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CAPÍTULO 06

Apenas Nós | Livro Um

O sol está incrivelmente forte lá fora, e reflete em meu rosto através da enorme janela de vidro que há na padaria, uma parte minha me auto condena por ter escolhido a última mesa da fila, fazendo-me desejar ter colocado os óculos escuros dentro da bolsa para tapar meus olhos do excesso de claridade, que tanto me incomoda. Eu estava aproveitando o meu tempo livre, e sem aula para repor as energias, comendo uma — ou duas — panquecas, com a dose diária de cafeína que meu corpo precisava, eu pretendia continuar a leitura da história de Capitu e Bentinho enquanto isso, mas ao vasculhar minha bolsa não encontrei o exemplar, e posso jurar que meus batimentos cardíacos cessaram por breves segundos ao mesmo momento em que minha mente criava um mapa mental de onde eu possa ter deixado.

— Droga — resmunguei, chegando à conclusão de que havia deixado na biblioteca há dois dias, o vinco formou-se involuntariamente em minha testa ao lembrar o que aconteceu, e perceber quão tola fui em sair daquela forma, me repreendi, ainda mais por esse ato ter resultado em esquecer o meu livro. Decido ir até lá após a aula de Etologia, com os dedos cruzados para que alguém o tenha guardado, e enquanto mastigava o último pedaço da panqueca, um único, surpreendente e involuntário questionamento surge em minha mente.

Será que Adam estará lá?

Rute havia nos liberado um tanto mais tarde que o horário previsto, e eu tive que correr para chegar na biblioteca o quanto antes, para conseguir entrar ainda nos primeiros minutos da aula de Genética humana no terceiro andar, e após procurar meticulosamente na mesa onde eu estava há dois dias, e obviamente não encontrar vestígios sequer, vou diretamente até a mulher de cabelos castanhos e grandes óculos vermelhos, que trabalha na biblioteca — Tem certeza que ninguém guardou? — perguntei, pela quarta vez enquanto apontava para a mesa. Já faziam alguns minutos em que eu estava importunando-a, e a cara de poucos amigos estava estampada em seu rosto — É uma edição especial, por favor você pode olhar novamente? — pedi, ou melhor, implorei para que ela procurasse mais uma vez o armário de ''achados e perdidos'', e assim ela fez, mesmo com o semblante carregado de fúria, afinal eu estava enlouquecendo-a.

— Sinto muito, mas não encontramos — ela disse, voltando a sentar-se atrás do balcão, e dessa vez eu dei por vencida.

— Obrigada — murmurei, com derrota me apressando em deixá-la em paz, e ao passar vagarosamente entre as estantes tornou-se imprescindível não procurar aquela pessoa com os olhos, foi instantâneo, era como se eu esperasse que acontecesse, e não gostei nenhum pouco da leve decepção que percorreu meu corpo por não o encontrar, porque honestamente... eu gostaria de vê-lo, e uma parte minha odiava admitir isso.

♥︎

O dia foi incrivelmente mais cansativo que o normal, cheguei à conclusão de que os professores haviam se reunido para combinarem de ultrapassar o horário das aulas hoje, pois já passara das 18 horas e eu ainda estava perambulando nos corredores da USP. Anne tinha sido liberada e já estava em paz e em casa, sua tristeza de dias atrás havia se transformado em maldade e eu sabia que ela estava tramando alguma coisa, embora não soubesse o que. Suspirei, tentando apressar o passo já que era noite, e eu estava sozinha e ainda tinha muito o que andar, joguei o celular na bolsa e caminhei para fora dos muros da universidade.

Eu estava amarrando o cabelo em um coque bagunçado, totalmente alheia quando notei um carro se aproximar me deixando em alerta, de repente o carro completamente escuro avançou e parou ao meu lado, por um mísero segundo cogitei correr, mas então a janela desceu e para a minha surpresa revelando o sorriso pretensioso e os olhos hipnotizantes de Adam — Posso te dar uma carona? — ele perguntou, e no mesmo instante uma parte minha estranhamente agitou-se, ponderei por alguns segundos em um dilema comigo mesma, mas quando percebi já havia entrado em seu carro, não demorando para que ele avançasse.

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