durante uma madrugada odiosa, eu soube que não poderia arrancar pela raiz os brotos cintilantes de dentes-de-leão, mesmo quando o egoísmo profundo instrumentaliza todo o cenário pejorativo da minha segurança artificial. e, por espelhar minhas esperanças dentro dos seus olhos de ameixa, senti o gosto gotejante da doçura sonhada, inalcançável. não espero que você me perdoe.
dentre tantas coisas que eu poderia dizer ou escrever, marco as digitais pelo torso esquerdo e espero que você compreenda o porquê da força exagerada que move o saco de ossos ensanguentado que festeja dentro do meu corpo, violentamente. luzes neon não poderiam projetar a felicidade cantada pra dentro do meu soluço choroso, mas você pode tentar ressoar transpassado à minha pele se quiser compreender a razão pela qual ele se move de maneira tão desesperada, feito átomos aquosos em uma noite de tempestade. de vez em quando, eu me pergunto se os cadáveres pareiam pelo cemitério depois da meia noite.
o começo perfeito não estaca pelo tijolo esfarelado, por isso todos os meus castelos desmoronam quando posso apenas assistir. você teria coragem de atear fogo nos restos ou deixar uma trilha malfeita para as formigas vermelhas? o fervor das feridas pela minha pele sensível não se compara à dureza do cimento entredentes.
seus pulmões se parecem com o telhado das casas que já estive pensativa ao luar: quando a lua não te abraça e as lágrimas são tão frias quanto um deserto à três da manhã. o pensamento que enrola os pilares da minha sanidade balança para frente e para trás e eu ainda espero que você me segure pela cintura quando tudo for finalmente à baixo.
sua voz atravessa as nuvens esparsas de uma noite difícil e eu só posso te ouvir, como se fosse feita pra isso e como se cada parte do seu corpo significasse uma ópera de alta escala prensada no meu esqueleto falho. e eu peço, por favor, que não me deixe assim.
machuca quando o eu facetado pelo fogo pede socorro, você seria capaz de me matar para me salvar de mim mesma? porque eu não consigo amar ninguém fora daqui.
longe de casa, caçando ininterruptamente, meus olhos comem a cidade com ganância, o âmago nunca satisfeito, eu vejo os sorrisos alheios e cobiço toda a felicidade dentre os rostos perdidos. mastigo, rasgo, degluto e regurgito por falta de merecimento. e eu duvido muito que você consiga me fazer merecedora. percorrendo dentre as árvores de fumaça, a relva de silicone, a chuva de madeira e os flocos digitais, vejo sua silhueta inalcançável, a genuinidade imperfeita da inocência e espero que eu possa significar muito mais do que gritos numa noite submersa. junto as mãos, ajoelho e peço que, pelo menos, algum demônio próximo do meu caráter porfavorporfavorporfavor me atenda.
"por favor, me corte em um milhão de pedaços para que eu possa amá-lo como merece".
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WATERY ATOMS ✧ CLC + UP10TION
Fanfiction❝luzes neon não poderiam projetar a felicidade cantada pra dentro do meu soluço choroso, mas você pode tentar ressoar transpassado à minha pele se quiser compreender a razão pela qual ele se move de maneira tão desesperada, feito átomos aquosos em u...