Prólogo

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Do alto de sua torre, a Duquesa encarava o Danúbio agitado pela ventania, que também fazia seus cabelos pretos balançarem. A tempestade estava a caminho. Chuva começava a cair forte das densas nuvens negras. A Duquesa virou-se e caminhou até um espelho. Admirando a si mesma, mexeu nos longos cabelos ondulados e observou como reluziam; eram mais escuros e lustrosos do que a plumagem do mais negro dos corvos a voar pela noite. Os grandes olhos ostentavam o mesmo brilho.

Três batidas ressoaram na porta.

— Entre — disse ela com a voz serena e baixa, mas na certeza de que estava sendo ouvida.

A chave girou e a porta se abriu com um ranger barulhento e preguiçoso.

— Duquesa — falou o homem, seu cabelo desarrumado e um olho assustadoramente maior do que o outro.

— Janusz. Bem na hora. Entre, por favor.

— Sim, senhora.

Ele carregou os baldes até o banheiro e os esvaziou na banheira branca, o que era suficiente para enchê-la até um pouco mais da metade. Quando se virou, seu queixo caiu.

A Duquesa estava ali de pé, nua. Janusz não tinha ouvido ela se aproximar. Ele, que chegava à altura de seu peito, a olhava com brilho nos olhos, tal qual uma criança olha para a mãe. Ele não tinha desejo carnal por ela. A beleza da Duquesa era etérea; só podia ser comparada às deusas das mitologias pagãs. Não havia absolutamente nenhuma falha naquele corpo. Até mesmo a barriga, que já carregara quatro filhos, nem sequer tinha estrias.

— Janusz?

O homem balançou a cabeça para sair de seu devaneio.

— S-Sim?

— Já pode sair. Vá buscar a Alemã.

— Sim, Duquesa.

Antes de se retirar, ele ainda observou a Duquesa caminhar, como um gato, até a banheira. Ao entrar, ela encostou a cabeça e fechou os olhos, soltando um suspiro de alívio e prazer.

Mas ela não se satisfez. O volume de sangue nem sequer cobria seu peito. Começou a ficar apreensiva. Fumava e olhava nervosamente para a porta enquanto esfregava os ombros e pescoço secos. Há anos esperava por esse momento. Precisava absorver a beleza da Alemã.

Mas Janusz não voltava.

Farta de esperar, a Duquesa levantou-se com um salto. Uma cachoeira de sangue começou a escorrer dos cabelos pelos ombros, contornando as curvas de seu corpo e respingando das pontas de seus dedos. Ela puxou uma toalha e caminhou até a porta.

Porém, quando os dedos estavam prestes a tocar na maçaneta, a porta abriu-se sozinha.

O que viu a seguir fez seu mundo desabar.

Sangue VienenseWhere stories live. Discover now