Chapter one

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06 de abril, às 09:14

      Como agir em sua primeira entrevista de trabalho? Demonstrar ser a primeira e o quão iniciante ainda sou ou mostrar segurança e autoconfiança e experiência naquilo? O fato de eu ter me formado há exatamente quarto meses atrás e já estar tentando uma das maiores empresas de Seattle causa um certo pânico e, obviamente, insegurança. Por que eu não tinha desistido? Mas, claro, a Bettany Kate West nunca permitiria, ela sempre esteve comigo, desde a época do colegial, estudamos juntas, nos formamos juntas, fomos à faculdade juntas, fizemos o mesmo curso e aqui estávamos, tentando o mesmo setor na mesma empresa, seria loucura se eu dissesse que tudo isso foi obra do destino.

      ─ Se uma passar e a outra não, continuaremos amigas, ok? Nada vai mudar, uma vai dar apoio a outra. ─ minha falta de esperança falou por mim, arrancando risos irônicos da loira.

      ─ Nós duas vamos conseguir, são dez vagas para mil inscritos, não é? Não é possível que vamos ter o imenso azar de ficar entre os novecentos e noventa. Eu não quero vender mais picolé gourmet numa barraca suja e velha não, Rose! ─ rebateu, mostrando revolta e a típica ironia da mesma.

      ─ Está mais para dez mil inscritos. ─ resmunguei baixo, logo sentindo suas mãos segurarem meus ombros e me fazendo olhar para ela de imediato.

      ─ Rosalie Anne Wright, você vai entrar naquela sala e dar o seu melhor, se você não passar como redatora principal, assim como eu, é claro. ─ se ela não se gabar, não é a Betty. ─ Eu juro que faço você entrar nem que seja como limpadora de janelas.

      Seu tom brincalhão me deixava mais leve, talvez até mesmo pronta para aquela entrevista, eu queria me superar, profissionalmente e como pessoa, mostrar para mim mesma e para a minha família que eu consigo, mostrar que eu não passei quatro anos da minha vida estudando naquela área especifica em vão, iria provar a mim mesma que ao menos uma vez na vida eu tinha a sorte de alcançar meu objetivo já da primeira tentativa e iria olhar para trás e me orgulhar da mulher que consegui me transformar, sendo grata por toda as dádivas conquistadas.


Meses depois...


4 de setembro, às 17:57 pm
.

      As ruas estavam movimentadas, o sol tímido, se punha em meio às montanhas escondidas pelos grandes prédios do centro de Seattle. Betty e eu saíamos do prédio após um longo dia de trabalho, era incrível pensar que fazia quase cinco meses que começamos nosso primeiro emprego, e dessa vez não envolvia um picolé ou pipoca no meio da rua, se tratava de uma empresa de grande porte, nomeada como uma das melhores e mais responsáveis dos Estados Unidos, tem noção dessa responsabilidade? Não imaginei dizer isso, mas os quatro anos de estudo intensivo valeu muito a pena, trabalhar com algo que gosta é melhor que tudo o que se pode imaginar na vida adulta, escrever era tudo o que eu mais gostava, ainda mais quando minha parceira de equipe era a minha melhor amiga do colegial e ainda morava na mesma casa que eu. O fato de trabalharmos juntas, havia uma necessidade de termos sincronia e parceria para fazer artigos sobre coisas diversas do cotidiano. Algumas editoras estavam atrás de nosso mais novo artigo: Moda, como seguir sem abusar? Onde tratávamos exatamente o exagero da moda em alguns sentidos e a busca de como os fascinados por ela seguiam de qualquer maneira. Fazia parte da nossa coletânea, ao qual eu e Betty metemos a cara para pesquisar e passar noites em claro escrevendo, fora as entrevistas que fazíamos para sites de notícias, tudo chegava a ser bem cansativo.

      Eu dirigia meu Chevrolet Chevette, dado por meus pais no ano em que me mudei para Seattle, Betty vinha ao meu lado falando sobre novos investidores gatinhos que ela havia visto enquanto saíamos da empresa, ela acusa ter visto eles piscarem para ela, mas eu apenas ria, Betty e suas alucinações. Todavia, não acho improvável, a loira é muito bonita e bem-educada, tinha uma autoconfiança indomável, fácil ser admirada de longe.

