Capítulo V

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Agora, nos fundos da casa, Guto estava enterrando Granola no canteiro de flores

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Agora, nos fundos da casa, Guto estava enterrando Granola no canteiro de flores. Como ele era o único quem cuidava daquele espaço, supôs que Nathalia jamais encontraria os restos do animal morto. As vozes ainda ressoavam em sua cabeça e, enquanto isso acontecia, era como se Guto adquirisse uma outra personalidade, totalmente contrária à sua. Após concluir o enterro do animal, ele livrou-se da corda, jogando-a na lata de lixo, e voltou à cozinha. Tirou sua camisa, que estava um pouco suja de terra, foi até a pia e começou a lavar suas mãos. Estava tão aéreo, que não percebeu a presença de Nathalia que, aflita, se aproximava.

– Amor, você está bem? – indagou Nathalia, aproximando-se. Ela ainda estava preocupada com Guto, sobretudo por conta da conversa que tiveram pela manhã. – Me perdoe por ter sugerido o que sugeri, eu só queria... eu só quero que você se livre dessa culpa, ela não é tua... você merece se perdoar, pelo teu bem-estar...por você. – concluiu.

Guto, no entanto, sequer olhou para trás. Continuou lavando as mãos e ignorando a presença da namorada. As vozes permaneciam ocupando sua mente, fazendo-o parecer que estava em algum tipo de transe. Nathalia, aproximando-se um pouco mais, colocou uma das mãos no ombro de Guto, intencionando abraçar-lhe. Este, no entanto, assustou-se e, num rápido movimento, virou-se, agarrando fortemente o braço da namorada. Fitou os olhos de Nathalia, mas não expressou nenhuma reação. Não parecia se importar se estava ou não machucando a moça.

– Guto, o que está fazendo? Você está me machucando. – afirmou Nathalia, assustada com aquilo. – Eu estou falando sério, Guto, me larga, meu braço está doendo. – suplicou a moça, aumentando o tom de sua voz.

Guto continuou a encarando, não se importando com a dor da namorada. Estava, mais uma vez, sendo guiado pelas vozes em sua cabeça. Nathalia, vendo que não teria o seu pedido atendido, desferiu um forte tapa no rosto de Guto que, com o impacto, soltou o braço da moça.

– Seu idiota, viu o que você fez? – questionou Nathalia, deixando visível as marcas roxas em seu braço. – Você enlouqueceu, Gustavo? Hein? Me responde! – gritou, estava impaciente e irritada. Vendo que Guto não expressou nenhuma reação, a moça apenas virou-se e foi em direção ao seu quarto.

Guto a acompanhou com o olha até a perder de vista. Ele estava furioso com o tapa que recebera e, pela segunda vez aquele dia, as vozes em sua cabeça passaram a atormentá-lo. Agora, cenas do passado, mais uma vez, preenchiam sua mente e isso, de certa forma, fez com que sua raiva aumentasse.

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– Percebe o que você fez, Luís Gustavo? Eu nunca permitirei que cenas como a que aconteceu hoje se repitam, você está me entendendo?

A madre superiora estava furiosa. Assim que chegou de viagem, soube do ocorrido envolvendo Guto e Felipe. Sua decepção era nítida, sobretudo porque coisas como estas nunca tinham acontecido no orfanato.

– Eu não permitirei outro ato desses, estamos entendidos? – indagou a madre, fitando o garoto cabisbaixo em sua frente. Guto, no entanto, permaneceu calado, o que enfureceu ainda mais a mulher. – Luis Gustavo, estamos entendidos?

– Madre, a culpa não foi minha, eu só... – Guto tentou se redimir, mas antes que concluísse seu argumento, foi interrompido.

– Eu não quero saber quem é o culpado, o que me interessa nesse momento é saber se estamos ou não entendidos?

– Sim, madre, estamos sim! – afirmou Guto e, ainda cabisbaixo, acrescentou. – Será que eu posso ir agora? Eu preciso tomar um banho.

