here we go again

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Seria minha imaginação?

Pela primeira vez em minha vida eu fui para em lugar nenhum, bom, não é exatamente um espaço em vácuo, é mais como uma cidade que não faço ideia de onde seja, talvez até mesmo uma das ruas nobres de Toronto que nunca tive o interesse de conhecer, algum lugar na elite de Nova York, ou na Itália com toda a sua arquitetura clássica, eu poderia dizer medieval também, mas a palavra me parece um tanto agressivo, e não faço ideia do motivo. O que tento dizer é que nunca vi essa paisagem antes, é bonita - preciso dizer - tem cara de um lugar que eu amaria viver se não tivesse... bem, não quero soar arrogante ou narcisista, mas eu preciso dizer que não viveria aqui por conta da fama que tenho, é uma localização bem reveladora, seria como ter um cartaz enorme escrito "Ei, Shawn Mendes mora aqui, que tal dar uma espiadinha pela janela?".
Pensamentos nada produtivos a parte, pra onde eu devo ir? Porque se o universo me mandou pra cá algum motivo certamente deve existir. Olho para a esquerda em busca de algo, mas tudo que vejo mais pra cima é uma espécie de lago, realmente semelhante a Itália, talvez eu esteja nessa pais afinal. O sol está alto, deve ser algum momento em torno das quatro ou cinco da tarde, estou exposto demais, em um lugar amplo demais, com um movimento constante por perto, na linha do lago, ou rio, não sei bem a diferença. Quando um homem de meia idade com uma câmera pendurada por uma cordinha no pescoço desce a rua na qual me encontro fico um m pouco nervoso e me viro para o lado contrário quase no mesmo segundo, espero que meu moletom não chame muita atenção, o boné também deve ajudar em algo eu espero.
Mas o homem branco com um óculos de sol redondo anda bem lentamente e ao passar do meu lado curva os lábios em um sorriso amigável e acena com a cabeça, eu levanto minha cabeça para ele e aceno de volta, então ele para no lugar, como se tivesse puxado o freio de uma só vez.

- Desculpa a pergunta, meu jovem, mas eu te conheço? - sua voz grave tem um forte sotaque irlandês, mas ele fala inglês então assumo que essa seja a língua nativa de onde me encontro, podemos descartar a Itália, por hora - Seu rosto é realmente familiar.

Eu penso por um mínimo segundo, qual resposta eu deveria dar para esse homem? E se ele me reconhecer pela voz? Afinal não seria tão difícil, uma vez que meu trabalho e fazer as pessoas me ouvirem e me reconhecerem pelo meu timbre. Eu raspo a garganta e tento deixar minha voz mais grossa do que ela é na verdade, sei que vai sair péssimo, mas também tento arriscar um sotaque britânico, olhando agora para as construções se parece muito com os pontos turísticos do Reino Unido.

- Acredito que não, senhor, não acho que já tenhâmos nos encontrado - tento soar simpático, mas só me faz parecer estranho.

- Claro, devo ter me confundido, me desculpe pelo incomodo, muitos rostos parecidos aqui em Canterbury, por toda Inglaterra na verdade - então se vira novamente rindo de sua própria piada, mas posso vê-lo pelo canto do olho puxar o celular do bolso e lentamente digitar sua senha, não consigo pensar em mais nada que não seja sair dali.

Ando rápido mas sem fazer barulho, saindo de fininho de perto do homem, entro em uma das ruas pela direita e espio o possível turista da esquina em que me encontro, apesar de tudo ele me deu uma localização valiosa, pelo menos já sei onde estpu. Ele fica passando o dedo para o lado no celular, como se estivesse vendo fotos ou algo assim, talvez algum storie, procurando por algo, e quando finalmente acha se vira para trás - na direção em que eu estava segundos atrás - e tem um sorriso sínico nós lábios, que logo murcha ao não me encontrar onde esperava. Seus olhos varrem o local e ele sobe a rua outra vez, sei que preciso me mover logo, mas a minha ficha só caiu agora.

Eu posso ser visto, eu fui visto, eu estou no mesmo plano que qualquer pessoa desse
lugar e não sei o que fazer sobre isso.