      ─ Não que eu não esteja gostando do nosso emprego, mas sinceramente, eu acho que gostaria mais de estar viajando como os outros. Imagina só, Londres, Nova Iorque, Paris, Japão, Austrália, ah... ─ a loira dizia, sem deixar de sonhar é claro.

      ─ Você nunca vai se satisfazer com nada, Betty. ─ minha cabeça balançava de um lado para o outro em forma de negação, com um pequeno sorriso cortando meus lábios. Assim que consegui fazer a baliza, estacionando o antigo veículo na vaga reservada para nós, descemos do mesmo e eu pude enfiar a chave no local apropriado, podendo assim travar o carro. Logo após tal processo, subimos para o quarto andar onde morávamos. Morar com a melhor amiga do colegial parecia um sonho realizado, mas a Betty fazia isso ser o meu maior pesadelo algumas vezes.

      ─ O jantar e a louça ficará pela sua conta hoje, eu estou muito cansada e arrumei a casa ontem. ─ ela dizia enquanto jogava seus sapatos longe e deitava no único sofá de dois lugares.

      ─ Está cansada? É mesmo, senhorita West? Ótimo, então enquanto eu arrumo a cozinha, você envia todos os e-mails para todos os nossos queridos investidores e pesquisa sobre novas marcas que estão sendo lançadas nesta semana.

      Eu sabia que seria muito trabalho, mas jogávamos sem regras, portanto eu faria muito bem a minha parte. Tinha um sorriso um tanto desafiador em meus lábios, enquanto ela apenas revirava seus olhos em forma de negação à minha "ordem".

      ─ Isso é jogo sujo! Mas terá uma volta, aguarde-me!

      Nossa convivência era muito boa, mantínhamos um bom contato, tanto em casa como no trabalho, claro que o fato de nos conhecermos tão bem há bastante tempo contribuía para não brigarmos com muita frequência. Nos conhecíamos em tudo e sempre tivemos liberdade de falar uma a outra, caso algo nos incomodasse.

      Todos da empresa estavam eufóricos, a correria era maior do que o costume e todas as ordens eram bem distribuídas pelas salas: manter todos os escritórios bem organizados, sem nenhum grão de poeira a mostra. Betty e eu caminhávamos pelo granito escuro do piso do corredor do terceiro andar sem entender muito bem o motivo de toda aquela agitação, a grande notícia era que o presidente, ou seja, o chefe de todos os chefes da Price's estava a caminho da empresa, depois de quase cinco anos fora do país ele finalmente estava de volta. Tudo bem, são muitos anos longe de sua própria empresa, mas não conseguia entender o motivo de tanta euforia, todos deviam ser profissionais, como são todos os dias, ao contrário disso, até os gerentes mostravam nervosismo com a chegada do presidente.

      ─ Já consegue imaginar como deve ser o poderosão? ─ Betty se referia ao dono misterioso, era notável o sorriso e o brilho em seu olhar de empolgação, ela com certeza não esqueceria a ideia de conhece-lo a fundo.

      ─ Não, nem tive tempo pra isso, aliás você também tem muito trabalho pra ficar se preocupando com isso, não acha?

      ─ Deixa de ser careta, Rose, tá parecendo a minha mãe. Não vai se preocupar com trabalho quando se tem um homem gostosão e ricaço como o... ─ ela pareceu pensar no nome dele, afinal, ninguém havia o dito ainda, parece que ninguém conhecia ou simplesmente sustentavam esse mistério para deixar todos os funcionários curiosos para descobrir quem ele é.

      ─ Com quem? Com um cara que você nem sabe o nome? Pois é! ─ dei os ombros, girando em minha cadeira rodizio, ficando em frente ao computador. ─ Ele deve ser um velho metido, não é pra menos, em sua vida conseguiu praticamente tudo o que qualquer um desejaria. Riqueza, poder, viagens, o que mais poderia querer?

