I'm fine - One shot Jenlisa

Capítulo Único - Você ainda preenche meus dias

A ironia da dor começa quando a vontade de ser consolado é por quem mais lhe machucou, mas Lisa estava bem. Pelo menos era isso que ela tentou acreditar.

Flashback on.

- O que está olhando? A morena perguntou, levantando o olhar de seu caderno para mim. Estava imóvel fazia alguns minutos, talvez meia hora desde que ela começou a desenhar. Meu cotovelo se apoiava na mesa, enquanto meu queixo repousava sobre minha mão. Ainda mantive-me imóvel, sem esboçar reação e provavelmente estava com uma cara de idiota com a cabeça pendida para o lado. Você. - Respondi, abrindo um sorriso depois de ouvi-la rir. Era muito bom admirá-la.
   - Estou quase acabando. - Ela voltou a encarar o desenho, mas rapidamente voltou a me encarar. - Está me deixando constrangida, amor. 
Uni minhas sobrancelhas e endireitei-me na cadeira. Estou com tédio e você é muito perfeccionista, Jennie. - Eu sou arquiteta. - Rebateu ela, deixando seu lápis sobre o meio do caderno e assim o fechando.
Jennie se virou de frente a mim e passou a mão sobre a coxa de minha perna dobrada sobre a outra. - E você é fotógrafa.
Arregalei meus olhos ao vê-la sorrir com desafio.    
Ela estava me jogando contra a parede, é isso?
Quando estava prestes a responder, Jennie havia se inclinado e me beijado. Não foi algo tão profundo, apenas um encostar de lábios, como se fosse para me impedir de dar uma resposta fingindo estar brava.
  Eu queria ter a beijado mais profundamente.
Ambas nos separamos e nossos olhares fixaram-se. Posso ver? - Perguntei fazendo biquinho e ela arregalou os olhos. Dei uma risada nasalada e ela me entregou. Eu mantinha aquele caderno aberto sobre a mesa. A planta do interior de uma casa antes estava meio apagada, dava para ver nitidamente os borrões. Depois de um bom tempo desenhando, Jennie apagava de uma forma furiosa por não estar satisfeita com uma parte. Quando estivesse pronto ela tirava a foto e fazia o desenho digital. No desenho apontava que o quarto ficaria em cima, possuiria um banheiro. Abaixo estava um retângulo com o nome "sala" no centro, ao lado um caminho que ligava a cozinha e acima desta também havia outro banheiro, provavelmente para indicar as visitas. Em cima da parte da planta havia algo escrito: Lisa. Era pra ser a nossa casa.

Num pedaço de papel rasgado escrevi o que realmente sinto, então algo sobre você fica claro, sim, somos iguais, mas diferentes, você também se sente assim? Estou ficando cheia de esperanças.

Flashback off.

Apertei meus lábios e fechei os olhos com força. Me dei conta de que estava sozinha naquela mesa. A cadeira ao meu lado estava fora do lugar quando abri meus olhos. Olhei ao redor da minha sala. Estava completamente sozinha.
Fechei o caderno, dessa vez sem deixar o lápis o marcando. Naquele dia eu não havia trabalhado, não havia me preocupado em arrumar meu apartamento. Quando eu estava sozinha, tudo mantinha-se em ordem. E quando Jennie estava, era uma bagunça. Entretanto, ela não estava aqui.

Flashback on.

JENNIE! Gritei por ela, sendo surpreendida por um par de mãos me puxando. Ela me virou de frente para si. - VOCÊ QUER ME DEIXAR LOUCA? Ela tinha um sorriso malicioso estampado e bufei indignada. A sala está uma bagunça, você deixou meus quadros fora do lugar de novo. O sorriso da morena se desfez, senti seus braços se afrouxarem em minha cintura. Ela olhou para a cama e logo me encarou. - Por que não fala das fotos que ainda não foram penduradas? Porque sou perfeccionista. Respondi. É mesmo? Ela perguntou com ironia e sorrindo fingindo cinismo, logo se afastou de mim. Se sentou na cama em um pulo, fazendo as fotos saltarem sobre o colchão. Fiquei de pé de frente a seu corpo. Jennie espalhou, olhando uma por uma com atenção. Ela pegou todas as fotos e uniu em um bolo. Olhava uma foto, logo passava para o final do monte, assim sucessivamente. Encostei meus joelhos em suas pernas, segurei seu rosto com carinho.
As fotos ficaram ótimas. - Jennie levantou a cabeça para me encarar. - Ficarei com algumas se não se importar.
Estou pensando em pintar meu cabelo. Ela disse. Com que tempo? - Perguntei rindo. Subi meus dedos pelo seu rosto e ajeitei a franja em sua testa.- No que está pensando dessa vez? - De loiro. - Jennie voltou a encarar as fotos e tirou uma, mostrando uma foto de si mesma com um copo entre os dentes. - Eu estava melhor assim. Balancei a cabeça e abri um sorriso fechado. Está melhor de qualquer maneira. Declarei, pegando a foto de suas mãos. -E esta foto ficará comigo junto com outras suas.

Flashback off.

Quando um dia, mês, ou ano passar, estaremos vivendo vidas diferentes?

Me sentei na cama num pulo cansado. As fotos ainda continuavam sobre minha cama. Fiquei me perguntando o porquê não as pendurei quando sobrou tempo. Na verdade, eu deixei o tempo passar. Peguei as poucas fotos de Jennie mais as que tirei junto dela, como também fotos minhas, juntei-as e levantei-me. Fechei a porta atrás de mim, e me encostei nela. Deixei todo meu peso se expirar com a respiração que saia em meu lábios. Senti o celular vibrar em meu bolso e vi uma mensagem da Jisoo. 
   O enterro é daqui duas horas, ainda estou aqui embaixo te esperando.
Eu não respondi de imediato. Passei o dedo pela tela do celular até entrar na área de musicas, havia um arquivo separado entre elas. Coloquei o celular em meu ouvido e ouvi as palavras invadirem: Eu fiz meu cabelo ontem.- Pisquei variadas vezes, sentindo os olhos incharem. - Mudei um pouco a cor, e estranhamente havia tempo restante ontem. - Ela fez uma pausa e eu pude ouvir o som da sua respiração. Minha garganta se fechou. - Não... Agora eu nem sei porque estou falando contigo.
Mais uma vez a voz de Jennie fez uma pausa e fechei meus olhos, sentindo as lágrimas descerem. Ok. Fique bem.
A ligação havia sido mandada há uma semana, ela havia me ligado depois de um mês que terminamos. Na mesma semana havia saído a notícia de desabamento de uma obra que ainda estava em processo. Eu ouvi a voz de Jennie pela última vez nessa gravação um dia depois dessa notícia. E definitivamente eu não estava bem.

Eu continuo pensando
No nosso último momento
Você terminou tudo de forma simples, com um: se cuida
Ainda não
Digo pra mim mesma, como uma tola
Não consigo engolir as palavras entaladas
Não está tudo bem.