Uma viagem - não tão - fantástica

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— Olha só quem está aqui! — exclamou Azedina — Como vai Vossa Flatulência ou é Vossa Fedorência?

— Na verdade é Imperatriz Amarela Láctea da Coalhada de Gorgonópolis. Mas não vem ao caso, eu vim...

— Ok. Acho que vou chamá-la apenas de Flatulenta - interrompeu a anfitriã.

— Eu... — a Imperatriz respirou fundo - vim pedir sua ajuda.

— Uau. É agora que eu faço uma reverência e solto gases em sinal de agradecimento pelo privilégio de poder ajudar a Rainha Intolerante dos Gases Lácteos? — Azedina já estava se colocando de joelhos de forma exagerada.

— Sou Imperatriz, não rainha! E por que insiste nisso de gases? — disse, já se arrependendo de ter vindo.

— Você já viu o que acontece com algumas pessoas?

— Como você pode saber disso?

— Como alguém pode NÃO saber disso?

— Vai me deixar falar por que vim aqui?

— Promete ir embora logo depois de falar?

— Você sempre responde uma pergunta com outra pergunta?

— Está incomodando?

— Não — mentiu a Imperatriz.

— Então eu paro.

— Posso falar agora?

— Ganho alguma coisa com isso? Ah, desculpe Vossa Gaseificadora, pode falar.

Se não precisasse da ajuda dela, a Imperatriz mandaria As Irmãs Fermentadoras fazerem uma visita também, pensou a Imperatriz usando toda a paciência que conseguia.

— Um ataque ao nosso ecossistema se aproxima. Nossos estudos indicam que se vocês se mudarem mais para a borda do queijo e aumentarem sua atividade, poderemos evitar a aniquilação.

— Pelo cheiro imaginei que vocês estavam estudando mesmo. Mas vir até aqui e nos mandar para a periferia é bem ousado não acha?

— Em primeiro lugar, eu nem viria aqui se não fosse necessário.

— Não diga uma coisa dessas, nós microorganismos precisamos nos unir — a anfitriã estava adorando essa conversa. Queria ver até onde a Imperatriz aguentaria.

— E então, vai considerar a minha proposta? — caso essa velha mofada não colaborasse As Irmãs Fermentadoras voltariam com o maior estoque de álcool que elas pudessem produzir.

— Certo, mas preciso saber, já consideraram a ideia de irem para a borda do queijo e aumentarem a vossa atividade por lá? — devolveu a mofo.

— Já. Mas poderiam achar que fosse um queijo caro e teria o efeito contrário.

— A-há! Por que ia feder muito não é? — a partícula de mofo soltou uma gargalhada.

— Só pra você saber, em Portugal esses são os mais caros, sua velha mofada e barbuda!

— Ei, olha o respeito — riu a mofo — Se acalme, vou ver o que posso fazer.

Mas agora era tarde.

— Agora é tarde — disse a bactéria desamparada.

— Eu estava brincando. Nós vamos colaborar.

— Não é mais necessário. Olhe pra cima, já está se aproximando. Esquece.

A pequena partícula de mofo iria mesmo esquecer. Ela não se importava no final das contas. Quem não ia esquecer era o pequeno João Estevão.

Era o melhor x-burguer que ele havia comido. A última mordida havia deixado um gosto estranho na boca, mas nada que um gole de Coca-cola não resolvesse.

Enquanto estavam na fila do cinema, o garoto sentiu um leve desconforto, um prenúncio da mágica que aconteceria logo após o filme.

Nesse fim de semana era a vez da mãe do Marquinhos buscar a turma no shopping. Já dentro do carro, Joãozinho sentiu o borbulhar novamente e agora imperativo.

Abraca-bufa e João soltou sonoros e fedorentos gases, uma salva de 15 tiros. Pela primeira vez, seu coleguinha viu a mãe ligar o ar-condicionado e abrir as janelas ao mesmo tempo. E também resultou em seu novo apelido, Capitão Flatulência.

A velha Azedina ficaria muito chocada se soubesse que ela havia causado tamanha demonstração de gases, de dar inveja na Imperatriz, mas se acabaria rindo se soubesse que foi responsável por alguém acabar sendo chamado de Capitão Flatulência.

Uma viagem - não tão - fantásticaWhere stories live. Discover now