Élia

Segredo

 "Élia pelo amor de Deus, será que você pode tirar o olho dessa agenda só por um segundo? Estou em crise aqui amiga!" O tamanho da muralha da China não poderia descrever o tamanho do susto que levei com o berro que Emma tinha dado em meus ouvidos.
 Olhei para minha melhor amiga com o meu melhor olhar de "não mecha com a Élia" que eu poderia fazer e levantei as sobrancelhas esperando que ela me dissesse logo o que queria.
 "Você sabe que o olhar "não mecha com a Élia" não vai funcionar comigo não é?" Ela me perguntou com cara de desdém enquanto soprava as unhas para que o esmalte secasse mais rápido. "Além do mais, o que seria mais importante que me ajudar? E nem ouse em responder que é o itinerário de formatura."
 "É claro que é Emma! Você pelo menos não tem 300 estudantes contando com você para que as coisas deem certo." Eu respondi bufando e olhando novamente para minha agenda.
 "Nem ouse tirar o foco de mim!" Olhei para ela cruzando os braços. "Você prometeu que eu seria sua atenção total hoje!" Disse fazendo biquinha, então me rendi e fechei a agenda enquanto ela fazia uma comemoração estranha.
 "Só porque fiz uma promessa." Eu disse apontando o dedo pra ela enquanto segurava um sorriso e andava até sua cama. "Você sabe que eu não quebro promessas."
 "Ai sinceramente El, você precisa de ajuda. Esse trabalho todo te deixa com um ar de adulta cedo demais. Séria demais não dá minha princesa." Ela disse me jogando a bolsinha com as cores de esmalte que tinha, eu nem precisava perguntar porque ela havia me jogado a bolsinha.
 "Eu tenho 23, então legalmente eu sou adulta." Eu respondi petulante.
 "Não tem nada de legal, você que é muito chata." Ela disse checando a cor que eu havia escolhido, escolhi um rosa bebê. "Tá vendo? Nem pra escolher cor direito você serve, já disse milhões de vezes que rosa bebê é cor de criança ou defunto. Passa esse, vermelho paixão." Ela disse arrancando o esmalte da minha mãe e pousando o outro ao meu lado.
 "Você sabe que eu não gosto de cores escuras assim." Respondi revirando os olhos.
 "Você mesmo disse que é uma mulher adulta de 23 anos, então comece a agir como uma. Por mim." Ela disse séria. Emmeline séria é uma coisa que não se deve cutucar.
 "Eu irei beber água antes." Disse me levantando da cama e abrindo a porta do enorme quarto de Emma e andando pelos corredores, não antes de ouvir ela berrar que me acharia caso eu fugisse. 

   Andei pelos enormes retratos da família estampados pelos enormes corredores da mansão Lewis, passei pela minha foto preferida, nela estavam uma Emma bebê, o irmão mais velho dela Tristan com 3 anos na época, a falecida mãe deles Vivian e o amor da minha vida e sonho de consumo Emmett, o pai deles. Respirei fundo me imaginando no lugar de Vivian (e me esfaqueando pelo pensamento) e continuei andando até finalmente, depois de dois dias e meio, eu chegar na cozinha.
   Peguei uma garrafa de água gelada na geladeira e tomei com o corpo repousado na bancada ao lado.
  Pensei no erro que eu estava cometendo todos os dias e nos acertos que eu iria conseguir no final de tudo, era um caminho perigoso, mas eu tinha que passar por ele, não queria terminar no chão como meus familiares.
  Ouvi passos perto da cozinha e meu coração acelerou, pois eu não estava no meu melhor momento para encontrar o pai da minha melhor amiga visto que Tristan está em Londres e o aventureiro senhor Emmett Lewis voltava essa semana.
  Eu estava com olheiras profundas e o cabelo todo atrapalhado. Tratei de logo prendê-lo em um coque, o que foi sem sucesso, pois tenho cachos muito selvagens, que eu amo é claro.
 "Oi Élia." Olhei para frente dando de cara com Emmett, ele me encarava com as sobrancelhas cerradas e um sorriso debochado. "Está tudo bem querida? Parece que correu uma maratona."
 "Oi senhor Emmett!" Disse empolgada demais. Limpei a garganta antes de retornar a responder. "Não senhor, é apenas a faculdade, ela me tira do sério ás vezes. Só isso." Eu disse com uma voz mais calma colocando um cacho atrás da minha orelha.
  "Você convive com nossa família desde muito pequena, mas nunca consegue tirar esse senhor, não é?" Ele se aproximou e pegou a garrafinha da minha mão e abrindo. Ele estava muito perto, eu não tenho sanidade pra isso. Infelizmente eu não tinha saída já que estava entre ele e a bancada. "Aliás, gostaria de saber quando irei ouvir de você novamente na agência, um rosto lindo como o seu não pode ficar longe por muito tempo." Bebeu a água olhando nos meus olhos e se afastando lentamente.
  "Bom, eu estarei livre apenas depois da formatura." Eu disse sussurrando. Não queria que ninguém ouvisse nossa conversa.
  "Ainda não sei porque tem tanto medo de dizer o que fazemos... Não estamos cometendo nenhum crime, você é maior de idade. Não é mais criança." Ele disse tombando a cabeça pro lado e com o típico sorriso debochado naquela boca linda.
  "Não quero que tenham uma imagem errada de mim, apenas faço isso pelo meu futuro." Eu disse olhando para o chão.
  "Não é como se você estivesse se prostituindo querida. Além do mais, prostituição é um emprego como qualquer outro e nenhuma mulher ou homem deveria ser julgado por isso." Ele disse andando até a janela da cozinha. Sorri toda apaixonada pelo homem mais lindo e sensato que estava na minha frente. "Você está apenas modelando, o que há de errado nisso?" Virou novamente pra mim e eu escondi o sorriso mais rápido que pude.
Ele deu um risinho olhando para as mãos.
  "Qualquer coisa, me mande uma mensagem e marcamos outro ensaio." E saiu da cozinha me deixando sem ar.
   É isso, o pai da minha melhor amiga é um dos fotógrafos mais famosos do mundo, sou modelo fotográfica da empresa dele (coisa que ninguém sabe, pois a única coisa que vêem é meu cabelo e corpo, eu exigi isso), eu sou completamente apaixonada por ele, e o pior, ele sabe.