ASSASSINOS ASSINADOS

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As ruas de São Paulo estavam frias naquela manhã, mesmo que no dia anterior um tempo seco e ensolarado tenha obrigado Lázaro à umidecer suas narinas com um toque de varinha. Ele caminhava decidido e quase fumaçando pelos ouvidos se isso fosse possível de tanta raiva de si mesmo. Atrasado de novo? Até quando iriam tolerar?

"Olha pra frente, animal!" um azêmola praguejou quando ambos acabaram se esbarrando enquanto ele virava à direita em direção ao viaduto, e espumou sem olhar para trás para não arriscar dar-lhe uma rasteira com um belo bàtà.

Contando de um até dez e de dez até um repetidas vezes, ele observava a ampla paisagem do Vale do Anhangabaú dali de cima, os carros indo e vindo com seus tons cinzas assim como o céu nublado e os prédios ao redor, as suas mãos acompanhando o corrimão enquanto atravessava até o outro lado, evitando olhar diretamente para o edifício da prefeitura da cidade à sua esquerda.

Pedro já o esperava do outro lado, quando viu Lázaro seu corpo até relaxou. Ele apressou o homem com as mãos e olhou para os lados vendo se a movimentação estava propícia para o que precisavam fazer.

"Finalmente, Lázaro! Sabe quanto tempo faz que eu tô aqui?" disse quando finalmente já estavam próximos o suficiente.

"Sei, uns três minutos... No máximo." acrescentou, convicto.

"Tá, o que foi agora? Deixei alguma mancha de mostarda na gola da camisa ou algo assim?"

"Não. Antes de me avistar você tava olhando pra entrada, e nenhuma vez olhou pro relógio, quando me viu ficou aliviado. Você tava achando que eu já tinha passado e entrado sem você, e com certeza estamos no prazo correto pra entrar girando pelas plataformas, ou eu já teria recebido uma carta com o valor da multa uma vez que você colocou o cadastro no meu nome. 'Cê já tava era esperando que eu fosse atrasar."

"Ai, que raiva..." ele detestava quando ele o pegava com suas pequenas e inofensivas mentiras. "Você deveria aprender a girar logo, séria mais rápido."

Pedro olhou ao redor e esperou um homem coberto com um agasalho fino - que salientava seu peitoral avantajado - por dentro da calça justa que passeava com seu robusto cachorro alaranjado, Lázaro não pôde deixar de observar o belo azêmola até que enfim seu umbigo engoliu todo o resto do seu corpo num vórtice e viu-se no meio de uma plataforma larga de mármore com um pentagrama estampado no chão, ao longo do corredor as outras plataformas recebiam outros bruxos. O único ponto do prédio em que era liberado o giro, mas claro... com horário marcado e tolerância de vinte minutos de atraso, além de um registro pré-escrito e autorizado pelo Tenente para possuir sua própria plataforma, e torcer para que algum atrasadinho não tivesse girado antes de você com a tolerância apertada, pois aí certamente teria que aguardar a liberação para o próximo bruxo por mais dez minutos até a plataforma ser autorizada novamente, e assim atrasando você e o próximo que fosse usá-la, e que provavelmente excederia o tempo limite e teria de usar a porta de entrada. Mais um dos sistemas falhos e burocráticos que tentavam simular a perfeição europeia de transporte.

Lázaro se esgueirou para próximo das paredes de vidro do prédio que se mesclava ao céu nos olhos não bruxos e voltou-se para o viaduto logo abaixo e viu uma belíssima formiguinha passeando com seu formicão lááá embaixo.

"Que viadagem é essa? 'Bora." Chateado e torcendo os lábios para Pedro que tirou seu foco do moço mais uma vez, Lázaro o seguiu revirando os olhos.

"Desculpa o atraso. Eu tava ocupado."

"Isso você diz pro Caim. Tava ocupado com o quê?"

"A menina bruxa baleada do mês passado... Esse caso tem me descabelado todo dia, tu viu aquelas fotos, Pedrinho?"

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⏰ Última atualização: Sep 23, 2019 ⏰

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