Olhares

Intocável

  Meus olhos se abriram com dificuldade.
A luz do sol reluziu sobre as janelas do meu quarto, pairando sobre o piso de mármore. Era raios de sol serenos, devia ser umas 6 horas da manhã. Me espriguicei fazendo meu cobertor se mexer e alguns ossos estalarem de leve. Pego meu celular que estava debaixo do travesseiro e suspiro.
Estava descarregado.
— Droga. — Falei com cansaço.
Sento-me na cama e procuro as minhas pantufas com os pés.
As encontro e aproveito-me do conforto que ele trás até mim.
Levanto.
Estava nua.
Os raios de sol se conectavam com o meu corpo, e minha pele brilhava em tons de âmbar.
Eu era branca.
Leve.
Linda.
Nua.
Talvez alguém achasse estranho uma mulher dormir pelada, mas eu gostava.
Gostava principalmente de outra pele como roupa.
Um vento frio percorreu meu corpo.
Tremi.
Pego novamente no celular e o coloco no carregador.
Olho pra tomada em cima do criado mudo ao lado da minha cama, e reviro os olhos.
Poderia tê-lo colocado pra carregar ontem, mas por exaustão não fui. E isso custou caro pois queria meu celular.
E infelizmente, não o tive.
Fui estúpida.
                                    ❉❉❉
                                   
  Andei seguindo até às escadas. Os espelhos que decoravam os corredores refletiam minha beleza. Tudo em mim poderia cair.
Meu dinheiro.
Minha beleza.
Meus meninos.
Mas nunca. Nunca.
Minha auto-estima. Ela é intacta.
Desci as escadas com delicadeza. Minhas mãos passava pelos detalhes do Cedro e da Cerejeira que existia no mármore. Tudo era lindo, eu amava essa casa. E ela era minha por 30 dias. Queria que as férias dos meus pais só aumentassem.
Paro no meio da escada interrompida por um pensamento.
"30 dias".
  Tinha 30 dias pra escolher qual companhia iria me acompanhar por essa casa enorme, pelo meu quarto, e pelo meu corpo.
Tudo era impecável. Luxuosamente impecável. Nem mesmo parecia que minhas digitais ficavam presas no corrimão.
Continuei descendo às escadas acompanhada pelo meus pensamentos.
Eu me sentia uma mulher empoderada, milionária. Como se tivesse um marido milionário, porém morto. Eu exercera toda a fortuna que eu tinha direito e gastava cada dólar que existia em meu bolso. Mas eu lembrei da realidade.
  Eu era apenas uma jovem acabando o terceiro ano do ensino médio, em uma escola pública e pacata. Odiava no começo.
Meus pais acreditavam que seria uma garota mimada em uma escola particular, e acharam que seria humilde em uma escola "normal".
Se enganaram.
Eu os agradeço por tá nessa escola.
Tenho minhas amigas, minha fama e alguns dos meus garotos.
Não os trocaria por nada.
Nenhum motivo.
Na verdade, só um.
Uma pessoa.
Izac.