Algo congelou, como se o mundo parasse para fazer meu constrangimento ser maior, para que alguma força divina me fizesse lembrar como se respira, porque eu aparentemente esqueci como o fazer.
Ele está me vendo, tenho noção disso, mas meu sangue parece não sentir mais a mínima vontade de voltar a correr pelo meu corpo. Ele está me vendo e não faço ideia do que fazer com isso, ele me vê e eu estou perdido, sendo visto em um lugar bem distante de casa.
Estamos aqui, ambos com olhos um tanto arregalados, soando meio patético, sinto pela primeira vez uma vergonha absurda por conseguir fazer algo tão extraordinário, eu pensava ser uma dádiva, mas a cada nervo que se contrai em surpresa no rosto do homem a minha frente, eu me sinto pior com toda a situação. Seus olhos me alçaram agora, nós só estamos a uma esquina de distância e eu normalmente pararia e tiraria uma foto com ele, feliz e animado de conhecer um fã ou admirador de meu trabalho, mas não dessa vez, porque me sinto extremamente nervoso e exposto e vulnerável e não sei o que dizer, ou falar, como me portar, e se ele postasse a foto e ela tivesse um grande alcance? Coisas como "Shawn Mendes é visto na Inglaterra, como e qual a razão do cantor estar por lá?" sendo noticiadas, não quero e não preciso disso. Por essa razão forço meus músculos a se moverem e disparo rua a cima.
É engraçado pensar na visão de eu correndo, mas estou muito nervoso para achar graça no momento, a rua tem um formato estranho, além de ficar um pouco mais estreita também não é em linha reta, estou correndo em uma diagonal, o que na verdade ajuda a fazer o turista me perder de vista porque eu sei que ele está correndo atrás de mim. Presumo que eu esteja um tanto quanto sedentário nesse processo de criação do álbum, ou minhas energias estão fracas, pois não consigo mais correm, meus pulmões ardem como fogo e sei que preciso sair da vista dessa homem.
Parado no meio da rua me sinto perdido, pra onde deveria ir? Não posso simplesmente sair batendo de porta em porta e me esconder em uma que ninguém sabe quem eu sou, as coisas não funcionam assim. E eu já posso ouvir os passos pesados do homem quando decido me esconder em uma das árvores no quintal de uma das casas do meu lado direito, não são muito grandes mas é o suficiente pra me esconder quando agacho no chão, essa que me deixa invisível fica na lateral da casa, sem chance do homem me ver. E quando ele passa ainda correndo pela frente da casa eu suspiro cansado, fugi dessa e foi por muito pouco.
Espero minha respiração melhorar e então me levanto, pensando em como vou ir pra casa, não tenho celular, computador, GPS, ou nenhum dos meus cartões de crédito, não tenho nada e não sei onde estou exatamente, apenas um nome de uma cidade que me lembro vagamente de ser perto de Londres. Olho para os lados e algo vindo de dentro da casa da qual a árvore pertence me chama a atenção.
Alí está ela, do lado de dentro, Camila em sua cozinha, cantando e sendo feliz. Talvez eu entenda o que o universo me mostra agora, era tudo um plano para que eu a encontrasse, e também estou feliz agora. Ando para o fundo da casa quando vejo o turista descendo a rua outra vez, provavelmente de saco cheio de me procurar, o observo ir embora lentamente quando ele vira o olhar na minha direção, eu mal olho pra onde vou, só sei que as duas grandes portas de vidro contornadas com madeira estavam abertas e eu entrei, com um pouco de sorte ele não me viu.
Mas agora que me viro Camila está bem em minha frente passando os dedos pelo longo cabelo cacheado enquanto se olha em um dos espelhos da portinha do armário e ouve minha mais nova música, ou deveria dizer a sua mais nova música?
A

gora me lembro de como tudo ocorreu, eu estava distraído escrevendo minha próxima faixa, uma das últimas do álbum, a mais pessoal, e pra ser sincero não tenho certeza se a colocarei, nunca me expus tanto assim.
Mas foi no mesmo lugar, na sacada, quando pisquei e fui parar em outro lugar, eu queria inspiração, pedia por isso e bom... ganhei uma visita a minha musa. Mas dessa vez não fui parar diretamente no mesmo cômodo que Camila, que ainda se encontra totalmente alheia sobre a minha presença, agora andando de um lugar para o outro enquanto cozinha - cantando e dançando -algo de cheiro maravillosamente bem.
A cozinha é muito bonita, clara e iluminada, uma mesa branca de madeira no centro com a cozinha planejada, me lembra da de casa,  tirando o fato de que eu uso cores escuras.
Caminho para mais perto da garota que veste um shorts simples de jeans preto e uma blusa branca aparentemente lisa, linda e natural, antes de abrir a panela para checar sua futura refeição ela levanta seus cabelos e os prende em um coque - do qual não sou nenhum especialista, mas me parece mal feito, meio frouxo, não que isso a torne menos atraente - que pende para a direita, quase caindo.

- Adorável, Camila - digo um um volume neutro.

Mas derrepente ela para seus movimentos, congela, certamente ouviu algo, me preocupo no mesmo instante, teria alguém invadido a casa? Como em câmera lenta ela se vira para mim abrindo a boca juntamente aos olhos, pavor, surpresa, e medo estão espalhados lutando pela liderença em suas expressões. Não entendo, ela olha em minha direção, o que me fez pensar se tem alguém ou algo atrás de mim, um ladrão ou rato qualquer.
Até que eu me lembro outra vez de que essa não é uma viagem normal.

- Ai meu Deus! - é tudo que ela é capaz de dizer enquanto me olha dos pés a cabeça, muitas vezes.

can't you see? // shawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora