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Seus pensamentos criaram asas nesse momento e voam para longe.

- Você faz com que tudo isso se torne normal. Mas eu não quero me entregar novamente e sentir a dor da minha própria ilusão me entende?
Seus olhos escurecem. A escuridão da indecisão domina.

- Não se torne aquilo que as pessoas querem que você seja. Alguém que não quer mais sentir a dor de viver.

Uma respiração profunda.

- Você já amou alguém?
Sua pergunta é direta, mas se eu já amei alguém? Não, eu antes não acreditava no amor. Na verdade ainda nem sei se acredito.

- Não.
Respondo baixo.

- Ta vendo Colin, você nunca sentiu a dor da sua própria ilusão. Então o nosso beijo pode não ter significado nada para ambas. Embora achemos que sim.
Lawren parece que já passou por tantos caminhos da vida. Não sei se posso caminhar em Algum caminho com ela.
Mas retribuo a mesma pergunta.
- Você já amou alguém de verdade?- Um suspiro.

- Sim. Já amei. E hoje sou apenas cinzas do que sobrou de mim.

Seus olhos entregam que ela recordou de algo, algo dolorido.

- Você quer me contar? Talvez seja uma forma de pôr de vez essas cinzas para fora.

Se senta e começa a falar:

- Pronto. Lá vai.

- Minha mãe ela me privou de muitas coisas quando eu era mais nova. Pois tudo que ela queria era apenas que eu estudasse e estudasse para quando acabar o ensino médio, conseguisse passar em um concurso público.
- Suspira.
Eu não costumava ver muito minha mãe, pois ela trabalhava o dia inteiro e chegava muito tarde quando eu já estava dormindo as vezes.
Pela manhã eu estudava e a tarde eu iria para a escola, minha mãe sempre acompanhou minhas notas, eu nunca tirei uma nota baixa. Sempre tive medo da reação dela se eu tirasse nota baixa. No ensino médio eu conheci o Lorenzo ele era super inteligente cheios de idéias, estudávamos o dia inteiro juntos e eu estava acreditando que estávamos se gostando.
Eu dedicava todo o meu tempo para ele e assim minha mãe trabalhava e quando ela estava de folga eu não via ela, pois eu estava com o Lorenzo.

Arrependimento a expressão do seu semblante deixa claro. Mas sua voz permanece no mesmo tom.

- Então quando eu acabei o ensino médio eu prestei o concurso aqui da prefeitura e consegui passar. Fui correndo contar para o Lorenzo que agora poderíamos namorar que minha mãe não teria razão para me proibir.

- Uma pausa.
- O Lorenzo estava com outra menina dando gargalhadas da minha cara. - continua.

Será que ela vai chorar?

- Então esperei até tarde minha mãe chegar do trabalho e dei a notícia a ela. E ela sim ficou muito feliz. Sabe Colin, nossos olhos não mentem, nunca, porque eles não sabem guardar segredos. E ali eu percebi que ela era a única pessoa que realmente se importava comigo, porque ela era a minha única família. Pois meu pai eu não o conheci.
No dia seguinte quando acordei, minha mãe estava deitada ainda dormia e quando fui acorda-la feliz da vida porque era o meu primeiro dia de trabalho, ela estava morta e quando eu caí na real o mundo já tinha acabado. Eu já tinha acabado.
Todas as folgas que eu poderia passar com a minha mãe eu mentia para ela e dizia que estava estudando com o Lorenzo.

As lágrimas da Lawren já molhou todo o seu rosto e o vermelho agora é a cor da sua pele.

- Agora a única coisa que eu faço é escrever as minhas dolorosas poesias. Pois sou uma pessoa sozinha e mesmo que eu conheça alguém especial, esse buraco ninguém conseguirá preencher, então escrevi aquele poema: "Se der tempo".
Pois tudo o que eu fiz foi perder tempo justo na hora que eu deveria ganhar.

- mas e o Lorenzo? Quando ficou sabendo da morte de sua mãe? Nem veio te dá uma força.
Vejo ela se acabar em lágrimas e não posso fazer nada. Isso me dói tanto, a vida faz isso com a gente, faz com que enxergamos os absurdos da vida com as mãos amarradas.