      ─ Eu já discordo. Imagino um cara com seus 42 anos, bem conservado, cabelos pretos, olhos tão azuis que chegam a brilhar, um corpo malhado, tatuagens espalhadas, aquele olhar de extrema sensualidade, um visual mais despojado, como uma camisa social, sem terno ou gravata, aquele barba de deixar qualquer mulher delirando, e claro, permitindo que todas as funcionárias possam abusar na olhada e no desejo. ─ quando me dei por conta, Betty já estava com um pequeno sorriso bobo em seus lábios, sorriso que adolescentes apaixonadas deixam quando veem seu príncipe encantado, mas ela precisava acordar, a loira havia deixado de ser essa adolescente fazia até um tempo. Estalei meu dedo em sua frente, para chamar sua atenção já que ela parecia estar no mundo da lua, ou melhor, no mundo da Betty, com unicórnios coloridos, céu rosa e o homem que ela idealizava em um cavalo branco, com flores douradas e caixas de chocolate indo resgatá-la de qualquer mal. Eu ria apenas em pensar como ela imaginaria tudo isso.

      ─ Quem sabe ele não seja apresentado a nós na reunião de urgência mais tarde, assim você pode ver se o seu príncipe encantado é como você está pensando mesmo. ─ meu tom irônico não foi escondido dela, ao qual me olhou com um tom de negação, já que eu praticamente zombava do que ela falava. Mas logo sua expressão mudou, como se acabasse de ter uma ideia. Lá vem. Sussurrei em minha mente, enquanto via a loira com seus olhos arregalados e sobrancelhas erguidas.

      ─ É claro. Você é um gênio, Rose!

      ─ Obrigada pelo elogio, mas posso saber o porquê?

      ─ Essa reunião foi convocada justamente para sermos apresentadas a ele. ─ revirei os olhos. Não adiantava, Betty sempre iria continuar achando que o destino está planejando para ela encontrar o príncipe encantado dela e ser feliz para sempre, igual ao conto de fadas.

      Depois de um pouco mais de tempo, tentando deduzir como seria esse tal homem, resolvi comprar café para mim e para Betty, no local onde eu sempre ia, posso dizer até que todos os dias, ficava apenas duas ruas depois do prédio da Price's, por este motivo, eu sempre ia andando, onde custava apenas um pouco mais de dez minutos.

      No momento eu segurava uma pequena bandeja com dois cafés expressos enquanto voltava para a Price's, tive que parar ao ouvir meu celular tocando dentro da bolsa, na verdade vibrando, pois já era um costume meu deixa-lo no silencioso enquanto trabalhava. Com uma mão, eu tentava procura-lo em minha bolsa, mas haviam várias outras coisas na frente, mas eu me senti paralisada quando senti algo encostar minha cintura e uma voz rouca e baixa sussurrar próximo ao meu ouvido.

      ─ Se você reagir, você morre. Ande comigo em silêncio.

      Pude abaixar meu olhar para minha barriga, vendo uma faca enferrujada encostada na mesma, o homem que a segurava começou a andar lentamente para um beco mais escuro, para o meu azar a rua que costumava ser bem agitada estava silenciosa, poucas pessoas passavam, principalmente pelo beco que eu estava seguindo.
As batidas do meu coração chegavam a mil por hora, chegava a doer em meu peito, meu corpo trêmulo deixava meus movimentos ainda mais lentos, apesar do homem me puxar cada vez mais para dentro daquele beco, eu não sabia se ele queria apenas me assaltar, ou algo a mais, eu pensava em todas as possibilidades, até sentia meus olhos marejados, implorando por dentro de mim que ele apenas levasse minha bolsa e me deixasse ir. O café que estava em minha mão já havia sido derramado no chão, nem mesmo os copos estavam mais comigo, eu nem fazia mais questão.

      ─ Solte-a, agora! ─ e desta vez, uma voz grossa soou por trás de nós, fazendo com que o homem que me segurava se virasse bruscamente e forçasse um pouco mais a faca contra meu corpo.

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⏰ Last updated: Sep 23, 2019 ⏰

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