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Vivemos em um momento histórico que qualquer situação difícil que alguém passe pela vida e ainda não tenha resolvido é MIMIMI daquela pessoa, nas palavras dos "gurus" de palco e internet que se proliferam atualmente mais que mosquito no verão.

Eles te dirão que se você não faz 100 mil em uma semana de vendas com o lançamento cheio de gatilhos mentais, a culpa é sua. Dirão que se sua saúde não é igual do David Goggins, seu relacionamento não daria um filme de sessão da tarde estrelado por Adam Sandler e Jennifer Aniston, se sua vida social não se compara ao "rei do camarote", se sua vida financeira não deixa Jorge Paulo Lemann com inveja, se o trabalho que você executa não te permite "ganhar dinheiro dormindo" ou trabalhar de frente para o mar, se você não se tornou um "ser de luz" que emana espiritualidade para todo o globo terrestre e se comunica com anjos enviados de Órion, se você não atingiu essas coisas CULPA SUA.

Mas como para cada dor e problema existe um remédio, logo os gurus vão te vender a solução deles. A fórmula do método é sempre bem parecida, quando não um "ctrl C" e "ctrl V" do amiguinho que já vendeu o "6 em 7". Começa com uma grande promessa de transformação. Vão te falar o quanto esse problema que você nunca havia se dado conta que tinha vem piorando sua vida, em seguida vem uma linda história de superação, seguindo a boa e velha Jornada do Herói - a pessoa fala que teve o problema, como superou e que agora volta para te ajudar a fazer o mesmo.

E no final eles vão dizer que isso é para você! Se eles conseguiram, você também consegue! Você tem que parar de MIMIMI, se você não conseguir é tudo culpa sua. E assim eles encerram a argumentação falaciosa, transferindo toda a responsabilidade para seus ombros. Não são eles ou o método deles que não funciona, é você que fica de MIMIMI.

Vitimismo ou circunstancial

Existe sim uma onda de vitimização, não vou negar. Provavelmente esse fato sempre ocorreu na história humana, porque sempre foi mais fácil culpar os outros do que assumir a responsabilidade por nossos resultados. A questão é que nem tudo é vitimismo ou o popular MIMIMI.

No livro o autor ilustra uma escala do vitimismo:

5 - Espera pelo milagre

4 - Não faz

3 - Acha culpados e dá desculpas

2 - Vitimiza-se

1 - Evita a realidade

À partir desse ponto as pessoas entram na escala de responsabilidade, que segundo o autor é definida assim:

1 - Encara a realidade

2 - Assume responsabilidade

3 - Encontra soluções

4 - Faz

5 - Supera as adversidades

Quando esses falsos gurus dizem que se você não atingir os resultados que ele promete a culpa é do seu MIMIMI, essa argumentação é na verdade o MIMIMI deles. Eles se encontram na terceira escala da vitimização que vimos acima, estão culpando outros porque o que eles oferecem não entrega o resultado prometido.

É fácil prometer muita coisa, uma carta de vendas aceita tudo, mas entregar o que é prometido e entregar acima do que os clientes esperam não é tão simples. Quando essa gente passa pela sua timeline ou interrompe um vídeo que você acompanhava para te vender algo, ali eles estão assumindo uma responsabilidade com você. Uma responsabilidade que é jogada fora depois que o cliente compra, dizendo que o resultado só depende dele.

Para garantir que a transformação ofertada é realmente a que o cliente precisa é necessário antes de tudo uma qualificação correta, ao invés de qualificar para saber se as pessoas têm o problema, eles preferem desenvolver o desejo pela solução. Quando você entrega um produto para o cliente, você é responsável pelo sucesso desse cliente. Não se omita transferindo a responsabilidade para o próprio cliente.

Existem situações que pessoas e empresas se vitimizam, existem situações que não é vitimismo, é a realidade social. Temos no Brasil 35 milhões de pessoas sem acesso à água potável, isso não é culpa delas. Temos no Brasil 13 milhões de desempregados dos mais diversos níveis de escolaridade, isso não é culpa delas.

Cada ser humano é único. Sua infância, sua escolaridade, sua vida familiar, sua forma de interpretar o mundo são características únicas. As experiências moldam as pessoas e como eles vão reagir nas mais diversas situações. Empacotar um solução igual, vender para todo mundo por trás de uma história bonita de superação e culpar aqueles que não conseguiram o resultado não é uma atitude do Justo Humano*.

É necessário prezar por aqueles que depositam em nós sua confiança, e é preciso se atentar em quem depositamos nossa confiança.

*Justo Humano é um termo do autor para designar seres humanos íntegros e éticos em suas condutas. Seres humanos responsáveis por sua ação de forma ecológica (família, empresa, sociedade, meio ambiente)

É tudo MIMIMIWhere stories live. Discover now