Camila

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Sentiu-se despertar mas não abriu os olhos, tateou a cama, estava sozinha, o que significava que Valéria já havia acordado. Ergueu-se, percorreu o ambiente com o olhar, e um pedaço de uma adorada cabeleireira ruiva preencheu sua visão. Sorriu instantaneamente. Relembrou os fatos da madrugada, piscou como se tudo passasse em flash's por suas pálpebras. Tivera um surto de tristeza, se assim pudesse nomear, então, como sempre acontecia Val correra em seu auxílio. Esta a ajudou, consolou e tentou animá-la, um gesto tão amoroso que não resistiu ao desejo de beijá-la. Desejo, sim, se dissesse que fora um impulso estaria mentindo, desejou beijá-la, desejava a certo tempo mas nunca haviam falado abertamente sobre a situação delas, e assim o tempo passou, ficando tudo em entrelinhas, pelo menos até essa madrugada.

Exploraram uma a outra com calma e delicadeza, experimentando e desfrutando de cada sensação. Nunca esqueceria o perfume da pele da ruiva, onde quer que beijasse ou cheirasse, um cheiro sutil que lembrava baunilha ocupava seu olfato. Decidiu que esse era seu cheiro favorito, entre todos do mundo, riu pelo nariz.

-Alguém acordou sorrindo! -A voz de Valéria lhe chamou a atenção. -Bom dia.

-Bom dia. -Sorriu. -Sim, dormi muito bem essa noite, pena que quando acordei estava sozinha na cama.

-É, realmente, uma pena você sozinha nessa cama. -Curvou-se sobre ela dando-lhe um beijo no rosto. -Mas eu estava arrumando as coisas para o nosso passeio de trem, agora só falta você se arrumar. -Falou animada.

-Mal posso esperar. -Se levantou da cama, passou pela ruiva e beijou-lhe o ombro. -Vai ser um ducha rápida, amiga... -Interrompeu a frase. -Val.

-Tudo bem, não tem problema. -Seu tom indicava que servia para ambas a situações. -Estou te esperando, se precisar estou aqui.

Ao adentrar ao banheiro tentou apagar a situação de horas atrás, quando Valéria a encontrou sentada no chão em um dos cantos do box, chorando. Resolveu que tomaria banho na banheira, o dia começaria bem com um banho ali. Escolheu um sais de banho aleatório, perfumou a água e manteve-se imersa. Seus pensamentos vagavam entre a sua felicidade de conhecer o mundo com alguém que ela sentia ter uma ligação inexplicável e a saudade de casa. Talvez a saudade tenha causado tamanho efeito em si, que de repente o cheiro do sais de banho parecia com o cheiro do cabelo de sua mãe, e seu coração apertou. O problema não era a saudade em si, mas a certeza de que sua família estava sofrendo por ela, pela ausência dela, sem uma explicação razoável, e isso a matava. Chorou, menos do que na noite anterior, mas não menos doído. Pensou também em Val, ela lhe chamara pra vir para a Europa com ela, uma viagem única e maravilhosa, e ela estava estragando o clima de tudo. Não era justo com ninguém, não estava sendo sincera com nenhum dos lados, nem com seus pais e nem com sua parceira. Parceira, achou esse termo mais adequado do que simplesmente amiga.

Não tardou a sair do banho e arrumar-se para pegar o trem que a levaria para um local que sempre sonhou. Val descia a escada ao seu lado alertando que precisavam ter pressa para não perderem o trem, porque queria que ela aproveitasse o lugar que sempre quis conhecer. E no peito de Camila aquilo foi o divisor de águas, a ruiva estava fazendo daquela viagem uma distração para que ela não sofresse com a saudade dos pais. E isso não era justo, Valéria deveria aproveitar a viagem dela, do jeito que ela quisesse, e não ter que ficar pisando em ovos porque a caçula da família Nasser estava com saudades de casa.

Parou tão abruptamente que ambas quase se chocaram, e disse que voltaria ao Brasil, explicou que ela não estava sendo justa com ninguém. A resposta da outra garota foi a mais apaixonada e surpreendente que já ouvira, pois segundo a ruiva a viagem só teria graça com ela, sem ela não valia a pena.

Sentiu-se culpada por atrapalhar os planos da viagem, mas a noite enquanto jantavam sorriu com tanta alegria, e Valéria parecia compartilhar da felicidade, e naquele instante entendeu: a amava. Não porque ela havia desistido da Europa para voltar à São Paulo, mas porque não consegueria mais viver sem ela, sem o seu humor cheio de deboche, a pele extremamente branca em contraste com o cabelo rubro. Tudo, simplesmente tudo.

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⏰ Última atualização: Oct 02, 2019 ⏰

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