Take My Heart

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14/05/2012

Está frio, por ironia do destino hoje o dia está terrível, como meu humor, como meus sentimentos. É desesperador pensar que estou com uma vida dentro de mim, uma vida que eu não pedi, eu não escolhi, e que estou sendo obrigada a não ter.

Minha cabeça gira em um turbilhão de pensamentos, me sinto uma assassina por fazer isso, mas o que eu vou fazer com uma criança aos 16 anos? Eu não sei nada sobre mim, como vou saber sobre alguém?
Ao mesmo tempo eu sinto tanto, porque eu já te sinto meu, sinto tanto por você fazer parte de mim, eu posso te tocar, posso sentir o pequeno caroço se formando toda vez que encosto na minha barriga.
Mas eu não posso ter você, meus pais me odeiam por isso, minha mãe diz que você vai acabar com a minha vida, meu pai não aceita que a filhinha dele foi capaz de te dar a maior decepção.

Entro na pequena clínica com os pés molhados, depois de toda chuva do caminho da escola até aqui, por sorte não são distantes um lugar do outro.
A atendente com cara de rabugenta, e cabelos presos usava um jaleco com um número bem menor que o dela, ela me analisou com o olhar de "mais uma coitada".

De toda forma, é assim que me sinto.

- Eu tenho um horário com o Dr. Scott.

Disse me aproximando

- É só preencher essa fixa e aguardar.

Logo abaixo do jaleco está escrito seu nome em letras pequenas.

Ruby.

Como eu daria um nome a alguém?

Ela me empurra a fixa e vou sentar no sofá próximo a recepção.

O ambiente é todo tão pesado, como se fosse... na verdade é um próprio matadouro, a pequena tv pendurada transimite o noticiário, as paredes ao redor exibem cartezes sobre doenças sexualmente transmissíveis, e sobre a importância do uso da camisinha.

Como eu pude ter sido tão burra.

Olho a fixa e começo a preencher todos os meus dados.

- Você está aqui sozinha querida?

Pergunta uma voz vindo do meu lado.

- Sim estou.

- Sabe que é preciso que alguém venha te buscar certo?

Ignorei ela e fui até a recepção onde a Ruby rabugenta estava.

- Com licença, é necessário um acompanhante?

- Sim, ou então nada de liberação para o procedimento.

Minhas pernas tremem, minhas mãos soam, eu não sei o que fazer, ninguém sabe que estou aqui, ninguém sabe que eu estou matando aula porque estou matando meu bebê.

Com as mãos tremendo ligo para a única pessoa que poderia pensar agora, não queria dizer isso dessa forma, nem nessas circunstâncias mas eu não tenho escolha.

Vou na agenda telefônica e procuro pelo seu número, no terceiro toque ele atende.

- Porque porra você não está na escola Olie? Você sabe que temos um acordo, se você for faltar você precisa avisar para que eu possa faltar também, é a lei da amizade, você não pode me jogar aqui para os cães sozinho.

Dispara meu amigo Tim ao telefone.

Somos melhores amigos desde sempre, nos conhecemos na escola de balé da minha mãe, quando tínhamos uns 5 anos e desde então nunca nos separamos, me sinto mal por ter mentido pra ele.

- Tim, eu preciso de você eu preciso que você venha o mais rápido que puder na Regent Street 5, na clínica do Dr. Scott, não faz perguntas só vem, eu expilco tudo aqui.

- Olie porque você está com essa voz de choro, o que está acontecendo, olha garota se você ti...

- Cala a boca e vem T, por favor.

Interrompi ele e desliguei a chamada.
Fui na recepção entreguei a fixa preenchida.

- Meu acompanhante está à caminho.

- Basta assinar aqui.

Indicou ela ao final da folha, e empurrou em minha direção um potinho laranja com dois comprimidos.

- Você precisa tomar esses comprimidos, são Misoprostol, e aguardar um momento, o doutor irá te chamar em alguns minutos.

Voltei a me sentar no sofá ao lado da mulher, ela estava me olhando com cara de pena, provavelmente por ver meus olhos lutando contra as lágrimas.

Já se passaram alguns minutos e Tim ainda não tinha chegado e estou com tanto medo, depois da idéia de contar a alguém eu preciso dele aqui mais do que antes quando eu sabia que tinha que fazer sozinha, eu preciso dele aqui para me dizer que eu não sou uma pessoa ruim por fazer isso.

- Olívia Collins.

A Ruby me chama após atender um telefonema, provavelmente do Dr. Scott

- Pode ir a sala do Dr Scott, é a terceira porta da esquerda.

Então eu levantei e caminhei em direção ao pequeno corredor.

Porque você não chegou antes Tim, agora eu estou indo, estou indo sozinha, ninguém pode me impedir agora Tim, a sala é gelada e o médico está sorrindo para mim, será que ele está tentando me mostrar que isso não é uma péssima situação, que uma garota de 16 anos sozinha em uma clínica de aborto não é uma péssima situação?
Ele está me falando coisas Tim, coisas que eu não entendo porque não ouço muito bem.

Eu só ouço o meu coração, eu só sinto o coração do meu bebê.

Estou deitando na maca depois de ter tirado minhas roupas, está tão fria Tim, estou com vergonha, eu me sinto incapaz.

E ainda eu só ouço meu coração, e só sinto o coração do meu bebê.

Ele pede que eu abra as pernas e então joga algo gelado na minha barriga.

Agora eu também consigo ouvir o coração do meu bebê.

Porfavor Tim vem depressa, não me deixa fazer isso, não deixa ele tirar meu bebê de mim.

Ele coloca algo entre minhas pernas, eu eu sinto um incômodo, eu sinto puxar, eu sinto puxar meu bebê de mim Tim, eu sinto dor na minha barriga mas principalmente, sinto uma dor no meu coração.

Eu ainda ouço meu coração, mas agora eu não sinto mais nada.

TAKE MY HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora