— Esse lugar continua deserto! — Ouvi a voz risonha do mais velho enquanto minha visão era totalmente direcionada às ondas que naquele final de tarde pareciam calmas e logo pude sentir a presença dele ao meu lado, suponho que, fazendo o mesmo que eu. — Quando éramos crianças eu nunca entendi o motivo de você ficar tão distante quando vínhamos à praia nos finais de tarde. Para mim, eram apenas ondas sem importância, mas Jeongguk-ah... — Senti sua mão tocar meu ombro e então automaticamente meu olhar caiu sob Jimin que carregava um pequeno sorriso nos lábios e um brilho nos olhos que eu nunca havia notado até então. — É exatamente como você me disse uma vez: "Você precisa fechar os olhos... — Então ele fechou. — e sentir... "
A expressão serena que seu rosto carregava o deixava com uma aparência ainda mais angelical. Os traços suaves aperfeiçoavam-o ainda mais; os lábios cheinhos entreabertos, os fios de cabelos claros desalinhados em sua testa com um comprimento que alcançava os olhos fechados de uma forma tão suave quanto à leve vermelhidão na ponta do nariz pelo frio. A luz fraca do sol de fim de tarde refletia nele e isso tudo estava em uma perfeita harmonia que me fazia desacreditar que ele fosse realmente real.
Mas ele era real.
Tive essa confirmação quando senti a mão que estava pousada no meu ombro descer pelo meu braço de uma forma tão vagarosa que me fez arrepiar — até a alma — e agarrar a minha mão, entrelaçando nossos dedos antes de ouví-lo murmurar:
— O sol vai se pôr, Jungkookie, faça um pedido. O que você quer?
Quando eu era criança, eu tinha tantos pedidos que cada dia eu pedia uma coisa diferente e mesmo assim ainda sobravam coisas para pedir, mas à medida que fui crescendo, esses pedidos foram diminuindo até um ponto em que parei de pedir e comecei a reclamar.
Reclamava por minha mãe nunca ficar em casa, reclamava por ter tantos medos, reclamava por não ir bem em uma prova, reclamava por odiar a pessoa que eu tinha me tornado.
Mas pela primeira vez em tanto tempo eu queria pedir algo, e, estranhamente, a única coisa que eu queria, estava bem na minha frente.
— Eu quero você, Jimin.
As palavras saíram de uma forma tão natural que até mesmo fiquei surpreso, mas não me arrependia de pronunciar nenhuma delas, pois se eu tivesse que me machucar seria aquele o momento. Pelo menos se eu levasse um fora, meus sentimentos iriam diminuir e em pouco tempo — com muita sorte — deixariam de existir.
O único problema é assim que seus olhos se abriraram e arregalaram olhando para mim, eu percebi que minha confiança era apenas uma mentira que eu havia inventado para mim mesmo e agora eu me arrependia de ter sequer aberto a boca.
Eu estava confiante de que ser rejeitado por Jimin não seria tão difícil, mas naquele momento eu estava desesperado. A rejeição dele despedaçaria meu coração em tantos cacos que eu acreditava nunca mais conseguir juntá-lo novamente.
O silêncio é realmente torturante; tive a prova quando ficamos assim por alguns segundos que mais pareciam horas para mim. A expressão dele já tinha se suavizado, porém eu não estava mais calmo com isso, muito pelo contrário já que agora ele me encarava com aquela com uma expressão neutra que me deixava ansioso e frustrado — ele parecia me analisar.
Por um momento, minhas memórias do dia 25 de agosto, há alguns anos, voltaram em meus pensamentos me lembrando do pedido que ele fizera.
Naquele dia, ele havia dito com todas as letras que me queria.
Logicamente que naquela época foram pedidos inocentes de duas crianças que acreditavam fielmente que o pôr-do-sol poderia conceder pedidos e o pedido do mais velho era que ele queria o melhor amigo para brincar para sempre, em minha concepção. Porque eu era exatamente isso: o melhor amigo de infância.
Eu quis rir por ter me dado conta de que eu havia proferido as mesmas palavras que ele, mesmo que sem a intenção inocente de uma criança e sim com o desejo de poder amá-lo como um homem.
Um homem apavorado pelo olhar que não desviava de si; um homem que estava prestes a sair correndo para não ouvir a resposta negativa que tinha certeza que ouviria; um homem que mais se assemelhava à criança de oito anos com medo do mundo.
Um homem que foi surpreendido por um sorriso genuíno que surgiu nos lábios do garoto mais velho, que gradualmente foi ficando tão grande que poderia enxergar aquele adorável dente tortinho na frente e seus olhos que se fechavam e se tornavam apenas duas linhas.
Jimin estava sorrindo para mim enquanto eu estava praticamente morrendo de ansiedade.
Ele levou a mão até a boca e se abaixou, assim pude notar que suas bochechas estavam muito vermelhas.
— Vou te denunciar por plágio, pois essa frase é minha! — Ele finalmente disse algo naquele tom brincalhão sem olhar para mim. Ele parecia tímido, muito tímido.
Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me surpreendeu outra vez; levantou seu olhar e se aproximou um pouco mais de mim, pegando novamente a mão que ele havia soltado depois do que falei.
— Jungkook, você é tão bobo... — Ele proferiu as palavras em um tom baixo e a julgar pela queimação na minha pele facial, quem estaria vermelho agora seria eu.
Engoli em seco quando senti a mão gélida do mais velho entrar em contato com a minha bochecha quente e seu olhar cair sobre meus lábios antes de pronunciar, em um tom baixo:
— Está jogando errado. — Negou com a cabeça, voltando a olhar-me diretamente nos olhos. Ato que fez meu corpo se alterar: minha pulsação, minha respiração, minha garganta que parecia ter ficado seca repentinamente e minhas mãos que soavam frio.
Entretanto, meu corpo todo estremeceu com a finalização da frase dele.
— Não pode pedir algo que já tem.