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 Eu sempre fui gorda, havia sido uma criança gorda, uma adolescente gorda e certamente seria uma velhinha gorducha, que bebe chá e assa bolinhos.

E apesar de ter escutado todo o tipo de coisa sobre meu peso, desde de o clássico " você tem um rosto tao bonito por que não emagrece? Até xingamentos como "rolha de poço", eu realmente não me sentia menos atraente que as garotas magras ou as musas fitness, eu apenas tinha minha própria beleza, que eu sabia seria apreciada pela pessoa certa, no tempo certo.

Podia ser brega e antiquado, mas eu estava esperando meu "príncipe encantado", não esperava que ele viesse num cavalo branco e usando uma armadura dourada, ou que tivesse um castelo, eu o idealizava menos encantado, mais humano, mas não tanto.

ele deveria ser bem-humorado, humor era imprescindível, educado, gostar de ler tanto quanto eu, pra que recomendássemos livros um para o outro, não ter nenhum tipo de preconceito, gentil, me dar flores as vezes, sempre desejei receber flores, ser independente, e gostar de game o trones.

ok, era uma lista um pouquinho longa, mas completa.

e eu sabia que essa cara incrível que me amaria exatamente como sou existia, ele estava por aí, também esperando por mim, e na hora certa nossos destinos se cruzariam e viveríamos a mais linda história de amor.

bem, eu só esperava que ele não demorasse muito mais, porque o tempo era implacável.

refleti enquanto assoprava as velinhas que marcavam meu trigésimo aniversario.

uma salava de palmas ecoou e sorri olhando ao redor, a sala da casa de meus pais estava cheia de parentes, alguns que eu não via a algum tempo e de meus amigos.

todos me deram felicitações, cortei i bolo, ofereci o primeiro pedaço para meu pai e depois todos se distraíram com a infinidade de salgados e doces que minha mãe preparara.

minha mãe era dona da padaria mais famosa da pequena e pacata Alvorada, cidade do interior de minas gerais, todos a adoravam, assim como a meu pai, eu tinha mais duas irmãs mais jovens, ambas casadas e um irmão mais velho, que também era casado, talvez isso explicasse o desespero da minha mãe com minha vida amorosa.

Ela não perdia nenhuma oportunidade de me apontar algum sorteiro da cidade ou me apresentar algum viúvo com uma penca de filhos a procura de uma esposa que o "ajudasse"

e apoiasse.

Na verdade, era o que ela fazia nesse exato momento;

- A Ana também cozinha muito bem, ensinei tudo pra ela.

observei o olhar satisfeito do homem ao ouvir que eu cozinhava, ele estava com um prato cheio de doces da festa e acabara de elogiar a comida da minha mãe.

seu nome era Jorge, tinha um pequeno armazém, segundo ele muito rentável, era divorciado e tinha cinco filhos que moravam com ele.

-Uma mulher que sabe cozinhar hoje em dia é raro, com essa história de feminismo, deturpando tudo.

Não consegui não revirar os olhos, minha mãe percebeu e me deu uma discreta cotovelada.

- Você trabalha Ana? ele perguntou sem notar meu gesto.

-Sim, no jornal local.

Ele colocou um quase um cachorro quente inteiro na boca e falou com a boca ainda meio cheia.

-E nunca pensou em parar de trabalhar e só ser dona de casa?

Eu não via nenhum problema em ser apenas dona de casa, mas nunca desejara isso para mim, era muito agitada e gostava muito da minha profissão, era redatora do jornal local e amava o que fazia.

Jorge não esperou minha resposta.

-Toda mulher quer um lar estável e um bom marido -eu continuo- e todo homem de família precisa de uma companheira, eu não sou exceção e tenho cinco crianças então uma figura feminina é necessário, alguém pra ensinar valores pra eles, pra cozinhar, manter a casa limpa, as vezes me ajudar no armazém.

fiquei perplexa vendo minha mãe concordar com ele, ela realmente achava que eu seria essa pessoa.

- Quer uma esposa ou uma empregada Jorge?

as palavras deixaram minha boca antes que as pudesse conter, o homem me olhou confuso e minha mãe me fuzilou com o olhar, eu realmente amava minha mãe, mas essa obsessão em me arranjar um marido estava sem limites.

-Como?

-Isso que você ouviu, quer uma esposa ou alguém que limpe ,cozinhe e crie seus filhos, apenas? -minha língua não se conteve dentro da boca-Por que se for isso, vai continuar solteiro, as mulheres querem muito mais do que você tem a oferecer, e isso não se trata de baboseiras feministas.

o homem me olhou boquiaberto, virei as costas e me afastei antes que meu mau génio se piora, deixei minha mãe se desculpando e sumi no meio dos convidados.

só voltei a ver o homem novamente duas horas depois, quando levava alguns pratos para a cozinha, ele estava lá conversando com um antigo amigo de meu pai.

parei a entrada quando ouvi meu nome.

- A Ana?

foi o amigo de papai quem falou, Jorge assentiu.

-A Luiza me disse que a filha ia me agradar, mas não poderia estar mais enganada.

-Ela e uma boa menina.

- E uma solteirona amargurada isso sim, pensei em dar uma chance para ela, mas depois de conversar com a meia hora, dessitie estava disposto a ignorar que ela não é bonita e parece uma orca, sabe pelo bem dos meus filhos, eles realmente precisam de uma figura feminina, mas aquela gorda não serve, duvido que alguém desencalhe a baleia.

o trocadilho maldoso causou risos entres os homens ,eu não costumava me importar com comentários maldosos a respeito de meu peso, mas ouvir as palavras cruéis e os risos quebrar algo dentro de mim, era meu aniversario de 30 anos e eu nunca havia tido uma experiencia sexual e trocara pouquíssimos beijos, e ouvir aquelas coisas afundaram as esperanças de encontrar o homem que tanto idealizava.

talvez o amor não fosse para pessoas como eu, afinal.


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⏰ Última atualização: Sep 11, 2019 ⏰

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