Looking With The Heart - KonoHana

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— Não, por favor! Parem! Parem!

Eu não conseguia enxergar direito o que era, apenas alguns borrões. Sentia chutes, empurrões e socos atingindo meu corpo, mas não conseguia ver de onde vinham. Tinha apenas ido até o banheiro e fui pega de surpresa. Eu chorava e eles riam. Me chamavam de patética, tosca e ceguinha. Disseram que eu era como um nada. E eu era mesmo. 

Fui deixada no chão do banheiro com o corpo moído e uma das professoras conseguiu me acolher. 

Aquela cena passava em minha cabeça o tempo todo.

×××

Meu problema era chamado de Retinose Pigmentar. Uma doença ocular que degenera as células presentes no olho e faz a pessoa perder sua visão completamente ou parcialmente, como é no meu caso. Fui perdendo a visão gradativamente, atualmente enxergo apenas borrões e minha visão é bastante escurecida. Ou seja, é difícil distinguir qualquer coisa.

 Era uma adolescente de 11 anos quando tudo começou. As crianças eram cruéis comigo por um detalhe mínimo: Eu era diferente. As crianças implicavam comigo a todo momento e eu não podia revidar pois mal enxergava o que estava à minha frente. 

Meu pai tentou me dar uma educação de qualidade, mas simplesmente era impossível para mim ficar ali. Tive aulas particulares até eu completar 15 anos e meu pai decidir que era hora de voltar para a escola. Eu deveria conhecer novas pessoas na opinião dele. Hinata disse que me ajudaria, mas ela era frágil como um rato, era possível que ela pudesse ser boa para mim? Papai sentou comigo para conversar.

— Hanabi, você precisa superar isso. Aconteceu quando era criança e agora você sabe como se defender. Ou aquelas aulas não foram o suficiente? Você já pode voltar a estudar como uma garota normal, porque é isso que você é.

— Que saco, pai, eu não quero!

— "Que saco"? Hanabi e as maneiras com seu pai?

— Deixei na minha querida escola! - revirei os olhos.

— Neji! Conversa com essa moleca, ela tá muito abusada e eu não vou me estressar! 

Pude olhar a silhueta de Neji se aproximando de mim e senti um toque em minhas mãos. Seu toque me transmitia um sentimento de compaixão e carinho. 

— Hanabi, por que você não quer ir?

— Estudantes são idiotas, Neji! Eu odeio todos eles. Você não viu o que fizeram comigo?

Tateei meu braço e rapidamente achei a cicatriz do fatídico dia em que me agrediram por ser deficiente visual. O mostrei e ele riu. Fiquei irritada com a atitude.

— Hanabi, você é uma jovem linda, inteligente, esperta até demais e agora sabe lançar golpes como ninguém. Me diz, quem mexeria com você?

— Irmão, eu tenho medo. 

— Você não deve ter medo de ser diferente. Mesmo que não enxergue com os olhos, você enxerga com o coração e não tem dom mais bonito que isso. 

— E se eles não gostarem de mim?

— Isso é impossível. 

Quase consegui ouvir um sorriso se formar no lábio de Neji. Senti o beijo dele tocar em minha testa e ele me deu a típica cutucada que temos mania de dar entre nós Hyuuga's. Ele se levantou saindo da sala e me deixou sozinha. 

Mesmo contrariada, eu não tinha tanta escolha. Estava apreensiva e sabia que não faria o papai mudar de ideia. 

Eu teria que voltar a estudar.