Uma outra realidade

119 4 0
                                    

Em um dia frio de junho, às 6 horas da manhã, ela se foi, pegou uma mochila, colocou suas roupas, sua coragem. Amarrou, bem ao fundo, sua vontade de gritar e saiu. Não disse nada a ninguém, nem uma carta ou bilhete deixou. Se alguém soubesse o que ela pretendia, é provável que não permitissem ou a convencessem do contrário. Deste modo, caminhou pela única estrada de saída da cidade, não se permitiu olhar para trás. Talvez a coragem não fosse tanta e a fizesse recuar. Engoliu o choro, segurou as lágrimas. Já na autoestrada, pediu carona. Logo conseguiu. Quem não daria carona para a perfeição em beleza?
Um frio percorreu o seu estômago ao subir a escada do caminhão vermelho. Olhou em direção a sua cidade. A primeira lágrima escorreu. Escondeu-se em seu capuz. Precisava ser forte, buscava por algo e ali não estava, ela sabia.
A porta do caminhão foi travada, Juliete não esboça reação alguma, logo uma mão agarra a sua perna. A moça paralisou, nunca ninguém a tratou de tal modo. Um riso macabro ecoou... Ela emudeceu. Não foi criada para situações difíceis, acredito que nunca soube o que era medo, e provavelmente, emoções além das que buscava a espreitavam.
Faço uma pausa, queria não narrar o que passou... dizer que nunca aconteceu... ou que como o conto de fadas, ela encontrou bons homens. Homens normais, não precisava se quer serem anões e trabalharem em uma mina. Quanta decepção! Recuso-me a ser realista, sou o narrador, faço a arte da literatura! Tal qual , devo agir como tal. Espera? Eu criei a história da Juliete, fi-la como imaginei, beleza e bondade. Por que perdi o caminho, ela poderia ter vivido sempre em sua cidadezinha feliz...
Talvez eu devesse ser jornalista, já que terei que narrar algo tão realístico no cotidiano feminino. Dúvidas rondam meus pensamentos.
Caro leitor, a porta travou e o som horrível da voz daquele homem era tudo que nossa personagem ouviu, por pouco tempo, poderia dizer minutos. Desmaiou. Ao sair da redoma em que viveu toda sua vida, defrontou-se com uma realidade inimaginável. Passou por sua cabeça o desejo de tudo ser apenas um sonho, daqueles ruins que, às vezes, nos despertam à noite.
Fico devaneando, será que ela teve consciência pelo que sofreu, ou o desmaiar foi mais que um choque, foi a fuga da vida. Sinceramente, não desejo para qualquer ser-humano passar o trauma que a jovem Juliete viveu. Sim, viveu! É contraditório, injusto, revoltante... mas esses foram os últimos momentos dela. O mais triste era saber que nunca mais ninguém a veria, tornou-se apenas uma lembrança, da qual ninguém sabia como acabou, apenas sumiu. Até hoje, naquela cidadezinha, muitos se perguntam se ela realmente existiu ou se era um mero conto de fadas. Que você, leitor amigo, sabe que não teve um final feliz.

Quer continuar lendo? Saber como ficou a cidade com toda essa história? Faça a rolagem e vá para o Capítulo III.

Um conto nada de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora