– COMO É QUE É? TE LIGARAM DE UM ORFANATO? O QUE ELES QUERIAM? – questionou Nathalia, curiosa. Ainda que a moça estivesse chateada com o namorado, percebeu que ele estava assustado após o telefonema.
Guto estava pensativo, mal podia acreditar no que tinha ouvido ao telefone. Ficou uns minutos calados, até resolver se pronunciar.
– A senhora... a secretária do tal orfanato... – Guto estava gaguejando, nervoso. – Ela disse que eu preciso ir até lá.
– Ir até lá? Mas... por que você está tão assustado? O que foi que a secretária falou exatamente? – indagou Nathalia. A resposta, no entanto, a assustou.
– Ela disse que eu preciso ir até lá para buscar os pertences do meu tio...
– Tio? – o espanto de Nathalia era nítido. – Como assim tio? Você me disse que não tinha mais nenhum familiar vivo e...
– Eu não tenho... não tinha. – interrompeu Guto, também assustado. – Tanto a minha mãe, quanto o meu pai eram filhos únicos... Ao menos foi o que me contaram... só que...
– Só que? – indagou Nathalia.
– Aparentemente, minha avó Edwirges teve um outro filho e o entregou ao orfanato...
– Misericórdia. – espantou-se Nathalia. – Mas, por que tua avó fez isso? Guto, não há possibilidade dessa secretária estar enganada? E, depois, como é que ela conseguiu teu telefone? Como ela sabia exatamente para onde ligar? E, o mais importante, por que só agora?
Nathalia estava enchendo o namorado de perguntas, mal percebeu que ele sabia tanto quanto ela. Guto sentou-se no sofá, colocou as mãos sobre a cabeça e se pôs a pensar, analisar toda aquela situação. Estava em extrema agonia, não sabia como reagir ou o que fazer. Nuca tinha ouvido falar de nenhum tio, seus avós e pais nunca lhes contaram nada a respeito. Ainda preocupado, decidiu responder.
– Eu não sei, Nath... Eu não sei. Estou tão confuso quanto você... aliás, sinto que estou bem mais confuso... eu tenho... tive um tio... – comentou, cabisbaixo.
– Tinha?
– Eu não sei... – Guto estava bastante aflito. – A secretária disse que há anos ele fugiu do orfanato, sem dar notícia. Há algumas semanas, encontraram uma lata enterrada nos fundos do orfanato. Dentro desta lata, tinham uns pertences do meu tio e uma carta... uma carta endereçada ao meu pai... – Guto agora estava lagrimando. Tudo aquilo era muito pesado e difícil para ele. Ainda assim, com muito custo, continuou a falar. – Há dias que a secretária estava tentando se comunicar com alguém da família... eu não sei como ela encontrou e isso não importa... Nath, eu posso ter um tio, entende? Um tio!
Guto agora estava em prantos. Por um momento, sentiu-se feliz apenas por imaginar que podia ter um tio, um familiar vivo. Sentia muita falta do pai, era difícil demais para ele não ter nenhum outro familiar no mundo. Agora, tinha a possibilidade de conhecer um tio que talvez nem soubesse de sua existência.
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Descendência Malter (Em processo de revisão )
HorrorQuinze anos se passaram desde o ocorrido na fazenda Malter. Guto, ainda que com cicatrizes, tentou seguir sua vida. Estudou, trabalhou, formou-se em administração e hoje, ao lado da namorada Nathalia, viveria uma vida razoavelmente boa em Porto Aleg...