"Camila? Camila, você não vai mesmo com a gente?"
"Não, mãe. Não vou." Ela desligou o chuveiro e puxou a toalha do porta-toalha da parede.
"Camila, você não vai?" Rania perguntou de novo atrás da porta.
"Não, mãe! Já falei que não!"
"Tá bom, então. Estamos indo, não vai ter ninguém aqui. A Santinha vai com a gente. Tem comida na geladeira. Você vai sair?"
"Não."
"Certo. Vamos voltar tarde, não deixa a casa aberta."
"Tá, mãe... Tchau." Camila se olhou no espelho e enrolou os cabelos na toalha, passou seu creme corporal e quando abriu a porta do banheiro ainda pode ouvir a porta da frente no andar debaixo ser fechada. Estava sozinha.
Ela até queria fazer alguma coisa, mas ultimamente, seu pequeno ganho de consciência limitava muito seu estilo de vida ao impedir que usasse o dinheiro de seus pais deliberadamente como fazia antes. Mas ela podia se entreter sem sentir um pouco de culpa depois. Pegou o celular e discou o único número que havia na sua lista de chamadas. Um toque.
"Mila, eu tava pensando em você agora mesmo! O que acha de uma tarde no spa comigo?"
"Ai, Val... acho que vou ficar em casa mesmo. Na verdade, eu ia te chamar pra vir aqui, ver um filme. Não é como um spa ou como a sua casa, né. Mas, todo mundo saiu e ninguém vai encher o saco, pelo menos. Vem?"
"... Com você pedindo desse jeitinho, não posso dizer não! Mas amanhã a gente vai pro spa sim!"
"Tá bom."
"Tá, tô indo então. Beijo."
"Beijo"
Camila aproveitou o clima instável de São Paulo e desceu de seu quarto para a sala com seu cobertor, abriu o sofá, fazendo seu almofadado virar um grande chest e deixou a smart TV ligada na página inicial da Netflix. Quinze minutos depois da ligação, Valéria tocou a campainha.
"Trouxe pipoca gourmet. Oi!" Valéria abraçou-a.
"Do quê?"
"Ninho e pó de oreo. Eu sei, eu sei, vamos ter que sair da dieta um pouco. Mas hoje pode ser o dia do lixo." A ruiva riu. "Seus pais não estão mesmo?"
"Não. Eles foram num casamento lá naquele tal instituto. Nem sei de quem era. Não ligo."
"Melhor pra gente. Assim a gente fica aqui sozinha. O que a gente vai assistir?"
"Não sei, tava te esperando chegar pra decidir."
Valéria se sentou no sofá, entrando debaixo das cobertas imediatamente e Camila fez o mesmo com o balde de pipoca nas mãos.
Era estranho ainda. Desde a viagem, muita coisa tinha acontecido. Sentimento, declarações tortas de um amor que ainda estava nascendo e beijos. Tudo na medida suficiente para deixar tudo num lugar ainda meio desconfortável, mas aconchegante. Elas não sabiam o que fazer com toda aquela informação, mas queriam fazer algo.
"Quer escolher?" Camila perguntou e Valéria negou com a cabeça, enchendo a boca com pipoca.
"Não, vamos ver o que tem."
"Menos de terror, Val. Você sabe que eu não gosto." Camila reclamou sorrindo.
"Awn, tadinha! Não precisa ficar com medo que eu te protejo! Sua medrosa!" Valéria abraçou-a por debaixo das cobertas e não se moveu depois, pelo jeito estava mais confortável assim. "Algum musical?"
