Capitulo 1

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Aly Mendonça Soares, de 17 anos, encarava uma situação inesperada e assustadora. Acabara de descobrir que estava grávida. A notícia a atingiu com a força de um furacão, trazendo medo e insegurança. Morando com a mãe no interior de São Paulo, em uma casa simples, a vida sempre foi focada nos estudos. A saída do pai, quando Aly tinha apenas dois anos, fortaleceu o vínculo entre mãe e filha. A mãe, batalhadora e sonhadora, via na educação a chance de romper o ciclo de vida simples que as cercava.

Aly havia acabado de se formar, e a mãe, radiante de orgulho, chegara a fazer uma festa para comemorar a conquista. Mas o destino, como diria sua avó, parecia ter outros planos. A gravidez inesperada era um baque, e Aly se culpava por não ter se precavido.

Além do medo da reação da mãe, que Aly temia ser violenta, pairava a dúvida sobre o que fazer com Bernardo, o pai da criança. O relacionamento deles era casual, e Aly precisava decidir se contaria a ele sobre a gravidez.

— Aly, desça aqui, preciso de ajuda — a mãe dela fala do andar de baixo.

— Já estou indo, mãe — Aly responde.

Ela respira fundo e lava o rosto para remover os vestígios do choro recente. Ao descer para o andar de baixo, vê sua mãe guardando as compras que trouxera do mercado.

— Oi, mãe, o que a senhora quer que eu faça? — Aly pergunta enquanto sua mãe a olha.

— Por que está com os olhos vermelhos, você chorou?

— Não, foi porque acordei tarde — Aly responde, sorrindo para sua mãe, que dá de ombros e pede para ela terminar de arrumar as coisas e fazer o almoço, pois precisaria voltar para o trabalho e só retornaria à noite.

Após a saída dela, Aly cumpre todas as tarefas e, em seguida, sobe para o quarto e liga para Bernardo, que atende no segundo toque.

— Oi, gostosa, já está com saudades de mim? — ele diz com uma voz safada, e Aly revira os olhos.

— Eu preciso conversar com você, Bernardo.

— O que é? Diga, você já está falando comigo mesmo.

— Não assim, é algo sério e precisa ser pessoalmente.

— Passo aí na sua casa então hoje à noite, pode ser?

— Tem como você vir agora à tarde? Estou sozinha e... — Ele não a deixa terminar a frase e desliga a ligação.

— Idiota. — Aly guarda o celular e fica ali com as mãos na barriga, pensando no que será dela se ele não quiser assumir a criança.

À medida que a tarde avança, a ansiedade toma conta dela. Até que ouve batidas na porta e, ao abrir, depara-se com Bernardo, que entra com um sorriso descontraído.

— Oi, gostosa! — Ele fala, já se aproximando dela, puxando-a pela cintura e a beijando. Os beijos dele são bons, e Aly acaba se entregando ao momento e correspondendo, mas quando lembra do real motivo pelo qual ele está ali, se afasta dele.

— O que foi, gata? Estava tão bom — Ele diz, enquanto se acomoda no sofá.

— Eu sei, mas não foi por isso que te chamei aqui — responde ela, hesitando por um momento antes de começar a explicar a situação e contar sobre a descoberta da gravidez, seus medos e incertezas.

— Aly, eu não esperava por isso. Eu... Eu não sei o que dizer — Bernardo parece surpreso e nervoso ao mesmo tempo.

— Eu entendo que isso é inesperado para ambos, mas eu não quero passar por isso sozinha. Eu só tenho 17 anos, e minha mãe vai me matar quando descobrir — Aly explica, olhando para ele com expectativa.

— Você tem certeza de que esse bebê é meu? — Ele questiona, parecendo preocupado.

— Claro que é, seu idiota. Você foi meu primeiro, eu não fiquei com mais ninguém — Aly responde, frustrada com a dúvida dele.

— Eu não posso ser pai agora, Aly. Eu não posso assumir essa criança. Eu gosto muito de você, mas eu não posso fazer isso. Se meus pais descobrirem, eles vão me matar — Bernardo responde, tentando justificar sua posição.

— Sério que você está me deixando sozinha nessa? Você tem 23 anos, Bernardo, como pode ter medo dos seus pais? — Aly pergunta, sentindo os olhos se encherem de lágrimas.

— Porque eles são quem me banca, Aly. Você acha que eu trabalho para ter todos os luxos que eu tenho? — Bernardo admite, olhando para baixo com uma expressão de culpa.

Aly sente seu coração apertar diante das palavras dele. Ela percebe que está sozinha nessa batalha, e uma sensação de desamparo a envolve.

— Então é isso... Você está me deixando sozinha com tudo isso? — Aly murmura, lutando para conter as lágrimas.

Bernardo abaixa os olhos, incapaz de enfrentar o olhar magoado dela.

— Eu sinto muito, Aly. Eu realmente gosto de você, mas... Eu simplesmente não posso assumir essa responsabilidade agora — ele diz, envergonhado.

Aly engole em seco, sentindo-se traída e abandonada. Ela percebe que terá que enfrentar essa jornada sozinha, sem o apoio dele.

— Tudo bem. Eu entendo — Aly diz, tentando manter a compostura apesar da dor dilacerante em seu peito. — Você pode ir embora agora.

Bernardo se levanta, olhando para ela com uma expressão de culpa e desconforto.

— Desculpe, Aly. Eu espero que você entenda — ele diz, antes de sair pela porta.

Aly senta-se no sofá, perdida em pensamentos, enquanto a realidade cruel se instala ao seu redor. As lágrimas finalmente escapam, trilhando caminhos silenciosos pelo seu rosto. Ela respira fundo, tentando encontrar forças para enfrentar o que está por vir.

Olhando ao redor do pequeno apartamento, que agora parece maior e mais vazio do que nunca, Aly espera que sua mãe a ajude quando ela finalmente tiver coragem para falar com ela.

(...)

Depois que minha mãe chegou do trabalho, nos sentamos à mesa para jantar. E como eu não estava tocando na comida, minha mãe pergunta.

— Está tudo bem Aly?

— Está sim mãe, só estou sem fome.— dou um sorriso sem graça pra ela

— Você pode me contar o que está te pertubando? Eu sou a sua mãe e sei que você está mentindo.— ela fala séria

— Tudo bem mãe, a gente precisa conversar, a senhora tem razão, tem algo acontecendo comigo sim.

Ela se vira para mim, percebendo a seriedade na minha expressão. Seus olhos se encontram com os meus, e por um instante, vejo preocupação e curiosidade em seu olhar.

— O que foi, Aly? — Ela pergunta agora me olhando e eu respiro fundo, buscando forças.

— Eu... Eu estou grávida, mãe. — As palavras saem mais difíceis do que eu imaginava, e vejo a expressão dela mudar de preocupação para indignada. — Eu não sei o que fazer, e... eu preciso da sua ajuda.


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