- Não, ele estava muito feliz com a namorada nova dele. Sabe quantas vezes ele falou que me amava e eu acreditei? Milhares.

Seu olhar para o chão, suas mãos fazendo companhia uma a outra e as lágrimas escorrendo sobre sua face.

- Respira fundo.

Estou literalmente sozinha Colin.

- posso te abraçar? Pergunto.
Sua expressão responde por ela.
Nos abraçamos fortemente.

Não sei como confortar alguém, como que faz isso?

- Sabia que eu tenho uma história parecida com a sua?

- Ah, é? Me conta.
A pressa em enxugar suas lágrimas é grande. Parece está envergonhada por abrir seu coração.

Devo mesmo contar a minha trajetória? Não vejo outra opção.

- Bem, eu nunca acreditei no amor, apesar de ser fruto de uma grande paixão, minha mãe e meu pai. Meu pai sempre me falou que quando eu conhecesse alguém especial eu mudaria de ideia e eu respondia que até lá eu iria aproveitar a vida.

- mas para você, o que é aproveitar a vida?
Lawren me interrompe.

- Para mim aproveitar a vida, sempre foi sair com os meus amigos para se "divertir", Fica Bêbado todo fim de semana e depois sair com as meninas.
Meus amigos são tudo iguais a mim "Sem noção" e nem se preocupa com responsabilidades por que acham que os pais vão ficar aqui para sempre.

- Abro um sorriso.

- Então na noite que eu ajudei a bêbada estava indo para casa e talvez nunca vou esquecer aquela noite que para mim foi surreal. Sério, pensei que nunca passaria por algo intenso e especial. lembro que você me pediu para dizer aos meus pais que eu os amo.
Nunca ninguém me falou algo tão profundo quanto demostrar o amor. Você me ensinou tanto.

- Tá falando comigo? Me interrompe novamente.

- estava decidido a passar mais tempo com meus pais e dizer o quanto eu amo eles. Mas pela manhã encontro uma carta em cima da mesa e meu pai tinha escrito que eles viajaram e que não sabia quando iriam voltar. Olhei ao redor da minha casa e a sensação foi como se eu me afundasse no meu próprio poço e enxergasse a vida sem egocentrismo.

Então eu li a sua poesia novamente e aquela "loucura" que você escreveu, foi a única coisa que definiu o Colin louco que sou.

Toda a atenção da Lawren é minha nesse momento.
- Então a Meline me convidou para ir a um sarau literário, eu não gostava de poesia até a sua me decifrar. E mesmo sem respostas nem entender sobre a viagem dos meus pais fui ouvir os poetas expressarem seus sentimentos e me surpreendendo ainda mais com você lendo aquela poesia: "se der tempo" como quem estivesse escrito para me ferir. Como quem quisesse me dá um tapa de realidade, como alguém que conseguiu tocar em minhas feridas e fazer eu ver o real sentido da vida, não perder tempo.

Não precisava eu falar tudo, mas saiu, e agora estou aliviado em contar tudo, tudo que estava me sufocando, agora respiro aliviado, conto para alguém e esse alguém é a pessoa responsável pela única coisa boa que aconteceu desde então.

- Deve ta sendo difícil para você, saber que seus pais estão longe. E você não saber onde estão.
Lawren se aproximar do meu corpo e me entrega seu conforto.
- Obrigada, por aparecer no meu caminho. Minhas palavras só conseguem sair em sussurros.

- Não sei, se você deve agradecer antecipadamente.
Lawren deixa escapar.

Nós temos algo incomum e isso já me deixa Feliz. Como alguém que já de decepcionou tanto com a vida, ainda consegue ser doce, compreensiva e pacífica como ela?

- Colin, preciso dormir.
Se afasta em largos passos. Obrigada por hoje. - Abre um sorriso fácil.
- confesso que estou mais aliviada em poder desabafar com alguém.

Me afasto devagar. -Sorrio.

- Tchau.
- Até qualquer hora.
Sua atenção me acompanha até eu passar da porta.

Como podemos se compreender quando tudo diz que não temos como entender?
Se der tempo aproveitamos tudo o que não devemos aproveitar. A vida.

Estrela BináriaOnde histórias criam vida. Descubra agora