Matty sempre fora um cara peculiar, de gostos peculiares. Naquele dia ele vestia uma calça preta rasgada nos joelhos, essa calça era a sua favorita, e lhe caia muito bem, ele sempre fazia uma boa escolha. Usava uma camisa social preta fosca da Ralph Lauren, claro que era, e uma jaqueta de couro com uma corrente na lateral, seus cabelos estavam bagunçados e no momento que eu o olhava, ele estava tentando junta-los em um coque, seus cachos caiam sobre os olhos, e por desistência, ou estilo, resolveu os deixar ali. Os cadarços do seu Vans estavam desamarrados, eu deveria dizer a ele que era melhor amarra-los ou iria acabar caindo, mas disso ele ja sabia, ainda o observando, o vi passando um café, inspirava o cheiro como se fosse o melhor cheiro do mundo, e pra ele, realmente era. Pegou sua xícara e se dirigiu a varanda, eu recuei, tomando cuidado para não ser notada, ele acendeu um cigarro com calma e tragava sem pressa, sem deixar que nada ou ninguém interrompesse aquele momento único que ele tinha consigo mesmo todos dias as 8am em ponto.
Seus lábios começaram a se mexer, estava cantando, andei cuidadosa até a outra janela, de onde podia ouvi-lo melhor, ele sorriu sozinho. O que será que ele esta pensando? Sua voz era maravilhosa. Sorriu mais uma vez e eu quis pela décima vez no dia beija-lo, e eram apenas 8:15am. Se sentou no chão da varanda, deixando seus pés suspensos no alto, olhava lá para baixo com tamanha atenção, o que ele esta procurando? Seu olhar estava distante, sempre misterioso, eu se quer conseguia imaginar...
Acendeu mais um cigarro, levantou pegando um cachecol, saiu, e em menos de dois minutos o vi na calçada, fazia frio em Londres, como sempre faz, e o frio combinava com Matty, aquele loft combinava com Matty, o cigarro lhe caia bem, e mais uma vez eu percebi, ele era todo poesia, da cabeça, aos pés. Havia algo nele, que nem Jane Austen poderia explicar, havia algo nele, sempre havia, e um dia, talvez, eu possa desvendar.
