A vida é uma figuração e basta a você interpretar esta encenação
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A madeira queimava lentamente, irradiando calor a Merlin, deitado sobre a terra macia, preocupado com o que sobrara das frutas que enchera sua bolsa ao sair de casa há 5 dias. Ainda tinha duas maçãs e uma pera, suficiente para mais um dia de sobrevivência. Seria necessário procurar comida ao amanhecer ou passaria pela primeira vez na vida, fome. Nunca tivera de se preocupar com o que comeria no dia seguinte, seu palácio possuía sempre os mais variados pratos para hora do jantar e caso tivesse fome ao meio do dia, bastava colher algumas mangas no pomar ou chamar por um criado de prontidão, mas agora, ele estava sozinho, sem empregados, responsáveis, tampouco amigo.Morgin já passava por problemas políticos há 2 gerações, desde que os avós de Merlin assumiram o cargo, os últimos com sangue real na liderança, mas tudo piorou 1 ano atrás, quando o general Albano, dono do trono naquele momento, decidiu abdicar do poder para viver uma vida com uma meretriz, por quem havia se apaixonado durante uma viagem a Galápagos de férias. Os servos do palácio acordaram um dia e não mais encontraram o general, achando somente uma carta em seu quarto, avisando que deixara vago o cargo máximo do reino e indicando o sucessor pela lei vigente, o que levou uma caravana de cidadãos que o julgava traidor e impuro por deitar-se com uma cortesã a caçarem-no antes de chegar ao mar. Fato é que nem Albano nem a caravana retornaram passados nove meses, instigando a mente dos mais criativos, teorizando um meticuloso assassinato de Albano, outro grupo acreditava que todos foram mortos pelos enormes animais ao sul e o mais simples era a ideia de se perderem nas matas, castigados pela fome e sede.
A instabilidade política foi tamanha que o trono estava ainda vazio, parte da nação queria seguir a linha sucessória do general, outros estipulavam nova casa no poder, enquanto um pequeno movimento democrático surgia. Estranhamente cinco sucessores segundo a lei, morreram no período, coincidentemente acidentados pela má sorte ou subitamente, sabia Merlin, porém que alguém estivera por trás dos acontecimentos, almejando controlas todo o território de Morgin. E pela sequência, seria o próximo, não poderia arriscar permanecer com seu potencial assassino a solta, podendo ser qualquer pessoa, portanto refugiou-se nas florestas para o norte, tentando não ser encontrado, afinal, um órfão traria pouca comoção à população se fosse eliminado, sobretudo com ascendência da antiga realeza destituída, Fosse ainda talvez um motivo de gritos comemorativos.
Agora ali deitado, refletia em como o destino tramava seu fim de todas as maneiras, o último indivíduo dos Bourbon, seria o final de toda a família? Possivelmente punição por aquilo que seus avós haviam feito. Merlin gostaria de ter nascido entre os discretos camponeses, poderia assim ainda viver por mais alguns bons anos ao lado dos pais e avós, vivos, contando-lhe antigos contos, explicando sobre o funcionamento da vida, teria até aprendido a caçar para manter-se vivo na floresta, tudo seria diferente. Perdido nos pensamentos, Adormeceu.
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- Merlin, levante! Manoel. Tomou trono. Te caçando! – disse um estranho desconhecido esbaforido pausadamente, puxando-o para cima e começando a correr.
Sem entender, Merlin apenas seguiu em corrida o desconhecido temendo ser encontrado, mesmo sem saber quem fosse Manoel, nem pretendia conhecer, ficar vivo era prioridade. Corria trombando em arbustos e desviando somente das árvores, quando, do nada estava dentro de uma vila rodeado por uma multidão. Uma senhora gritou:
- O príncipe retornou! Bourbon reinarão novamente! A reale... - Foi interrompida por um punhal que atravessou seu abdômen. Logo o sangue começou a escorrer pela boca e os olhos arregalados não se mexiam, a mulher não mais respirava, enquanto os demais gritaram em único som:
- BOURBON NÃO RETORNARÁ...
Merlin se desvencilhou dos guardas, que o segurava, embora não se lembrava de ser capturado, cruzando toda a cidade em fuga, buscando um apoio, alguém que ainda apoiasse sua família e pudesse ajudar. Não encontrando viva alma pela frente, estava novamente no mundo selvagem e todo mundo continuava em seu encalço. Seus pulmões e pernas já obstantes o entregaram exaustos, apenas aguardava sua morte.
Foi então que o tempo parou, ninguém se mexia. Viu um senhor maltrapilho aproximar-se vagarosamente, desafiando a paciência de Merlin, mas ele também não conseguia se mexer para ir de encontro. Quando chegou perto o bastante falou calmamente:
- Pequeno herdeiro... A terra da sua família já não é mais sua, o ouro herdado já não lhe pertence, o trono construído com seu sangue não o acolherá, apenas o desprezo social do teu nome o acompanha.
- Quem é você? Onde estou? - indagou confuso.
- E ainda pior, não é capaz de controlar nem o próprio sonho e sonha governar uma nação. - ironizou o senhor.
Sono? Isto não é menos que um pesadelo. Mas o que posso fazer ao menos para acabar com o ódio que sofro do meu povo? – questionou Merlin
- Após acordar e ter colhido boas frutas para meu estômago, entregue-me na cabana aos pés da Grande Montanha ao norte, é fácil encontrar. Poderei pensar em aconselhar-te.
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Morgin - O Fugitivo
FantasyMorgin fora uma terra há muito governada por uma só família, agora encontra-se em um período de instabilidade no poder, sem um monarca definido e a fuga do primeiro substituto. Os sucessores do trono começam a morrer em supostos acidentes, por isso...