8- Daniel

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Eu estava bêbado, claro que estava, mas eu sabia perfeitamente o que estava fazendo. E novamente percebi o desespero dela. Definitivamente Fabiana não estava na minha, ela não tremeu, não demonstrou qualquer interesse.

Fui para o meu quarto cambaleando e me sentindo um completo cretino. Tirei minha roupa e me joguei na minha cama. O quarto girava, mas não era a minha cabeça que rodava, era o meu estômago que me incomodava, mas não por causa da bebida, mas por pura ansiedade.

Adormeci e tive vários sonhos estranhos. Ao despertar, tomei um banho e saí antes que o meu irmão e a namorada acordassem.

Liguei para um amigo que eu não encontrava há tempos, saímos para almoçar e foi muito bom conversar sobre outra coisa que não fosse o meu trabalho. Mas então eu me peguei falando sobre a namorada do meu irmão.

– E ela é cinco anos mais velha que ele. E os dois pretendem morar juntos.

– Quem diria que o seu irmão se casaria antes de você. Bom, embora o seu relacionamento seja longo, não me parece muito promissor.

– Bom, acho que a minha namorada não seria uma típica noiva. Ela é muito fria para isso.

Meu amigo gargalhou e depois perguntou:

– Mas você gostaria de se casar?

– Sempre achei que o casamento fosse algo mais racional, sempre pensei que fosse esse tipo de relacionamento que eu queria, até ver o jeito como o meu irmão se relaciona com a namorada.

– Você fala deles como se invejasse a mulher, não o relacionamento. – Ele me advertiu.

– Acho que estou um pouco obcecado por essa mulher. O pior é que ela não é o meu tipo de mulher. É tão pálida e magra, tem os cabelos curtos e fala e sorri demais. Mas tem alguma coisa nela que me atrai. O cheiro dela é bom, sabe. Eu gosto de olhar para ela, me acalma.

– Você se apaixonou pela sua cunhada, isso é uma merda.

– Não estou apaixonado, só estou com inveja do meu irmão.

– Você fala sobre ela com requintes de detalhes.

– Eu me masturbei logo depois de vê-la pela primeira vez, eu nunca fiz isso antes, eu não me masturbava há tempos, tenho total controle sobre mim, exceto quando essa mulher está por perto.

– Você não demonstrou isso, ou demonstrou?

– Eu a fiz correr de mim ontem quando segurei sua mão contra meu rosto e a beijei.

– Que merda, hein.

– Pelo menos tenho a desculpa de dizer que estava bêbado.

– Sim, finja que nada aconteceu, assim será mais fácil ela acreditar na sua teoria.

Fiquei imaginando o que Fabiana pensou ao acordar e perceber que eu não estava em casa. Imaginei que ela ficou chateada por não me encontrar, que ficou preocupada se eu saí ontem mesmo, ainda bêbado. Que ela insistiria para o meu irmão me ligar para saber se eu estava bem. Olhei para o visor do meu celular e não vi nenhuma chamada perdida. Repentinamente me senti carente e resolvi ligar para a minha namorada.

Para a minha decepção, ela não foi amistosa como eu desejei. Apenas perguntou se a cobra da minha mãe estava feliz por ela não estar comigo nessa viagem. Tentei ignorar a irritação por ouvir minha namorada chamar a minha mãe de cobra. Fabiana jamais a chamaria assim. Minha mãe jamais maltrataria Fabiana. Quando terminei a ligação, liguei para a minha mãe.

– Oi, filho. Eu já ia te ligar para te chamar para vir para cá comer uma pizza de forno.

– O Danilo vai?

– Eu ainda não liguei para ele. Como vocês tiveram um momento de rapazes, hoje eu queria um tempinho só com o meu mais velho. O Danilo tem companhia, ele pode passar essa noite só com a namorada, sem contar que eles sempre estão comigo, já você...

– Eu estarei aí para a pizza, mãe.

Dirigi até a casa dos meus pais com a cabeça cheia de pensamentos, entre eles o pensamento de que todo aquele sentimentalismo era culpa de Fabiana. Foi ela quem despertou essa necessidade em mim. A preocupação dela com o meu irmão e com o nosso relacionamento, a maneira como ela mostrou que minha família não tem qualquer problema em receber as namoradas dos filhos, e a própria preocupação dela comigo, apenas por ser irmão do namorado dela, mesmo depois daquele primeiro encontro embaraçoso, tudo isso fez com que eu desejasse ter mais do que eu tenho. E se fosse em outra época eu a odiaria por isso, mas quando entrei na casa dos meus pais e me sentei na cozinha observando minha mãe preparar a massa da pizza enquanto ela me falava animada de como tinha sido o encontro com suas amigas da igreja, eu me senti agradecido.

– O seu irmão me falou que ontem vocês beberam todas na noite dos rapazes.

– Bebemos um pouco além do recomendável.

– Pois é, ele me ligou me contando o quanto estava feliz por finalmente ter tido um tempo com você. Seu irmãozinho te ama.

– Ele não é mais um irmãozinho. – Comentei com um sorriso.

– Não é mesmo. Agora ele é um homem louco para se casar. Mas também, quem não gostaria de se casar com aquela moça? Eu a amo tanto, desde a primeira vez que a vi, e ainda mais depois de conviver com ela e ver como ela ama e respeita o meu caçula.

– Fabiana é uma mulher maravilhosa.

– É sim, você merece alguém como ela.

Se ela soubesse que eu queria exatamente aquele exemplar, não outro, acho que todo aquele amor daria espaço para uma bela bronca.

– Sabe, filho. Eu não implico com sua namorada só por implicar, mas eu não a vejo cuidar de você, nem mesmo se importar com as suas necessidades. A Jaqueline só se preocupa com ela mesma.

– Talvez eu não seja tão diferente dela, mãe. Quem sabe seja este o motivo de estarmos juntos?

– Não, você é meu filho e eu te conheço muito bem. Sei que sua ambição te mudou, não acho isso negativo, você lutou e é bem-sucedido. Conquistou o que ninguém da família conquistou antes, mas acho que você precisa começar a andar com pessoas com um pouco mais de sentimento.

– A Fabiana me disse a mesma coisa. – Deixei escapar.

– Então vocês têm conversado? – Ela perguntou animada.

– Não tivemos muito tempo juntos, mas ela me fez enxergar algumas coisas.

– Que bom, espero que vocês possam ser bons amigos.

Eu duvido muito, acho que o meu desejo por ela não permitiria uma proximidade saudável e mais cedo ou mais tarde ela ficaria tão assustada que contaria para alguém. Então um pensamento me veio: eu devia me afastar dela.

Mas me afastar de Fabiana seria a mesma coisa de me afastar da minha família. Embora a ideia fosse dolorosa, eu precisava desse espaço e tenho certeza de que ela também.

O IrmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora