CAPÍTULO II.3

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   Quando Rosemary chegou, já era capaz de cumprimentá-la com um dos sorrisos que se acostumara a demonstrar, mesmo quando seu peito estava apertado por uma angústia profunda. 

Sua mãe ficou em Londres por várias semanas, e ficaria ainda mais se Belinda não insistisse para que voltasse para casa e para seus outros filhos. 

—É maravilhoso tê-la ao meu lado, mamãe. Mas sei que os meninos precisam de você mais do que eu. Afinal, estou melhorando dia a dia. 

—Graças a Deus!— a mãe concordou, sorrindo. 

—Vou ficar bem— ela assegurou— Não precisa se preocupar comigo. 

—Sabe que me preocupo— Rosemary retrucou com suavidade, fitando-a diretamente. Não haviam falado sobre Ricky, pois Belinda fugia do assunto, todas as vezes em que a mãe tentava mencioná-lo. —Você passou por um  grande decepção, querida...

—Não vamos falar sobre isso, mamãe— Belinda interrompeu-a, bruscamente. 

Rosemary suspirou, indignada: 

—Se é o que deseja... Belinda, por que não vai passar uma temporada conosco, depois que sair daqui? Sabe o quanto Jack e os meninos querem que vá para a Nova Zelândia. Todos ficaríamos tão felizes com sua presença! O que acha? 

Belinda hesitou, tentada pela ideia confortadora de estar junto da família, sentindo-se segura e protegida. No entanto, já se acostumara a sua vida em Londres, tomando as próprias decisões, tendo sua própria rotina. 

—Talvez mais tarde, mamãe—respondeu, afinal. — Adoraria ir, mas primeiro preciso me habituar de novo a minha vida.

Nas semanas seguintes, Belinda sentiu falta da companhia diária da mãe. Porém, começara o tratamento com um fisioterapeuta, afim de recuperar os músculos atrofiados e os dias eram ocupados e cansativos, impedindo-a de pensar ou de se sentir sozinha. 

Estava começando a compreender exatamente o que aqueles oito meses de inconsciência haviam feito a sua vida: não apenas perdera Ricky, como também seu emprego, embora a companhia de seguros se mostrasse disposta a lhe oferecer outro cargo. 

Além de tudo, estava sem moradia. O proprietário do apartamento que alugava surgira no hospital, certo dia, carregando um maço de flores e, com tristeza, informara-lhe que tivera de transferir o local para outra pessoa. 

- Não podia deixar o apartamento vazio, sem saber quando a senhorita voltaria - ele desculpara-se, embaraçado. - Bem, ninguém tinha certeza de quando a senhora recobraria a consciência...

Portanto, seu apartamento fora ocupado por outro inquilino e seus pertences, devidamente embalados, estavam guardados num depósito. 

Este fato demonstrou a Belinda que ninguém realmente esperava que ela se recobrasse do coma. Não fora somente Ricky quem a abandonara: parecia que o mundo todo havia desistido de esperar por ela. Isto foi um grande choque, que a fez sentir como se tivesse voltado de entre os mortos. 

- Você logo estará bem - a enfermeira Hay lhe assegurou, numa manhã, enquanto lhe massageava as pernas. - Espero que sua mãe tenha tomado providências para contratar um advogado. Você tem direito a uma indenização, não é? 

Aquilo não lhe havia ocorrido. Ficou olhando para a enfermeira, imaginando que sua mãe também não pensara em tal possibilidade.  Rosemary não mencionara nenhum seguro, nenhum advogado. 

- E, quando sair daqui, deverá ficar por um ou dois meses numa clínica para covalescentes - Hay prosseguiu - Terá bastante tempo para encontrar outro lugar para morar, e um novo emprego. 

Era primeira vez que Belinda ouvia falar em "clínica para covalescentes". 

- Quando vou poder sair do hostipal? - quis saber, e Hay lhe sorriu. 

- Está com pressa em nos deixar? - brincou, fingindo-se ofendida. - Na verdade, fico contente que esteja se sentindo tão bem que tenha vontade de ir embora. É um bom sinal. Mas acho que ainda pode demorar um pouco, pois seu tratamento fisioterápico está apenas na metade. Mesmo assim, já está começando a andar muito bem!

- E onde é esta clínica que mencionou? - Belinda insistiu. 

- Não sei para qual delas vão enviá-la, mas deve ser no interior; algum lugar bonito, cercado de árvores e ar puro. Afinal, todas são assim. Você fica um mês de observação e, ao mesmo tempo, tem uma espécie de férias. Deve compreender que, depois de um período tão longo no hospital, precisa ir se ajustando aos poucos à vida normal. 

- Para que isso aconteça, vou precisar de uma casa e um emprego! - ela lembrou.  

- Pare de se preocupar- a enfermeira recomendou. - Quando estiver melhor, terá muito tempo para resolver os problemas. Por enquanto, só precisa se concentrar em sua recuperação. 

Porém Belinda mal a ouvia. 

- Preciso encontrar um advogado - falou. - Não creio que mamãe tenha consultado alguém sobre meu acidente, e talvez você esteja certa... Posso ter direito a  uma indenização. Como faço para entrar em contato com um advogado? 

Hay parecia espantada com tanta determinação. 

- Não sei, Belinda. Mas não acha que deve esperar um pouco? Não pode estar se preocupando com estas coisas, agora. 

- Quando mais cedo eu entrar com um processo, melhor, não concorda? 

- Bem, talvez... Vou falar com a secretária da administração para que venha vê-la. Quem sabe ela pode ajudá-la. 

Belinda ficou satisfeita por começar a tomar providências em relação a sua vida, e se tranquilizou. Porém, naquela tarde, quando bateram à porta do seu quarto, não foi a secretária que entrou, como havia esperado, mas sim Vicent Garret... 


                                                                         CONTINUA

Bianca: As Mais Belas Histórias De AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora