Era a primeira vez que Melissa jantava com os pais em um restaurante. Era muito bonito, a mesa que Pedro escolhera ficava separada do restante do ambiente por um biombo de palha. Ela tentava inutilmente disfarçar um riso bobo e teimoso em seu rosto. Sempre sonhou que um dia viveria exatamente aquela cena. Pedro revirava sua comida sem muita coragem de iniciar a conversa para a qual o jantar havia sido marcado.
_ Melissa...
_ Sim... Pai. – disse, ainda mastigando.
_ Sua mãe me contou sobre o seu ex-chefe.
_ Ah... – suas bochechas ficaram vermelhas. _ Isso já foi resolvido. Está tudo bem agora.
_ Eu sei... Graças a Deus. Mas podia ter sido diferente. Você correu um grande perigo. Filha... Você tem que confiar em sua mãe. Se tiver qualquer dúvida, sobre alguém ou sobre qualquer coisa, precisa falar com ela, ou comigo... Com seu avô, sei lá. – Raquel lançou-lhe um olhar reprovador. Não queria ver a filha de intimidade com o avô.
_ Tudo bem, pai. Eu vou falar.
_ É sério. Não precisa ter medo de conversar com a gente sobre nada. Entendeu?
_ Ok. Já entendi. Relaxa.
_ Você e Rafael já conversaram sobre isso?
A garota se engasgou com o refrigerante. Tossiu algumas vezes antes de retomar o ar.
_ Não. – olhou para os pais, confusa. _ Claro que não! Por favor. Ele não vai entender. Não quero que ele saiba. O Rafael não.
Pedro não tinha experiência alguma em dar conselhos para uma adolescente, mas fez o que pôde, apesar de certo constrangimento. A menina notou o fato de o pai nem ao menos comentar sobre o sumiço de seu ex-chefe. Parecia que todos estavam de acordo com o destino de Miguel. Depois dessa conversa difícil, o jantar acabou se tornando um encontro muito agradável. Pedro e Raquel eram mesmo bons amigos. Tinham ainda algumas piadas internas e muito antigas que Melissa nem insistiu em entender, mas voltou feliz para casa.
E na casa ao lado, Yolanda desfazia as malas do marido. O homem tinha deixado a amante e voltava para a casa. Alice não saiu de seu quarto, apesar de toda a insistência da mãe. Yolanda batia com força na porta.
_ Filha... O papai está em casa! Venha dar um beijo nele.
_ Depois, estou entrando no banho.
Alice ligou o chuveiro, deixou a água escorrendo pelo ralo, foi até a janela e pulou-a com facilidade. Em segundos estava no quarto da amiga.
_ Meu pai acabou de voltar para casa. O que eu faço?
Pedro empurrou a porta com o quadril e entrou no quarto, deixando uma bandeja com suco sobre a penteadeira.
_ Tudo bem com vocês? Algum problema?
_ Pai... A gente está conversando. Por favor...
_ Ah... Sim. Desculpa aí.
Mas mesmo sem querer, ele acabou ouvindo a conversa.
_ Levou o suco? – perguntou Raquel, enquanto colocava a mesa.
_ Levei... Que coisa estranha...
_ O que é estranho?
_ O pai da menina voltou, mas ela não parece feliz.
Pedro foi embora e Raquel foi até o quarto da filha.
_ Mãe... Custa bater na porta? – ela já sabia que ouviria isso. Como sempre, não deu importância.
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Muito prazer... Sou sua filha
RomanceMelissa é uma adolescente teimosa e inteligente, que vive sua adolescência na ingênua década de noventa. Numa rua arborizada da periferia, entre a escola, primeiro namoro, os amigos e as brincadeiras de rua comuns da época, ela cresce insistindo no...