A princípio, eclosão.
Sem um aviso prévio, milhares de fogos de artifício parecem emanar de mim no exato momento em que meus olhos se encontram com os dele.
Os atos, tão belos e simplórios em sua essência. A fala, tão sútil e agradável aos ouvidos. As carícias, tão afáveis e intencionadas... Tudo é dotado da mais perfeita perfeição, onde até o que sempre fora considerado errôneo é visto com bons olhos, pois o amor é cego e ele vai cegar você.
Milhares de obras de artes vindas da mais bela fonte de inspiração. Inúmeras madrugadas onde uma batalha árdua é travada contra o sono, buscando maneiras que não sejam versos facilmente ignoráveis para demonstrar o meu amor.
Um anseio pela chegada e o aborrecer que precede a partida. Um sorriso a cada olhar e o coração acelerado a cada beijo. A sensação de ascender com os abraços e a mística sensação de voar quando recebido o toque daquelas mãos.
As lágrimas choradas por medo de vê-lo partir.
As lágrimas choradas por cada vez que me culpei por sentir.
As lágrimas choradas: já sem motivo, mas sempre ali.E depois, incerteza. Um medo diferente toma conta: uma leve impressão de que algo há de se esgotar, a sensação de já não ter mais tanto a se sentir, tanto a se querer. Um pressentimento de que já não vai doer tanto se ele decidir partir. E então, o questionamento.
Será que eu realmente sinto? Ou esses pensamentos decorrem de uma alucinação? Eu devo estar louca! Eu o amo! Eu o amo muito! Eu o amo...
Eu te amo, meu amor. (Amo?)
Depois, a irritação. Remorso, rancor, dúvidas que voltam do passado como fantasmas saindo das paredes. Atos que parecem ter o exato intuito de te destruir. Conflito, uma guerra constante para ver quem melhor sabe ferir. Desavenças.
Frieza.
Uma conversa forçada, um carinho que dói. Uma proximidade que causa explosão - e quem dera fosse de maneira boa. Trocas de ofensas mascaradas com casualidade, um silêncio que faz com que todos meus órgãos internos se revirem porque, acima de tudo, eu odeio estar a deriva e odeio muito mais não ter uma resposta.
A diferença que há quando ele fala com outras pessoas e quando fala comigo. Como tudo para outros parece inócuo e bonito, enquanto para mim tudo é proibido e nocivo.
Como de um dia pro outro eu pareço ter me tornado mera casualidade, facilmente esquecida e substituída. Como seus esforços para estar com outras pessoas são sobressalentes a seus "esforços' para me encontrar, como você parece ter se acostumado comigo aqui, como se soubesse que de maneira alguma eu iria embora, de maneira alguma poderia partir.
Sua comodidade comigo faz eu me sentir tão insignificante e sozinha que dói. Corrói meus ossos e perturba meus pensamentos.
(O seu "eu te amo" é para enganar a mim ou a você?)
Os questionamentos e as paranóias...
Por que eu não posso usar seu celular?
Por que você esconde o que fala com ela?
Por que você faz tanta questão de estar lá?
Por que eles podem e eu não?
Por que a este horário?
Por que demora tanto?
Por que você não se esforça?
Por que eu me tornei menos pra você?
Por que você me odeia tanto?
Por quê?Coisas que eu nunca vou perguntar por mais que meu corpo formigue de tanto querer saber. Eu não preciso saber, e mesmo que precisasse, você não iria dizer, tampouco mudar. Você não vai mudar.
Nos machucamos conscientemente, gritamos nosso rancor a plenos pulmões e nos calamos quando mais há o que se dizer e o que se ouvir. A mágoa se cultiva, perdendo-se nos passos e ultrapassando o amor. A negligência para com a resolução e o prazer em nos odiarmos.
E assim, tudo se esvai. Lentamente, como as folhas das árvores caindo na transição do verão para o outono, que antecede a frieza do inverno. A primavera já passou, as flores murcharam e se transformaram em dores. As rosas morreram, o sol não aquece e tudo é frio e sem cor. Meus olhos já não brilham mais, meu coração aperta ao invés de acelerar, seu sorriso não é mais direcionado a mim e há muito tempo, mesmo contigo aqui, eu vivo só. Está acabado. O amor morreu.
Desde o excesso até a escassez.
(Eu não amo mais você.)
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O Amor de Um Escritor
PoetryApesar da solidão que me assola e da descomunal amargura que cresce dentre meus ossos, falar de amor ainda é algo que faço com maestria. Não como romancistas lunáticos e os jovens que acabaram de se encontrar com o doce gosto da paixão. Não, é claro...