Capítulo 1 sem título

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A VIDA POR UMA EMOÇÃO

O filme começa e termina com o personagem principal tentando entender porque uma garota tão jovem como sua esposa teve o fim de sua vida tão prematuro, acometida de uma doença fatal, encerrando os momentos de felicidade no quais eles viviam.

"Talvez seja parte da vida" refletiu Alex derramando seu pranto sob a influência de um dos grandes filmes emotivos que o fazia chorar. Ele jamais choraria com morte de cachorros em filmes populares, mas se emocionava demais quando se identificava com um filme tão chorável como o que acabara de assistir. "o que seria do personagem tão moço e que acabara de perder o amor de sua vida? Como seria capaz de seguir em frente?" Alex calculava que em seu lugar não conseguiria.

Alex tem vinte e sete anos, não tem uma namorada e trabalha bastante, mas em sua folga gosta de ficar em casa assistindo a filmes com conteúdo dramático. Ele é um homem emotivo, algumas vezes se emociona com músicas populares e comerciais de televisão. Por diversas vezes, em pequenas discussões sem importância ele precisa conter as lágrimas. Nem mesmo ele entende o motivo de tanta comoção, mas o mundo parece ser mau com ele e isso o afeta deveras.

Quando se cansa de assistir aos mesmos filmes ele se entrega aos livros, a literatura é um passatempo que também pode lhe render boas lágrimas, desde que o livro seja bom.

Raramente Alex se interessa por comédias, romances, aventuras; o drama lhe cai bem, se emocionar sentindo suas lágrimas escorrerem é o melhor sentimento que existe e isso o torna feliz à sua maneira.

Quando os velhos títulos de livros, filmes e músicas já não o fazem sentir nada, Alex se aventura em buscar novos livros para ler, novos filmes para assistir e novas músicas para se identificar. Quase sempre essa busca é em vão. Por diversas vezes ele começa a assistir a um filme e desiste, a ler um livro e parar antes de acabar o primeiro capítulo. Apesar de não gostar de deixar nada inacabado, ele gosta menos de perder seu tempo com coisas sem emoção. Eventualmente ele encontra um filme bom e volta a sentir suas emoções.

Sexta feira à noite, enquanto a maioria de seus colegas de trabalho se prepara para uma noite de bebedeiras, conversas e risos, Alex separa a lista de possíveis filmes emotivos. Faz muito tempo que ele não descobre um novo bom filme e está sedento por emoções, os velhos filmes já não dão conta, mas ele não desiste de sua busca.

Enquanto prepara o jantar o telefone toca insistentemente, Alex não pretendia atender, mas é vencido pela insistência.

- Alo! – diz Alex.

- Sou eu! - disse a voz – preciso de sua ajuda!

- Eu quem? – respondeu.

- O Fernandes, seu amigo. Você está ocupado? – foi a pergunta.

- Eu estava indo dormir.

- Um primo da minha mulher faleceu, eu vou trabalhar a noite inteira. Você pode leva lá ao velório?

Um pedido inconveniente. Entretanto outra característica de Alex é que ele não sabia dizer não, ele precisaria de tempo até pensar em uma desculpa razoável para não prestar o favor, portanto quase sempre dizia sim, até por isso Alex não atendia mais o telefone. Dessa vez acatou o pedido.

Alex desistiu do jantar, tomou banho e se dirigiu a casa de seu amigo Fernandes para buscar sua esposa. Ela era bem calada, entrou no carro e mal disse meia dúzia de palavras depois de dizer boa noite.

Alex odiava ter que fazer tarefa para alguém em sua noite de folga. É como se tivesse perdendo as poucas horas que tinha para o lazer. Chegaram ao velório e ele cumprimentou os parentes mais próximos, aproximou se do cadáver e fixou seus olhos no corpo daquele que um dia respirou como ele, que teve seus momentos de alegrias e de tristezas. Examinou com o olhar o estado em que o corpo se encontrava.

A Vida Por Uma EmoçãoWhere stories live. Discover now