Incipit prologus

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A Sra. Saint costumava tomar seu chá as 10 horas da manhã em ponto, sentada na pequena mesa que ficava na varanda bem atrás de sua casa. Todas as manhãs ela se sentava naquela mesma cadeira, bebericando o seu chá e observando seu grande quintal e observando com prazer sua laranjeira.

Sra. Saint costuma, também nos dias de hoje, deixar que sua memória voltasse para quando sua pequena filha nasceu, pequena, de cabelos tão negros que ela até tinha se assustado ao ver. Os cabelos tão escuros quanto carvão e os olhos tão negros que pareciam o céu sem estrelas e sem o brilho da lua.

Ela sempre sorria, quando sentava naquela mesmo lugar alguns anos atrás, com seu marido sentado ao seu lado, tomando café preto em vez de chá, os dois observando a pequena criança correr pelo gramado atrás da coisa que a chamara atenção da vez, seja uma borboleta, um mosquito, um lagarto, e até mesmo uma barata, certa vez! A senhorita era mesmo uma levada.

A Sra. Saint sempre deixava seus cabelos presos em um fabuloso rabo de cavalo, seus cabelos, há alguns anos atrás, na mesma época que sua filha era pequenina, eram longos, lisos e castanhos, o castanho mais claro. A mulher sempre mantinha seu sorriso no rosto e as mãos delicadas, com dedos longos, sempre em volta da xícara de chá.

O Sr Saint era um homem um pouco mais baixo que sua esposa, com cabelos tão negros quanto de sua filha, e tão cacheados e bagunçados quanto. O sorriso, Sra. Saint se lembrava bem, eram muito parecidos, sorriso largo e sincero, tão brincalhão.

Ela sentia falta daqueles pequenos momentos.

Elizabeth Saint agora com sua filha adulta, com seu marido morto, sentava-se naquela cadeira de madeira, ao lado da mesa de vidro, com sua xícara de chá pra ficar olhando o grande quintal e ter as lembranças mais doces de sua vida. Quando os problemas que a cercavam não importavam mais.

Elizabeth suspirara, pela segunda vez só naquele minuto, olhando para a carta aberta em seu colo. Não era adereçada a si e sim a sua única filha, mas mesmo assim não tinha se contido e pegou a carta pra ler, e  quanto o coração dela se alegrou ao saber de quem era.

Imperium era uma academia prestigiada, onde todos de sua família tinham se formado antes de seguirem a vida no meio sobrenatural, ou como poucos no meio humano. Ela mesmo tinha estudado lá e como tinha vivido seus melhores anos solteira naquele lugar tão grande e tão aberto. Tinha conhecido seu marido naquele mesmo lugar, no seu último ano.

A sociedade qual vivia era com menos preconceitos de quando sua mãe estudava. Agora era aceitável se casar com humanos, não era prestigiado, não era recomendável, mas era aceitável, você já não era banido da sociedade sobrenatural e obrigada a viver longe de tudo que conhecera por causa de um amante humano. Quando conhecera Howard, sua mãe não tinha ficado muito feliz, não, sua pobre mãe chorou tanto no colo de seu pai, exclamando que não sabia o que tinha feito a deusa pra receber uma filha tão ingrata e querendo sujar seu nome daquele jeito.

O nome Campbell era um nome muito ouvido e renomado na sociedade, e Elizabeth sabia que até hoje continuava assim. Campbell a família do Sul mais antiga e uma das únicas famílias bruxas que sobrevivera ao atentado de séculos atrás. Os bruxos mais fortes, família sobrenatural mais antiga para ter um deles se casando com humano.

Elizabeth tinha sido a primeira a se apaixonar por um humano e sua mãe deixava claro o quanto desaprovava da união, que como a união seria infeliz para eles, como ela poderia se apaixonar por uma raça que tinha jurado acabar com tudo que eles conheciam e criaram. Howard não era assim. Era um cavalheiro doce, gentil e que sempre fora delicado com ela além de vir de uma das famílias mais influentes.

E foi exatamente esse fato que mudou a cabeça de sua mãe. Ela ainda não gostava da união, mas pelo menos sua filha tinha feito uma boa escolha. Não tinha sido um bruxo de nome antigo, mas era um humano com nome antigo e prestigiado na sociedade mortal e isso já era um ponto a favor de Saint.

Sua filha, orgulho dos avós, tinha sido criado pelos dois costumes, o bruxo e o humano, mesmo que ainda vivesse nas escolas humanas, isso claro contra a vontade da família Campbell, e só viera a conhecer os costumes de uma escola sobrenatural quando completou seus 15 anos de idade, e um ano de morte de Howard.

Com o Sr Saint morto não havia mais discussões naquela casa sobre como criar sua filha, então depois de anos criada em escolas improprias ela finalmente entrara em uma escola certa pra ela.

E agora, depois de 2 anos formada, já em uma faculdade longe de casa, tinha recebido a chamada para estudar em Imperium e uma dúvida em seu coração pairava sobre sua filha aceitar ir ou não.

Respirava fundo, lembrando-se sempre de focar em sua respiração e tomava mais um pouco de seu chá. Sua filha já estava chegando e ela saberia qual seria a resposta em poucos instantes.

Aos poucos ela ouvia a porta ser aberta, o gato miar e a menina logo cumprimentar o animal, e mesmo sem ouvir ou ver ela sabia que a mesma tinha o pego no colo e dado um beijo no focinho do animal. Escutou a segunda porta ser aberta e os passos mais perto. Logo ela saberia a resposta...

"Mãe?"  

IMPERIUMWhere stories live. Discover now