O vampiro corria alucinado pelas ruas vazias e sujas da cidade; seu pulso disparado. Há segundos apenas havia sido atacado por, pelo menos, dez outros vampiros. Obviamente havia sido avisado de uma possível guerra, mas não deu muita importância ao fato. Depois de sua horrível falha, nada mais importava.
Magno estava ferido; gravemente ferido. Após matar e queimar os inimigos que enfrentara, perdeu tempo o suficiente para ouvir um outro grupo chegando. Ele certamente não sobreviveria. Porém, este grupo opositor poderia deixar seu corpo ao relento para os humanos descobrirem sua existência, e, não bastasse o mal que Magno já havia causado, ele não permitiria que outra catástrofe se abatesse sobre seu povo. Pela quantidade de sangue que já havia perdido – todo seu jantar derramado no chão, onde o confronto ocorrera – não lhe restava muito tempo. Se esconderia, se pudesse, e morreria em paz, longe do sol e do perigo de ser encontrado.
Debilitado, encontrou uma casa bem afastada, aparentemente abandonada – nenhum ruído era ouvido. Entrou e, exausto, se atirou no chão mesmo. Com a consciência se esvaindo junto a qualquer pensamento coerente, ele pensou ouvir barulhos. Imaginou que fosse o outro grupo opositor. Não conseguiu se mexer para lutar, seus membros estavam tão pesados quanto suas pálpebras. Um breve pavor perpassou sua espinha. O que aconteceria quando o vissem ali, desmaiado? Despedaçariam seu corpo? Queimariam? Ou apenas jogariam sua carcaça em uma esquina qualquer, como ele achava que fariam? Era difícil prever suas ações. Seus pais ficariam destroçados.
Como uma música distante, o vampiro ouviu uma voz aguda gritando algo ininteligível. Pôde escutar sons de batidas, rosnados, o som agourento de sangue pingando no chão. Um ploc que soou horrivelmente como uma cabeça decepada despencando de um pescoço aberto. Mais gritos. Semi acordado, Magno sentia-se em meio a um sonho ruim, um espiral de horror onde havia machados e monstros grasnando e rugindo, rindo de seus pecados e sua culpa. Não sabia o que estava em sua mente; o que era realidade.
De repente, um som molhado e uma ardência estalou em sua face.
Plaft!
Uma voz estridente soou.
Plaft!
Algo escorreu por sua bochecha em direção ao ouvido.
– Acorda! Pode acordar agora! Não vai morrer no chão onde estou dormindo! – Plaft!
A mente de Magno começou a desanuviar. Seus sentidos estavam mais claros, mas ainda não conseguia abrir os olhos. No entanto, confiou nos outros sentidos. Seus ouvidos captavam um batimento cardíaco frenético, nem um pouco parecido com os de um vampiro. Algo ainda gotejava, mas agora o príncipe conseguia ouvir o som tão alto como se estivesse ao seu lado. Havia cheiros. Seus sentidos enlouqueceram.
Morte.
Vampiro.
Podridão.
Sangue.
Sangue humano fresco e vivo, rico. Era floral e misturado com sujeira e suor, mas nem por isso menos apetitoso. Agora ele sentia a forma suave e pulsante sentada sobre seu quadril.Escutava o correr do vermelho pelas veias delicadas da mirrada criatura. Abriu um dos olhos com dificuldade e notou a silhueta. Estava certo. Era pequena. Deveria ser uma mulher, pelo tamanho e as curvas.
A humana continuava a agredir-lhe o rosto, mas quando viu que ele reagia, aproximou-se para ver se respirava direito. Grande erro.
Todos os instintos de Magno rugiram. O desejo de sobrevivência. O desejo por sangue. Aquele sangue. E inesperadamente, quando ela colocou o braço sobre seu peito para checar os batimentos, ele agarrou o membro esquelético dela e mordeu. Engoliu o jorro arterial com prazer, fazendo sons de sucção.
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Na noite
VampireA noite estava escura e a luz brilhava no céu. Para a maioria, haveria risos e música, uma ceia farta... mas não para Magno e Virgínia. Para eles, a noite seria brutal e sangrenta.