Capítulo 44

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Nossos corpos estavam exaustos, mas, cheios ainda de adrenalina, cheiros, marcas, delírios em nossas vozes, suor, e muito amor...

- Nunca senti tanta energia explodir dentro de mim! - Comentou Lia.

- Vocês são maravilhosas. Agora, preciso fazer uma pergunta a vocês duas. - Karlia olhou nós duas.

- Pode perguntar. - Olhei-a gentilmente.

- Como foi o parto da minha irmã? Eu tenho um carinho muito forte por aqueles meninos, por mais que tenha pouco tempo...

Lia olhou pra mim, como senão esperasse uma pergunta dessas depois dessa adrenalina gostosa que tivemos. Mas, sorri com a pergunta dela. Porque eu estava em paz, já Lia nem tanto, mas, ficou quieta.

- Bom... Foi inesperado, e, de risco, mas, toda hora a Joice pedia a mim: "Salve meus filhos, preciso que salve-os". Eu fiz o primeiro parto dela, o da Cíntia.  Joice teve expressões faciais fortes, exalava muita dor, mas, quando nasceu a primeira, o rosto dela brilhando em suor e desespero, virou o próprio Sol se abrindo, após meses de um terrível e sombrio Inverno. E eu lembro que no início, o que acalmou ela, foi dizer que logo, a Lia estaria aqui conosco.

Lia se emociona e se retira dali, pegando suas roupas. Karlia fica preocupada, mas, falei: "Deixa, depois ela volta".

- Continuando... Ela deu o nome de Cintia, quando a tinha em seus braços, por mais prematura que tenha nascido, nasceu forte e numa piscina da casa da Lia. Ficou brevemente nos braços dela, fiquei tão feliz com aquele momento que não cabia mais em mim a emoção, por mais terrível fato tenha acontecido anteriormente. A ajuda chegou prontamente, para carregar a Joice para cama, pois, o segundo parto era mais complicado, foi aí, que meu mundo desabou, a enfermeira que fez o parto do Ícaro, não vi esse, preferi não ver, pois, já pressentia algo ruim, na expressão da Joice quando a levaram, seu rosto estava ficando já pálido e seus lábios roxos, quando nasceu consegui me animar, peguei no Ícaro e disse: "Olha meu amor você conseguiu, você conseguiu". Mas, só vi seus olhos sorrirem brevemente, nenhum som saía dela, nem pra dizer que estava bem, ou, feliz, e nessas horas entendemos bem o significado de uma simples expressão no rosto, ela descansou em paz e feliz por ter cumprido o que queria, salvar os filhos dela. Mesmo sabendo que antes, tinha implorado a mim, para eu não deixá-la morrer. Por isso eu fiz o impossível do possível, para salvar minha mulher, porque Joice tinha implorado pra que eu fizesse de tudo para salvar sua vida.

Karlia coloca a mão na boca e chora, como se tivesse sentido toda responsabilidade e desespero que presenciei naquele dia com sua irmã. E sentia que a Lia estava por perto ouvindo ainda. Dessa vez não chorei, talvez, como eu disse, estou em paz... Dei tudo de mim para salvá-la e Joice é grata por isso, pois em seu último suspiro, foi de paz... E felicidade. Por mais triste eu estava e não queria aceitar, mas, ela foi em paz... E com um sorriso nos olhos.

- Quando beijei a boca dela, ainda sentia o quente dos seus lábios, e, dizia pra mim mesma: "Ela está viva ainda, ainda sinto o calor da pele dela".

- Manu... Você nunca contou isso pra mim! Eu queria tanto saber desses últimos detalhes que teve com ela! - Reaparece Lia, com rosto cheio de lágrimas. Abri meus braços para as duas me abraçarem.

- Você nunca perguntou... Karlia perguntou. Só sei que quando a beijei, sentia esperança de tirar a morte que já habitava dela, para transferir um pouco dela a mim, e assim não perdê-la, para a morte.

- Eu que nunca me importei pela vida dos outros.... E muito menos pela morte que eu dei a tantas pessoas, senti pavor de ter imaginado a morte de uma mulher que tinha tanta vida ainda para ser vivida. E vocês não sabem, eu tinha pedido para minha segurança me matar dentro do carro, nem coragem para me matar eu tive, precisei de alguém para fazer isso por mim, e, isso por causa da notícia que eu soube naquele último minuto de que a minha Joice tinha sido assassinada por uma mulher que me envolvia. Foi um choque tão grande que não imaginava que seria isso que me deixou morta por três anos, essa morte que habitava em mim, era o sentimento de culpa. Como se todas as vidas que eu tirei estivessem me pedindo conta, foi pela primeira vez que tinha sentido também remorso por tudo de mal que já causei.

- O amor é o milagre, Lia. O amor cura, preenche todo esse vazio, nos liberta das correntes terríveis de nossos fardos e sofrimentos que já causamos e sentimos. Há uma beleza na alma que só o amor despe. E eu, acredito que Karlia também, somos muito felizes por termos você em nossas vidas. Você é o exemplo do poder de cura que o amor causa numa mente que só presenciou dor e violência.

- Eu amo vocês e quero envelhecer aqui nessa ilha da Espanha, com vocês. - Sussurrou Lia a nós.

Sorrimos nós três e sentia que estávamos agora, em plena paz. Gratidão, Joice por nos ensinar a valorizar a vida e a morrer com seu objetivo maior cumprido, que era simplesmente deixar um pouco de você, ou, tudo de si, ainda, nesse mundo material tão passageiro.  Ficamos ali por mais alguns minutos, em silêncio, só escutando a brisa brincando com o som do mar, formando aquela melodia agradável de ser ouvida.

- Vamos, temos uma Joice para trazer pra cá. - Ela estava num local de extrema proteção e conservação, no Egito.

As Faces do Amor - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora