do meu namorado. Estávamos tão grudados que as coisas não faziam muito sentido sem ele por perto.

Ficamos todos na sala fazendo maratona de Mad Men. Eu estava quase cochilando quando meu telefone tocou. Era Danilo e eu atendi sorrindo.

– Oi, amor.

– Oi, linda, estamos passando aí para te buscar.

– Como assim? Me buscar para quê? E a noite dos garotos?

– Foi ótima, mas não acabou muito tarde. O Daniel me convenceu a te convencer a voltar para casa com a gente.

– Convenceu, é?

– Sim. Estamos a caminho da sua casa.

– Está bem, eu estou de pijamas e não pretendo trocar de roupa. – Comentei realmente morta de preguiça de me arrumar só para entrar no carro e ir para o apartamento dele.

– Não se preocupe, amor. O meu irmão nem vai perceber.

– Como você tem tanta certeza?

– Porque eu acho que ele está mais bêbado do que eu.

E Danilo parecia mesmo um pouco alterado.

– Está bem, estou vendo que terei que cuidar dos dois.

Meia hora depois da chamada, o carro estacionou em frente à minha casa. Corri e entrei na parte de trás onde estavam os dois. Cumprimentei o motorista que parecia se divertir com os dois irmãos. Daniel estava contemplativo olhando pela janela, enquanto meu namorado parecia ainda mais carinhoso do que o de costume.

– Eu te amo. – Ele falou e deitou a cabeça em meu ombro.

– Também te amo.

Chegamos no prédio deles e me senti uma professora guiando uma excursão. Era engraçado que os dois eram tão bonitos, tão parecidos, mas ao mesmo tempo eram tão diferentes.

Daniel estava quieto e não disse uma palavra sequer desde que eu entrei no carro. Preparei um café para ele e quando fui até a sala para entregar, ele estava encostado com os olhos fechados.

– Daniel? – Perguntei baixinho e ele abriu os olhos. – Fiz um café para você. Não sei que mistura que você fez, mas você me parece um pouco mal.

Ele me encarou por um longo instante, depois balançou a cabeça em negativa.

– Você já sentiu tanta inveja a ponto de sentir dor? – Ele perguntou e eu sorri.

– Não, na verdade nunca tive muitos motivos para invejar. Tenho tantas coisas maravilhosas. Minha família, meu trabalho, meus amigos, o seu irmão.

Ele sorriu, um riso sem graça.

– Eu tenho inveja do meu irmão de vinte anos. Dá para imaginar uma coisa dessas?

– Isso tudo só por que ele é mais novo? Com certeza você teve coisas maravilhosas quando tinha a idade dele.

– Mas ele tem algo que eu não posso ter. – Ele falou e segurou minha mão.

– Daniel, você está bêbado. – Falei tentando conter o nervoso que me tomou.

– Quem me dera ficar bêbado e parar de desejar o que não é meu.

– Não diga bobagens, tome este café e vá para o seu quarto descansar.

– Fica aqui comigo, só um pouquinho. – Ele pediu segurando minha mão. Olhei para todos os lados a procura de Danilo, mas eu sabia que ele já estava no quarto dele e que certamente já estava no oitavo sono. Respirei fundo e me sentei ao seu lado.

Observei como ele parecia triste ao tomar seu café quente e amargo. Me doeu o coração, alguma coisa estava errada, pois alguém que conseguiu chegar onde ele chegou não devia sair por aí sentindo inveja dos outros.

– O que há de errado com você? – Perguntei me sentindo sensibilizada.

– Acho que eu nunca amei ninguém antes, talvez eu nem saiba o que é amar de verdade.

– Não diga uma coisa dessas, o amor acontece quando a gente menos espera. De repente ele pode aparecer na forma de algo que você jamais imaginou antes.

– Pode até não ser amor, mas tem algo que me tira o sono, e com certeza não se parece em nada com algo que eu goste.

Sorri e tentei puxar minha mão de seu leve aperto.

– Fica aqui, por favor. – Ele implorou e eu mantive minha mão no lugar.

Esperei pacientemente até que ele tomasse todo o café e me entregasse a xícara.

– Queria que alguém cuidasse assim de mim. – Ele desabafou.

– Talvez você só esteja andando com as pessoas erradas, seus pais e seu irmão querem cuidar de você.

– Não, não é disso que eu estou falando, estou falando que eu quero alguém igual a você. – Ele segurou minha mão e a levou até seu rosto e distribuiu vários beijos carinhosos me fazendo ficar completamente rígida.

– Daniel, por favor, isso não tem graça. – Falei sentindo o nó na garganta se formar.

– Você tem a pele tão delicada, e o seu cheiro é tão bom. – Daniel falou mais para si mesmo. – Eu quero você. – Ele apoiou a testa sobre minha mão e respirou profundamente.

Puxei minha mão e esfreguei o ponto onde ele beijou.

– É melhor você ir para o seu quarto, Daniel. Isso já está passando dos limites.

Ele coçou os olhos e se levantou.

– Me perdoe, Fabiana, acho que eu exagerei. Me desculpe, eu não queria te deixar embaraçada.

Fiquei parada esperando-o se afastar e seguir cambaleante para seu quarto.

Como o diabo foge da cruz, eu fugi para o quarto de Danilo. Me enrosquei no corpo dele buscando sua proteção. Meu namorado me abraçou e eu me senti melhor. Daniel estava começando a me assustar. Tentei dormir, mas demorei muito, comecei a suspeitar que as coisas com o meu futuro cunhado seriam sempre estranhas.

Despertei pela manhã com o meu namorado me abraçando e beijando meu pescoço.

– Bom dia, amor, senti saudade.

– Você estava tão bêbado assim? – Brinquei e me virei para olhar seu lindo rosto. – Eu te amo tanto.

– Também te amo, linda. Não vejo a hora de estar com você todos os dias. – Danilo me beijou e se colocou sobre mim. – Preciso matar essa saudade.

– Não, amor. Seu irmão está em casa.

– A gente faz bem silencioso. Eu não vou aguentar passar o dia sem tocar em você como eu gosto de tocar.

Acariciei seus cabelos rebeldes.

– Você é tão lindo.

E com aquele sorriso que ele me deu, não tive como dizer não.

O IrmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora