Era noite de lua cheia, e ao longe, misteriosas corujas de olhos amarelos florescentes lideravam o coro harmônico de aves noturnas que cantarolavam melodicamente pelo pântano frio e escuro. Além dos vaga-lumes dispersos pelo ar, apenas as discretas chamas comportadas no interior de duas velhas lamparinas, iluminavam a fachada do antigo casebre de barro de apenas dois cômodos, que abrigava uma família quase feliz e enlutada.
Alguns quilômetros de terra batida separavam o pequeno casebre das outras casas do povoado, residências tristes, que acolhiam seus moradores mortos de fome, vítimas da impiedosa seca que impedia um proveitoso ciclo de plantação e colheita.
Serafina, a matriarca da família, cumpria diariamente a árdua missão de cuidar sozinha do neto, desamparada, após a trágica morte de sua única filha – Sulamita - vítima de afogamento nas águas turvas do lago de maior profundidade do povoado, ao lado norte do pântano.
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A voz na escuridão
Short StoryApós um trágico acidente, uma família tenta se restabelecer diante do sofrimento emocional e da fome que assola o povoado onde vivem. Após ouvir a canção de ninar ecoar pela noite pântano a fora, Aluísio segue a voz da mãe que a princípio tinha par...