Capítulo 8: Feridas

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A Fera, já em seus aposentos, encarava a rosa suspensa na redoma de vidro, tentando recordar o que havia acontecido naquele dia. As memórias confusas apenas permitiam que ele tivesse rápido vislumbre do ocorrido.

Uma multidão agitada, era dia de baile no castelo, mas o jovem não parecia tão animado assim como seu pai, um homem cruel, arrogante e corpulento que, mesmo após a morte de sua esposa ter sido algo tão recente, não se absteve e resolveu dar um baile com a desculpa esfarrapada de ''preencher'' o vazio que havia em seu coração.

- Mas o pior vazio não é o fato da sua rainha ter morrido, e sim o fato de você nunca ter merecido tal amor. - disse uma senhora de capuz. Destacando-se da multidão de nobre arrogantes, seu manto longo estava deteriorado, o que chamou a atenção do jovem príncipe.

- Cuide disso meu filho, mostre-me o que eu lhe ensinei... Como este tipo de gente deve ser tratado! – disse o homem com uma de suas enormes mãos sobre o ombro do jovem, apertando-o.

O jovem engoliu seco e seguiu até a mulher.

- Retire-se do castelo imediatamente! Olhe bem... – fez uma pausa enquanto apontava para o vasto salão de festas – você não pertence a este lugar!

A senhora então caminhou devagar até o garoto. Agora segurando suas mãos, ela lhe pediu para que deixasse ficar, lhe desse um pão, pois estava faminta. O garoto fez uma expressão levemente triste, mas ao olhar para trás viu os olhos furiosos de um animal do rei. Rapidamente se livrou da mão da senhora e a empurrou. Já caída, ele a ridicularizou na frente de todos os presentes.

Um apagão tomou conta e Fera não conseguia lembrar-se quem era a mulher. Só recorda de uma voz em sua cabeça sobre uma maldição que só poderia ser quebrada quando ele aprendesse a amar e fosse correspondido. Ele soltou um longo suspiro. Seu pai tentou de tudo para quebrar o feitiço, mas com o tempo ficou doente e faleceu. Morreu de desgosto por ver seu primogênito numa forma monstruosa daquela.

O castelo foi esquecido por todos e o jovem agora não conseguia olhar-se no espelho, enojado com sua aparência horrenda.

Ele ouviu alguns cochichos pelo corredor perto da porta de seu quarto, então se virou para a porta.

- Posso ouvir vocês, entrem. Ela não está aqui. – Chamou.

Quase de imediato, um candelabro, um relógio, uma chaleira, uma xícara e um espanador entraram cuidadosamente.

- Senhor... - a chaleira começou – Eu não sinto que esta garota possa quebrar a maldição, mas sinto algo toda vez que a vejo perambulando pelo castelo. Não sei como explicar...

- Não podemos perder essa chance, talvez seja nossa última desde que... - antes que Lumière pudesse terminar, a Fera deu um rugido que fez todos estremecerem.

- Lumière, você sabe que não podemos mencionar o nome dela... - advertiu Horloge, dirigindo-se ao candelabro.

- Ela parecia ser diferente... Eu queria fazer amizade com ela. - disse Zip, a pequena xícara que olhava a Fera com tristeza. Sua mãe não podia vê-lo assim, partia seu coração saber que seu único filho foi pego pela maldição ainda tão novo e mal tinha lembranças dos tempos em que era humano.

- Escute, nós não nos aproximamos dela pois você pediu, mestre. Agora me diga, por que? Você não ama aquela garota! Colocou a marca nela com a falsa esperança de alimentar sentimentos que não possui, pois não consegue esquecer Bela. – a voz de Madame Samovar ecoou pelo cômodo, fazendo com que as amargas lembranças retornassem na mente de Fera, que grunhiu com a dor em seu coração.

A Bela e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora