Prológo

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     Sob a selva de concreto da cidade que nunca dorme, lá estava Carly. Um pouco atrasada como já era de costume. Atravessava a rua para entrar no prédio da Brain Clinic. Quase derrubou seu copo de cappuccino — sobremesa após o almoço — quando esbarrou em um homem, murmurou apenas um "desculpe" e atravessou as portas do prédio imponente onde ficava localizado seu consultório.

    Sua vizinhança dizia que Carly era uma mulher difícil. Talvez fechada se encaixasse melhor. Ela apenas não era aberta a qualquer tipo de contato entre duas pessoas que não fosse o profissional. Mas não a culpo, os traumas do passado a fizeram assim! Ela sabia que aquilo não era correto, mas já vivia daquela forma desde que se mudara do Brasil para Nova York a 17 anos, e não pensava em mudar isso tão cedo.

— Boa tarde, Treena! — Carly cumprimenta sua secretária. Sim, ela tinha uma secretária. Mas como Carly deixou claro no dia da entrevista: não estava aberta a ser sua amiga e o contato entre elas seria apenas o profissional.

Mas que mulher: louca, rabugenta, antipática!

Vocês devem estar pensando. Mas eu juro de dedinho que Carly era um amor de pessoa e muito simpática. E eu posso provar!

— Bom tarde, Della! Vamos? — Cumprimenta uma senhora que estava sentada na recepção. — Como está minha paciente preferida? — fala se sentando em sua cadeira.

— Estou bem! Vim apenas trazer uma coisa para você espero que goste. — A senhorinha de 75 anos e meio, como a mesma sempre gostava de pontuar cada mês a mais que completava, pegou um pacote da sua bolsa e entregou para a psicóloga. — Fui eu mesma quem os fez.

Assim que Carly abriu o pacote sentiu o cheiro. Eram biscoitos de canela, os seus preferidos, apesar de ninguém saber disso.

— É muita gentileza da sua parte, Della. Aposto que ficarão ótimos com um bom chá, quer me acompanhar?

— Não, não. Eu vim apenas trazer os biscoitos, vou fazer uma viagem não posso demorar aqui.

— Uma viagem? — Pergunta a psicóloga curiosa.

— Sim! Vou viajar com um grupo para Miami para fazer passeios turísticos. Vamos visitar o Jardim Botânico e o Vizcaya. — Ela sorri.

— Fico muito feliz que esteja saindo, Della. Ainda tem muito da vida para aproveitar. Espero que se divirta muito e volte aqui com boas histórias para me contar.

— Vai ser só um bando de velhos olhando prédios e coisas velhas, mas espero que eu tenha um pouco de diversão. Ficar naquela casa sozinha já não me faz bem. — Ela se levanta. — Até mais, menina Carly.

Carly apenas acena e procura sua agenda para chamar o próximo paciente.

Eu disse! Uma pessoa que ganha biscoitos de uma senhorinha só pode ser uma boa pessoa.

°°°

Mais cedo e não muito distante dali, na sede do FBI, Toby levava mais uma bronca. Já era a quinta só essa semana e ainda estávamos na quarta-feira.

— A sua falta de foco poderia ter nos levado a morte! — Reclama o Diretor Assistente Karl.

— Mas não levou, e eu o agradeço por isso. Sinto muito, prometo que não vai se repetir. — Toby completou quando viu que a expressão no rosto do seu amigo não era das melhores.

— Não realmente não vai se repetir por que eu estou lhe dando um afastamento de um mês para que possa se tratar. E eu não aceito "não" como resposta.

— Ok! Eu sei que a nossa amizade não pode interferir nas suas decisões como diretor, mas me permita voltar antes do prazo caso eu melhore. Eu sonhei muito para estar aqui, e você sabe, não posso largar tão fácil.

— Não pense que estou te castigando, pois não estou. Não estou fazendo isso apesar de ser seu amigo, estou fazendo porque sou seu amigo! Melhore Toby, por você! — Toby apenas assentiu balançando a cabeça. — Vou te indicar uma psicóloga que conheço. Ela é a melhor de NY, tenho certeza que ela te ajudará. — Karl entregou um papel com algo escrito ao agente especial.

— A melhor? Então duvido que tenha alguma vaga em aberto para uma consulta comigo nos próximos... O que?... Um ano? — Toby riu sem animo. Antes achava que um mês era muito, agora constatou que estava muito errado quanto a isso.

— Se vire Toby! — E assim saiu da sala.

O Agente Especial olhou pela primeira vez o papel que recebeu.

Dra. Carly Richmond.

Psicóloga

(212) 0102-0304

Ainda são 10h00min p.m. dá tempo de ir em casa tomar um banho e esperar ela sair no horário de almoço. — Pensou ele.

E já pensando em sua volta, por fim, saiu do prédio.

°°°

— Este foi o último paciente, Doutora! — Fala Treena adentrando o consultório.

— Ok! Estou só arrumando as minhas coisas e estou indo para fecharmos.

Pouco tempo depois Carly escuta gritos lá fora e quando estava prestes a se levantar para averiguar o que tinha acontecido sua sala é invadida por um homem que ela não conhecia e Treena logo atrás dele gritando.

— Parem! — Carly grita e os dois ficam em silêncio — O que está acontecendo aqui? — pergunta a psicóloga aos invasores.

No minuto seguinte Carly se arrependeu de ter perguntado, pois a gritaria começou novamente.

— Calados! — gritou mais uma vez. — O senhor pode se retirar por um instante? Daqui a pouco eu lhe chamo.

— Treena quem é esse homem? — Carly perguntou assim que o estranho saiu pela porta.

— Eu não sei Dra. Ele entrou aqui exaltado e disse que queria uma consulta, eu avisei que só abríamos consulta de emergência para pacientes que já estão em acompanhamento, mas ele insistiu e invadiu seu consultório. Vou chamar a segurança. — a secretária fala pegando o telefone.

— Não é preciso, Treena. Eu vou atender quem quer que ele seja. Pode ir embora e peça pra ele entrar.

Treena saiu contrariada.

A psicóloga só podia estar louca de atender um homem que ela não conhecia, ainda mais no estado em que ele havia chegado ali. Decidiu que seguiria a ordem da chefa, mas ainda sim avisaria aos seguranças para ficarem de olho. Mesmo que Carly não fosse a patroa mais simpática ela não poderia deixar de se preocupar.

— A Dra. Permitiu sua entrada, Senhor...?

— Toby. Pode me chamar de Toby. 


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Espero que tenham gostado! 

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Dra. Carly - O Reencontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora