Capítulo 9

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Lobão Narrando

Quando eu acordei de manhã foram com os tiros, a Drica já acordou no pulo, apesar de ser acostumada com as invasões ela sempre se assustava com os tiros e explosões a princípio, já levantei naquele pique, peguei uma roupa qualquer, a arma embaixo do travesseiro, mais algum armamento e sai pra rua, não podia ficar de bobeira em casa até porque se a polícia chegasse na Drica me pegariam, sai me esgueirando pelos becos e vielas na tentativa de sair de fininho mais uma moça apareceu em meu caminho, eu podia ter seguido e ignorado ela mas algo dentro de mim não deixou, eu perguntei quem era ela e ela disse que era filha da dona de um restaurante "novo" no morro, decidi por deixar a moça em segurança primeiro.
A levei até o local que ela disse ser da mãe dela e quando a mesma abriu o portão que dava acesso as escadas de fora aquela mulher surgiu rapidamente na varanda no alto da escada e eu fiquei desacreditado.
Isso não podia ser verdade, aquela não poderia ser a Teresa aquela moça por quem eu fui tão apaixonado anos atrás e que tive que deixar para trás por conta das minha escolhas na vida do crime.
Xxxxx : Moço ? Moço ? Chamou minha atenção.
Lobão : Oi. Disse voltando a mim e a olhando.
Xxxxx : Vem, se abriga aqui pelo menos até esse tiroteio diminuir. Disse me dando espaço para que passa-se no portão agora aberto por ela, acabei por aceitar a ajuda e entrei subindo as escadas e sendo seguido pela bela moça.
Assim que adentrei a sala não havia ninguém mais na casa, seria que aquilo teria sido minha imaginação ? Teria sido miragem ?
Lobão : Cadê sua mãe ? Perguntei direto.
Xxxxx : Ela subiu para tirar a roupa de dormir, perdão em meio a toda a confusão não me apresentei sou Rubi. Disse com a mão estendida a mim e com a expressão ainda assustada mas querendo ser simpática.
Lobão : Eu sou Ernesto mas geral me chama de Lobão. Disse apertando a mão em resposta.
Rubi : Sentesse eu vou servir o café do pessoal aqui de casa e você pode tomar café conosco. Disse simpática indo para a cozinha. Eu me sentei no sofá e fiquei olhando em volta, haviam algumas fotos espalhadas pela sala, fotos de criança, fotos de moças e uma foto antiga de um casal se casando, me levantei e peguei aquela foto nas mãos observando mais de perto e reconhecendo a mulher naquela foto, era a...
Xxxxx : Rubi ? Aonde está ? Ouvi passos nas escadas e me virei vendo aquela mulher que agora eu já sabia não ser miragem minha descendo as escadas com seu sempre jeito sereno de ser.
Rubi : Oi mãe. Respondeu vindo da cozinha.
Xxxxxx : Será que agora pode me explicar o que houve e aonde estava com a cabeça pra sair de casa e subir o morro com um confronto acontecendo ? Disse agora com o semblante fechado e a voz alterada.
Rubi : Quando eu saí de casa estava tudo normal, o confronto só começou quando eu já começava a subir o morro, não tive escapatória se voltasse ia ficar no meio do tiroteio e ainda fui me enfiando favela a dentro e acabei perdida, mas aí o seu Lobão me achou e me ajudou a chegar aqui.
Lobão : Tira o seu, só Lobão. Respondi encarando a mulher madura e ainda mais linda agora a poucos cm de mim.
Rubi : Que mal educada eu, mãe este é o Lobão, Lobão esta é a minha mãe Teresa Reis.
Lobão : Olá Teresa. Disse a encarando e com um sorriso.
Fui ignorado e ela seguiu para a cozinha começando a mexer nas coisas.
Teresa : Vem coar o café Rubi enquanto eu preparo uns pães de queijo.
Xxxx : Bom dia. Disse uma moça de samba canção, camiseta masculina e descalça descendo as escadas, ela era muito parecida com a Rubi.
X

xxxxx : Nossa, esses vermes já começam o dia pertubando, tumultuando a favela. Reclamou a loira peituda descendo as escadas com um micro pijama e parecendo espantada ao meu ver. - Lololoo...não ? Gaguejou me encarando.
Lobão : Eu, mas e você quem é ? Questionei agora colocando a foto que ainda se encontrava em minhas mãos na mesa de canto ao lado do sofá.
Xxxxxx : Bianca, meu nome é Bianca. Disse me estendendo a mão.
Teresa : Deixa de ousadia Bianca, vai colocar uma roupa que já já temos que ir pro restaurante adiantar as coisas por lá porque vão faltar alguns funcionários. Disse dando um tapa na mão que antes estava estendida a mim e empurrando a moça novamente escada acima.
Xxxxxx : Misericórdia quem dorme com essa barulheira toda lá fora. Desceu coçando os olhos, essa moça de todas era a que mais parecia com a Teresa quando mais nova, incapaz que não fosse filha dela também.
Lobão : Quanta gente. Disse em pé observando as mulheres presentes na cozinha daquela casa.
Rubi : Ainda não viu nada. Riu. - Somos ao todo em 6 irmãs mas aqui na casa com a minha mãe moram 3 filhas e 3 netos, eu moro fora do morro com meu esposo e tenho uma irmã que fora do país e outra que mora em São Paulo.
Lobão : Nossa, família grande a  de vocês.
Jade : Grande até demais da conta as vezes. Resmungou. - Mas e você quem é ? Da igreja da Rubi ?
Eu gargalhei com a ideia de que eu pudesse ser alguém da igreja e percebi os olhares estranhos das moças em mim menos o de Teresa.
Lobão : Não, não sou da igreja, na verdade nem sei quando foi a última vez que pisei em uma igreja. Disse sincero. - Eu só ajudei a irmã de vocês a sair do tiroteio. Disse simples e me sentei novamente no sofá.
Teresa : Alguém chame as crianças e Bianca e venham tomar café que já está a mesa. Disse firme ainda lá da cozinha.
Rubi : Vem Lobão, pode se sentar a mesa vou chamar meus sobrinhos pro café, duvido que com essa confusão no morro ainda estejam dormindo. Disse subindo as escadas e eu fui pra cozinha as outras duas moças já estavam a mesa e Teresa estava de costas na pia finalizando alguma coisa.
Xxxx : Você falou, falou mas não disse quem é. Disse a moça meio com jeito e roupas de rapaz.
Lobão : Lobão, e você ?
Xxxx : Sou Jade, irmã mais nova da Rubi e essa muda aqui no meu lado ao celular. Disse dando uma cotovelada de leve na irmã ao seu lado. - É a Pérola. A mesma nem sequer levantou o olhar, continuou sentada com um pé encima da cadeira e as mãos apoiadas no joelho enquanto digitava algo no celular.
Teresa : O que já falei sobre os modos a mesa Pérola Reis ? Chamou a atenção da mesma.
Pérola : Calma aí dona encrenca, estou vendo com a Dida mas parece que hoje ela não vai abrir a loja, ela está com medo te abrir e ter prejuízo no meio dessa confusão no morro.
Jade : E por que você não foi a aula ? Perguntou já servindo seu copo com café e leite.
Pérola : Dor de cabeça, acabei perdendo a hora.
Teresa : Também chega em casa praticamente de madrugada quase todo dia. Resmungou, reparei que ela fazia de tudo para ignorar minha presença ali.
Rubi : Sentem crianças. Disse já chegando a cozinha. - Nossas suas sem educação, por que não serviram o Lobão ? Ele é visita.
Pérola : Os braços dele estão quebrados por acaso ? Perguntou abrindo um pão.
Bianca : Cadê a Esmeralda ? Disse cortando o outro assunto.
Teresa : Sua mãe está presa na rua com a van.
Rubi : Prefere café ou suco ? Disse a mim.
Lobão : Eu vou pegar só um copo de suco, mas eu me sirvo obrigado. Disse educado mas sem tirar meus olhos de Teresa o tempo todo.
O olhar dela ainda era o mesmo, apesar de um pouco mais maduro e amargurado ainda tinha os traços daquela jovem inocente por quem eu fui tão apaixonado.
Após o café a maioria subiu para os quartos, Rubi e a loira desceram a mando de Teresa e foram cuidar do restaurante que ficava na parte debaixo da casa.
Lobão : Vai continuar a me ignorar até que horas ? Perguntei para em seguida beber mais um gole de suco enquanto avaliava sua reação, seu corpo mesmo de costas para mim percebi que ficou tenso, seu corpo todo se enrijeceu.
Teresa : Não sei quem é você ou do que fala senhor. Disse firme sem me olhar.
Lobão : Não se faça Teresa, isso não combina contigo. Disse agora parando ao seu lado na pia.
Teresa : Saia agora da minha casa. Ordenou firme e com seus belos olhos castanhos e agora furiosos me encarando.
Lobão : Não. Respondi a altura. - Não até você me dizer aonde esteve esse tempo todo.
Teresa : Você é passado apagado Ernesto, o que veio fazer aqui atrás de mim ? Atrás de dela ? Então ela não sabia do meu envolvimento no crime do morro, ou quem eu era. - Anda, fala logo. Disse firme num sussurro para que o restante das pessoas na casa não ouvisse.
Lobão : Eu te faço a mesma pergunta, o que você trouxe ao Rio de Janeiro porque a última vez que nos vimos você morava em Minas com seus pais.
Teresa : Não te devo satisfações. Voltou a lavar a louça na pia.
Lobão : Olhe para mim enquanto fala. Disse pegando em seu braço e ela me olhou assustada. - Sabe que odeio quando não me olham nos olhos.
Teresa : Não sou mais aquela menina burra. Se desvencilhou de mim. - Você não me dá mais ordens. Disse dura e se afastou.
Bianca : Vó, acabou o... Entrou na cozinha mas parou a frase quando percebeu o clima no ambiente. - Está acontecendo algo aqui ? Perguntou com estranheza.
Teresa : O que acabou Bianca ? Perguntou mudando o assunto rapidamente.
Bianca : O coentro, Rubi precisa de coentro pra fazer o vinagrete pra hoje.
Teresa : Diga a Rubi que já desço, mas que provavelmente não irei abrir hoje, o morro está muito agitado e esses tiroteios sempre acabam com o movimento.
Bianca : Ok. Disse nos dando as costas e voltando para o restaurante.
Lobão : Cadê o seu marido ?
Teresa : Eu já te mandei sair da minha casa, sai agora da minha casa e da minha vida de uma vez por todas, você é passado apagado. Disse firme me encarando.
Pérola : Mãe sabe cadê meu moletom vermelho ? Gritou do alto da escada.
Teresa : Está na laje, no varal para secar.
Pérola : E o cinza ?
Teresa : No meio das suas roupas que estão para serem passadas. Gritou de volta.
Pérola : Valeu. Disse e em seguida ouvi seus passos se afastarem.
Teresa : Está esperando o quê ? Um convite formal ? Disse dura me encarando.
Lobão : Nossa conversa ainda não acabou. Disse firme a encarando de volta. - Eu vou voltar Teresa. Disse duro e sai pela escadaria da mesma varanda por onde tinha entrado, o portão estava fechado mais eu forcei só um pouco e ele já abriu, sai e já fui me esgueirando de volta para sair do morro.

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