– Pode, está liberado, mas fique ciente de que eu estou de olho em você, viu?

Guto apenas assentiu com a cabeça e não disse mais nada. Saiu da sala onde estava, indo em direção ao seu quarto. No caminho, avistou, ao longe, a imagem de Felipe que vinha em sua direção. O garoto estava com o nariz inchado, assim como parte do seu rosto. Guto queria evitá-lo ao máximo, mas sabia que não conseguiria fugir por muito tempo. Felipe estava com a mesma feição de ódio que apresentou quando foi levado para a enfermaria.

– Ora, ora, finalmente nos encontramos, mariquinha. – bradou Felipe, aproximando-se aos poucos. – Eu disse que você ia pagar pelo o que fez, não disse?

– Cara, eu não quero confusão, já me encrenquei o suficiente. – afirmou Guto e, tentando seguir seu caminho, acrescentou. – Me deixa em paz, que eu te deixo em paz.

– As coisas não funcionam assim, mariquinha, eu já disse que quem manda aqui sou eu. – Felipe colocou-se à frente de Guto, impedindo a passagem. – Eu disse que você era um homem morto, não disse? – Felipe empurrou Guto, que caiu sentado no chão. Ele, por sua vez, apenas baixou a cabeça e não fez mais nada. Isso enfureceu ainda mais Felipe que, num ímpeto de raiva, desferiu um tapa na face de Guto.

– Vamos, mariquinha, reage, seja homem ao menos uma vez na tua vida.

Enquanto Felipe provocava, Guto permanecia calado, intacto. Antes que a briga continuasse, surgiu, no corredor, a irmã Berenice que, desconfiada da situação, foi em direção aos garotos.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou a irmã, questionando os garotos.

– Nada não, irmã, não aconteceu nada, não é, Guto? – indagou Felipe, encarando o garoto no chão.

– Não aconteceu nada, irmã, está tudo bem, eu apenas tropecei. – respondeu Guto, levantando-se em seguida.

– Ótimo, já estamos cansados de confusão, não é? – comentou a irmã Berenice. Deu uma breve pausa, achando que algum deles responderia, mas vendo que não, acrescentou. – Agora os dois vão para os quartos, tomem banho e daqui a vinte minutos espero os ver no salão, entendido?

– Sim, irmã. – responderam os garotos ao mesmo tempo. Agora ambos se dirigiam para os quartos. Felipe ia contente com a vingança e Guto, em seu íntimo, planejava o que ia fazer. Aquele tapa não sairia barato.

Assim que chegou em seu quarto, Guto escreveu um bilhete curto, solicitando que Felipe, após o jantar, se dirigisse até os fundos da casa de apoio. A carta foi jogada por baixo da porta do quarto onde Felipe dormia. Guto não se identificou, mas sabia que a curiosidade do inimigo falaria mais alto. Assim, Guto correu até um pequeno depósito que ficava no quintal, pegou duas garrafas de vidro e as quebrou, pegando os pedaços maiores para si. Cavou um buraco pequeno, mas fundo, nos fundos da casa de apoio. Colocou os vidros no buraco, cobriu com umas folhas secas e pronto: a armadilha estava pronta. Após o jantar, Felipe, movido por sua curiosidade, dirigiu-se aos fundos da casa. O local era escuro o suficiente para que o garoto não se atentasse ao que tinha em sua frente. Felipe colocou o pé esquerdo na armadilha. Todas as pessoas do local ouviram os gritos de dor que ecoaram naquele instante. Em sua cama, Guto, ao ouvir os gritos, apenas sorria, satisfeito.

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O tapa que levou de Nathalia fez Guto lembrar-se do ocorrido com Felipe. Assim como da última vez, um desejo de vingança preenchia o seu interior. Guto abriu uma das gavetas do armário, pegou uma faca e, levantando-a, ficou admirando aquela arma.

Descendência Malter (Em processo de revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora