Gatos e caixas

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Notas iniciais:Fictober 2019.Dia 1: Caixa.Essa fic pode conter gatilhos de suicídio. Se você for sensível ao tema, por favor, não leia. Se mesmo assim estier curioso, vá até as notas finais onde tem um resumo bem simples do enredo.


Não há razão para viver. Era o que Sasuke pensava.

Tentaram convencê-lo do contrário ao longo dos anos; o que restou de seus familiares, seus médicos... Mas, racionalmente, nada o convencia. Entendia, de certa forma, porque as pessoas ficavam tão incomodadas com aquele vazio existencial que sentia, especialmente por ser um pessoa tão eloquente e articulada em suas poucas palavas: acabava por refutar qualquer tentativa que faziam de atribuir à existência um motivo e, por vezes, deixar outros na dúvida se o próprio argumento era tão válido quanto pensavam. Mas Sasuke já vivia há algum tempo daquela forma. Estava conformado.

Conformado demais.

Não havia tomado uma atitude antes por causa de seu irmão. Poupar o irmão mais velho do sofrimento de perder seu caçula, ainda mais depois de tudo que já haviam perdido, era o que guiava sua vida.

Até certo ponto.

Desde a morte trágica de sua família, em sua infância, não via sentido em nada. Porém, Itachi Uchiha fazia todo o possível e o impossível para cuidar de si. Sempre. O esforço heróico de seu irmão, seu sacrifício de deixar de lado o próprio sofrimento, para providenciar uma vida confortável e juntar todos os cacos do mais novo depois de todo aquele desastre, foi o alicerce daquela relação. Deixava ser cuidado, como parte do sentido de viver de itachi. Funcionou durante um tempo. Mas não dava mais.Tantos anos depois da tragédia, já adulto, observava o irmão deixando de lado tantas oportunidades para seguir cuidando de si. E, cada dia mais, sentia que não podia mais deixar aquilo acontecer.

Em sua mente parecia a hora certa.

Mas não queria preocupar ninguém, especialmente Itachi. Queria deixá-lo tranquilo, até o momento certo. Para não levantar suspeitas, disse para os outros aquilo que, dentre todas as possibilidades de sua mente analítica, parecia mais possível em sua mente deprimida: o sentido da vida estava no acaso. Não havia sentido prévio, e, sim, o que ainda estava por vir. Aquilo não era o suficiente para si, apesar de fazer sentido, não estava disposto a esperar o acaso; já tinha desistido. Mas as pessoas pareciam ter engolido e se preocuparam cada vez menos com sua saúde mental.

Sabia bem como as pessoas esperavam que ele agisse, como deveria ser sua melhora. Não era burro, apenas não tinha motivação própria. Terminou a faculdade, conseguiu um emprego e, depois de muita insistência, conseguiu que Itachi permitisse que morasse em seu próprio apartamento, sozinho. O irmão, ainda que relutante, lhe deu espaço. Aos poucos, Itachi tinha voltado a sair com os amigos; vez ou outra até ia a alguma festa.

Depois de todo aquele tempo, parecia que já estava na hora.

Respirou fundo.

Ficar em casa não era bom, então, naquele dia, resolveu sair. Quando reparou que já estava escuro, assustou-se, não percebeu que havia passado tanto tempo sem rumo com lembranças e pensamentos. Olhou em volta se localizando, tentando entender onde estava e como voltar. Ficar na rua muito tempo também não era bom. Na verdade, nada parecia bom para ele.
Uma caixa. Queria uma caixa.Por mais que não visse sentido real, para si mesmo, em preparar algo de despedida para Itachi, não queria que ele sentisse culpa alguma com sua decisão. Pensaria em algo que fosse o suficiente para transmitir essa ideia ao irmão. Quando, enfim, entendeu onde estava, percebeu-se longe de casa, o melhor, especialmente àquela hora, seria pegar um ônibus. Próximo à parada, por sorte, encontrou uma caixa média, de tamanho excelente para separar alguns pertences que queria deixar para Itachi junto com sua carta.

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