04

1.6K 256 330
                                    

CAPÍTULO 04

Apenas Nós | Livro Um

♥︎

Marcos estava certo quando mencionou o quanto Psicologia sócio-histórica iria me deixar a ponto de enlouquecer, era exatamente assim que eu estava me sentindo há dois dias desde que a professora passara um artigo para entregarmos na próxima semana. Era apenas a minha quinta semana de aula, e eu já estava pedindo aos céus alguns dias em casa apenas para dar conta das atividades em excesso, embora eu não me importasse tanto, afinal eu gostava e as festas eu deixara para Anne. Ela até tentou me persuadir a ir com ela neste fim de semana passado, mas não quis correr o risco de presenciar mais uma discussão entre ela e Estevão, assim como aconteceu na última festa em que fomos. No entanto, quando eu soube que a noite seria na mesma casa de festa que fora semanas atrás, uma parte minha quis usar qualquer motivo para ofuscar a vontade que senti em passar naquela livraria. Por que — Adam — permeou em meus pensamentos por um breve momento, mas o joguei para o fundo da minha mente e não o fiz, afinal não é como se fosse acontecer algo, foi apenas um mero acaso, minha prioridade é a psicologia, não quero distrações.

As aulas da manhã já haviam passado e eu me sentia aliviada por saber que tinha apenas duas aulas à tarde e estaria livre para voltar para o apartamento. O professor, por sorte, nos liberou alguns minutos antes e eu estava com tempo livre, por isso aproveitei para mergulhar nas palavras de Machado de Assis em Dom Casmurro, enquanto bebi um café fresco sentada na mesa redonda da biblioteca central.

"A emoção era doce e nova, mas a causa dela fugia-me, sem que eu a buscasse, nem suspeitasse."

Imersa em suas palavras, folheei as páginas amareladas enquanto minha mente criava cenas carregadas de emoções. Não era a primeira vez em que mergulhava nessa história, mas gostava de sentir tudo outra vez, como se de fato fosse algo novo. Deslizei a mão pela nuca inclinando o pescoço para o lado ao fechar os olhos cansados da leitura, e quando os abri meu coração pulou e eu terrivelmente despertei — Adam — saiu em um sussurro.

— Um tanto irônico nos encontrar em uma biblioteca — a voz grave e rouca chama minha atenção, e um sorriso torto pende em seus lábios.

Temia ser apenas uma peça do meu subconsciente, mas ele realmente estava bem na minha frente com um sorriso torto estampado nos lábios, me fitando e por alguns segundos perdi a fala, enquanto tentava controlar a vontade de esquadrinhá-lo por inteiro, mas quando vi já o fitava intensamente. Adam usava uma camisa branca junto de uma jaqueta e uma calça preta surrada, acabei notando um caderno de couro em uma de suas mãos, era diferente do comum e despertou minha curiosidade. Limpei a garganta direcionando minha concentração para seu rosto, e perguntei: — O que faz aqui?

Adam umedeceu os lábios, e puxou a cadeira não dando importância para os resmungos que arrancou por fazer barulho — Pretendo me formar aqui — havia um vinco em sua testa quando disse, me fazendo rolar os olhos com a minha própria pergunta. Sua concentração passou de mim para o livro na mesa — Gosta de clássicos, hum.

Arqueei uma sobrancelha, abrindo novamente o livro na página marcada e retruquei — Você não?

Sua adorável covinha surge em seu rosto, quando ele lança um sorriso torto em minha direção — Sinto te falar, mas Capitu é uma grande traidora — falou, encostando seu corpo grande desleixadamente na cadeira em seguida.

Não pude evitar o rolar de olhos, respirei fundo e comecei a falar — Talvez..., ou é somente mais uma história sobre machismo, ciúme doentio e não superação — me aproximo, apoiando os cotovelos em cima da mesa — Mas um dos aspectos mais geniais da história é justamente isso, dar ao leitor a angústia da dúvida.

Apenas Nós | DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora