Pudim.

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   Beto não acreditava que o amor um dia pudesse ocorrer a ele.
Quer dizer, tinha desistido de esperar por alguém que fosse deixar seu mundo mais bonito, porque tudo o que conseguiu foi um grande pé na bunda.

   Ou talvez dois, três, quatro... Beto havia tomado tantos que perdera a conta.

  Seu coração pedia incessantemente por alguém. Sabe, ele não queria estar sozinho.
  Sua vida já havia sido completamente solitária; ele era um cara de vinte e três anos com pais mortos e uma família inexistente, sem amigos e pouco espaço no apê.

   Mas tinha um gato.

   Pudim havia aparecido misteriosamente num dia de chuva bem na calçada do estúdio onde Beto gravara o primeiro fracasso, quer dizer, CD.
  Ele era tão pequeno que Beto quase não enxergou, estava sujo e sozinho na sarjeta; Beto se identificou na hora.

  Pudim era tudo para ele. Sua primeira companhia, seu primeiro amor.
  Não foi amor à primeira vista e nem era um amor perfeito, pois Pudim tinha lá seus planos diabólicos.
  Arranhar o sofá não era nada em comparação ao que o pequeno filhote aprontava. Suas armações iam desde assaltos à patas armadas na geladeira até surpresinhas nos lençóis cheirosos do músico. O ápice da crueldade, foi quando Pudim comeu uma das cordas do violão de Beto. Mas bem, eles se aceitavam com seus defeitos.

   Já que Beto não sabia nada sobre felinos, o pobre gatinho também pagou o pato. Como quando foi levado ao veterinário às pressas, Pudim achou que estava prestes a morrer, mas na verdade, seu ronronado tinha assustado Beto, que não fazia ideia do que aquele barulho significava. Ou quando Beto esquecia que Pudim tinha que comer ração e não arroz — Ele odiava arroz —. Até que Beto aprendesse tudo isso, eles sofreram. Beto com o mal cheiro, Pudim sem areia.

   Porém tudo foi uma questão de tempo. Eles aprenderam a crescer, um com o outro.
E Pudim era o bem mais precioso da vida dele.

— Ei, eu também te amo.

    Os grandes e profundos olhos azuis de Pudim piscavam para Beto. Essa era a mais singela forma dos gatos de dizer " Te amo " e Beto repetiu o gesto.
Piscou lentamente e com um sorriso admirável.

   Por que seu coração não podia se contentar com um amor felino?

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