Capítulo 3: Um sonho lacrado e descontinuado.

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Em todos os meus dezessete anos de vida eu não poderia ter despertado tanto interesse pela estrutura onde eu vivo quanto agora. Depois que descobri o guia de magia que adormecia no escritório de meus pais, se tornou rotina apontar minha varinha a ele e começar a dialogar, pedindo para que eu veja seu conteúdo. A magia que o livro carregava era extremamente teimosa de aturar, ainda mais quando quero que ele me compartilhe o conhecimento.

-Vamos lá, livro. Objeto de registro humano que tanto me fascina, mostre-me a página seguinte à do dia anterior. –exclamo a ele, apontando minha varinha à sua bela capa de couro azul.

Sinto minha mão formigar e fraquejar o aperto da minha varinha, mas mantenho-a firme para finalizar o ato. Um brilho fraco é emitido da ponta e entre as páginas do livro; revelando que havia tudo dado certo. Esta rotina estava rapidamente me deixando acostumado com os feitiços.

O brilho irrompe das folhas e o livro abre, passando rapidamente todas suas páginas na minha frente. Era como se ele brincasse comigo; soubesse que eu queria explorar cada sentença que há dentro dele e jogasse todas elas na minha cara antes de fechar. Uma brincadeira que eu não me arrependo de ter entrado.

-Agora vamos ver... –digo, abrindo a capa dura e deslizando os dedos pelas páginas envelhecidas- Parei na oitava, se não me engano.

E sou interrompido pelo item de novo, que passa as folhas até a parte requisitada. Não perco tempo e ponho junto na mesa do escritório meus pergaminhos vazios, pote de tinta e uma pena para anotar tudo o que eu via nele. A maioria eram desenhos e esquemas resumidos, mas era ótimo de entender assim.

-Então é assim que os magos se vestiam? Que engraçado. –dou uma risada curta ao ver como era bizarro os magos de antigamente usarem chapéus tão pontudos.

E assim se percorriam as tardes desde que eu encontrei o livro. O escritório proibido de meus pais era uma sala de aula que acabou me ensinando melhor do que a própria escola. Meus primos tinham aulas neste tempo e minha tia cuidava da Vovó, então não tinha por que me segurar. No fim, era só sair correndo do escritório e fechar a porta que estará tudo bem.

As luzes de chamas mais precipitadas de casas vizinhas estavam a se manifestar enquanto a noite começava a invadir por centímetros as ruas do Piso Residencial D. Cog e Colly já estavam em casa e um cheiro de torta de carne invadia a casa toda, inclusive meu quarto. De lá, mesmo com a porta fechada, eu podia ouvir meus primos falando e rindo em voz alta enquanto só precisávamos esperar por Papai e Mamãe para poder jantar e ter conversas sobre o dia de cada um. Planos e objetivos eram apresentados junto da comida, e era interessante discutir com todos juntos; trazia-me conforto ao saber que eles poderiam me ajudar e confortar no que quer que eu diga.

-Papai! –ouço os dois primos exclamarem em uníssono. Se Tio Liquis chegara, meus pais estavam logo atrás. E eu não estava errado.

Dois toques fortes porém gentis soam da minha porta.

-Boa noite, Ventum –diz Prae, pela voz– Abra essa porta e venha jantar, só falta você.

-Sim senhora! –a respondo e logo me levanto.

Com todos na mesa, nós unimos nossas mãos para as preces à Deusa Ourana. Sinto um peso em meus ombros se instalar enquanto acompanho as vozes de todos. Era como se a deusa estudasse nossos desejos além de ouvir nossas preces. Mas por quê?

-Alguém com uma prece que queiram adicionar para finalizar? –Coqus sugere.

-Eu. –diz Prae, se pondo a fechar os olhos em seguida:

-Depois da experiência de hoje, nossa Deusa, afaste de nós qualquer forma de apego, seja ele um material, valor ou sonho. O morador de rua que vimos não estaria nas condições tristes dele se não estivesse ao apego de seu estado atual. Pessoas como esta eu peço que lhes ajude. É este meu pedido, Deusa Ourana.

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