Capítulo XI - Depois do Abismo

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Tô ferrado. Foi o primeiro pensamento que Ji Min teve ao ver tudo ao seu redor se dissolver como um monte de poeira soprada ao vento. O segundo, que não passou de uma extensão do primeiro, foi: Meu cabelo tá curto e rosa! E eu tô vestido um pijama de malha branca. Nem o povo de Hworan vai acreditar que eu sou um desmemoriado inocente dessa vez. Céus, o que eu vou fazer?!

Não queria nem pensar na reação de Jung Kook.

Ele vai se arrepender por ter feito aquela prece…

Ao ver que o silêncio ao seu redor se prolongava, abriu os olhos — que havia fechado em um reflexo por temer os olhares que lhe seriam lançados. Se encontrava no chão, em um cômodo amplo e majoritariamente esculpido em madeira marrom-escura e lustrosa. O fino acabamento era todo em ouro, e o forro das portas era impecável, branco e sem um único furinho.

Ji Min piscou, confuso. Não se recordava de ter visto um lugar assim em Hworan — um lugar antigo e todo em madeira clara e rocha cinzenta. Aliás, não se recordava de ter visto ouro em toda Hongsaejoo que não nas vestimentas e joias dos palacianos. Não poderia estar em Hworan. Mas, então, onde é que eu estou? Se perguntou e rolou seu olhar pelo ambiente, virando-se para ver o que havia às suas costas e quase desfaleceu.

Não estava em Hworan, mas sim no Palácio de Jade.

No Palácio de Jade, mais precisamente no quarto do Imperador Yoon Gi. Como sabia disso? Simples. Yoon Gi estava ali, bem na sua frente, em dispendiosas roupas de dormir, assentado sobre a cama e com metade do corpo ainda oculta sob as cobertas negras.

Ele se achava tão parado atrás das cortinas que resguardavam o leito que poderia ser confundido com uma estátua de mármore em tamanho natural. Os olhos — unidos aos cabelos e sobrancelhas, os únicos pontos escuros em sua alvura —, maiores do que se lembrava, se cravavam nos seus, enormes de pavor. Ji Min também faria olhão — pra dizer o mínimo! — se acordasse em plena guerra e desse de cara com alguém que julgava ser um espião inimigo bem dentro de seu quarto, ainda mais sendo alguém que acreditava estar mortinho da silva.

Em um dos jardins ou num corredor vazio… Ji Min chegava a sentir vertigem. …com tantas dependências desertas nesse palácio, por que eu tive que aparecer justo no quarto do Imperador? Com ele estando aqui?! Por quê?! Não, não é isso. Por que, afinal, eu vim parar no Palácio de Jade? Será que não foi Jung Kook que pediu pelo meu retorno? A percepção de que a hipótese que dominava seu coração — de que o Imperador Conclamado tivesse sentido sua falta ao ponto de desistir de se casar com a princesa Hye Jin e pedido a Dameolin para reencontrá-lo — não havia passado de uma esperança vazia o decepcionou. Mesmo que não tenha sido ele, qualquer um que desejasse me ver de volta nesse mundo teria de estar em Hworan. Então, por que estou aqui, Senhor da Corte Celeste?! Por que me trouxe logo a presença de Kim Yoon Gi? Por quê?!

— E- e- e- eu- eu nã- — Ji Min gaguejou, vendo o Imperador se erguer das cobertas, abrir a cortina e vir caminhando em sua direção com as longas vestes alvas se arrastando pelo piso escuro. O choque abandonara o semblante dele, deixando restar somente o tédio que havia vislumbrado n’Os Sonhos anteriores. — Não ti- tive a intenção- E- e- eu nã- não queria-

— Retornar a esse mundo? — adivinhou Yoon Gi, o tom grave e preguiçoso bem como se lembrava. — Estou ciente disso, Park Ji Min-ssi. Serene.

“Retornar a esse mundo?” Então, ele agora acredita que eu vim de outro mundo? Era um pouco surpreendente para Ji Min que o ceticismo do Imperador — que parecia ser dos mais obstinados — tivesse sido vencido, mas também seria estranho se ele seguisse descrente. Ele o havia visto despencar para o vazio, e agora estava ali, bem vivo diante dos olhos dele. Ele deve achar que sou um espírito mal resolvido, que ótimo…

Outlander || YoonjikookOnde histórias criam vida. Descubra agora